CAPÍTULO 53

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Elizabeth.


Nos continuamos lá paradas apenas no calor dos braços uma da outra.

— Minha Elizabeth, meu doce bebê.

Eu queria esse conforto, por mais que já tivesse se passado tantos anos, eu queria, ainda precisava dos abraços da minha mãe, de suas palavras doces e sorrisos gentis.

— Me desculpe, me desculpe por não estar lá quando você precisava de mim, me perdoe querida, me perdoe.

Eu realmente podia perdoar a minha mãe? Foi tantos anos presa a esse sentimento de culpa e remoso que é difícil deixar ir embora, de como ela ignorou o fato do meu sofrimento, de como todos me deixaram sozinha, como se estivem me culpando em silêncio. As brigas depois disso, o meu pai gritando com a minha mãe, ela perdendo completamente a razão enquanto ele não fazia nada além de nos abandonar, de como minha mãe se afundou e tentou se matar naquele lago.

— Eu não vou deixar você, querida. Eu prometo.

Me afastei dela, com as lágrimas sob controle, eu queria verdadeiramente perdoá-la, mas algo me impedia, talvez todo o sofrimento guardado nesses últimos vinte anos.

Ela beijou minha testa com carinho, como era possível mesmo depois de tanto tempo eu ainda desejar gestos de afetos como aquele.

— Naquela noite no lago. — Ela começou. — Você se lembra de alguma coisa?

Balancei a cabeça.

— Não muito. — Minha voz saiu muito baixa, como se estivesse procurando forças para sair.

Ela afastou uma mecha rebelde do meu rosto, colocando atrás da minha orelha.

— Naquela noite eu realmente queria desistir. Não havia mais motivos para viver, eu amava tanto o seu pai Liz e ele simplesmente foi embora. — Lágrimas de arrependimentos desciam pelos seus olhos. — Eu queria morrer, mas quando eu vi você correndo na minha direção, você chorava, me dizia que estava com medo para que eu não fosse embora como o seu pai...

Prestei atenção em cada uma de suas palavras segundo o choro.

— Você entrou na agua. Foi ali que o percebi que eu tinha vocês, eu não podia deixá-los também, você e os seus irmãos foram minha âncora, vocês não me deixaram afundar. Você me salvou naquele dia meu amor, por isso eu lhe peço. — Ela respirou fundo. — Me deixei salvá-la também, por favor.


.


 Não sei quando tempo já tinha se passado, mas já estava no final do dia.

Ali ficou ali comigo sentada no sofá com minha cabeça sobre o seu colo, ela não fez perguntas ou me questionou sobre nada, apenas ficamos ali com ela me confortando, acariciando meus cabelos.

 Parecia que grande parte de dor havia sumido, como se eu tivesse me livrado dela, me pergunto se as coisas teriam sido diferentes se tivessem feito isso antes, se ela tivesse me confortado como uma mãe teria feito.

 Quando minha avó veio socorrer a minha mãe logo após ela cair da escada, eu conseguia ouvir ela chamando o meu nome, mas eu não conseguia me mover, era como se eu estivesse presa na minha própria mente e quando havia chegado a notícia que minha mãe havia perdido o bebê foi um abalo para todos, na época eu não entendia, mas o casamento dos meus pais estava por um fio e aquele bebê era a chance de ambos recomeçarem.

Porém, eu acreditava ter tirado isso deles, eu acreditava que se não tivesse existido para a minha mãe brincar comigo no andar de cima, ela não teria caído da escada e estaria tudo bem, mas ninguém nunca me disse isso.

 Ninguém nunca me abraçou e ao menos disse 'Não é sua culpa', ninguém ao menos se importou, todos olhavam para mim com pena e horar 'Coitadinha, ela viu a mãe cair', era única coisa que diziam.

 E quando a minha mãe ficou doente, tudo ficou pior. Eu conseguia ouvir seus gritos todas as noites no meu quarto, o vovô não nos deixava vê-la, apenas falava que ela estava doente e já já iria melhor, mas eu sabia que ele mentia, eu sabia que ela estava assim por ter caído da escada e perdido a única felicidade do meu pai. Por muito tempo eu me culpei por isso, mas agora vejo que não era culpa de ninguém, as circunstâncias levou tudo aquilo.

 Esse é o meu medo, eu entendo o que a minha mãe sentiu, eu também perdi o meu filho, o meu bebê que nem tive a chance de segurar em meus braços. Eu me perguntava quando tempo levaria para Jack me virar as costas como o meu pai fez? Quando tempo até que eu ficasse como a minha mãe ficou? Eram medos que agora eu nem sequer tinha certeza de que poderiam acontecer.

 Se eu tivesse contado desde o inicial, sofreríamos juntos ou repetiríamos a história mais uma vez?

— Você sente saudades dele? — Ela perguntou.

Eu sabia que ela não se referia ao Jack.

— No momento até o final que soube de sua existência eu o amei mais do que a mim mesma. Eu sinto saudade do meu bebê que não conhecia.

Eu queria chorar, mas já não havia mais lágrimas para isso.

— Eu amei todos vocês assim que soube da existência de cada um, acho que é algo que uma mãe sente, o seu mundo ganha cor.

— Como você lindou com isso? — Perguntei. — Como lidou com a dor de perder algo valioso para você?

 Queria que existisse algum manual que nos preparassem para isso. Na noite que tudo aconteceu, eu nunca sentir um vazio tão grande no peito, era uma dor sem fim, a dor e a tristeza andavam juntos sabendo que eu nunca poderia conhecer o meu filho, sabendo que eu não sentiria o seu cheiro ao a maciez do seu cabelo, sabendo que não veria os primeiros passos dele.

— Não há como lidar com isso, não há como esquecer. — Ela falou. — Mas há como seguir em frente, nada dói mais do que perder um filho, mas me dá esperança saber que vou reencontrá-lo um dia, que vou poder segurá-lo em meus braços. — Ela acariciou os meu cabelos. — Ele foi seu minha querida, mesmo que por pouco tempo ele se sentiu amado e tenho certeza que ele está ansioso para conhecê-la, mas até lá sei que ele quer que você viva feliz e eu tbm.

 O seu carinho me fez adormecer, pela primeira vez nessas últimas semanas eu pude dormir calmamente.

Eu meus sonhos, eu estava em uma campo de girassóis, para qualquer lugar que eu olhasse havia girassóis, era tão bonito. O vestido azul que eu usava se destacava naquele imenso mar amarelo. 

Caminhei sentindo a maciez das pétalas ao tocá-las, aquilo era perfeito. Mais a frente havia uma grande árvore, um belo carvalho branco. Me aproximei e fiquei surpresa ao ver um menino sair de trás das árvores, ele sorria para mim, um sorriso bem travesso.

Ele tinha pele clara e cabelos cacheados, seus olhos cor de âmbar, similares aos de Jack. Ele não falou nada, apenas gargalhou e pude ver que ele possuía covinhas, lindas covinhas.

 Ele acenou para mim como se fosse um até logo, antes de desaparecer.

Acordei sentindo lágrimas escorrem pelos meus olhos, eu estava sozinha no sofá e havia um cobertor sobre mim.

O sonho.

Finalmente eu tinha entendo. Ele estava me esperando e esperaria o tempo que fosse necessário. Meu filho, a sua mãe deseja ser feliz.

Continua...


Sinceramente, chorei e tá tudo bem. Vamos galera mulheres, falta pouco para o livro alcançar 300k




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