Luísa sempre foi uma pessoa dos bastidores. Além de trabalhar por trás das câmeras envolvida em entrevistas, coletivas de imprensa e zonas mistas, também é alguém invisível.
Acostumada a não ser vista, a garota desconta todas as suas frustrações em...
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QUATRO ANOS DEPOIS.
—Mamá!
Por pouco não caio enquanto Mavi se joga sobre minhas pernas.
—¿Puedo jugar lá fora? (posso brincar lá fora?) — Ela mistura os idiomas de um jeito fofo que só ela consegue. Tá aprendendo a montar frases mais complexas agora e as idas e vindas entre o Brasil e o Uruguai ainda confundem seu idioma.
—No, cariño — Me abaixei e tirei a franja que caia em frente ao seus olhos.
Ela faz bico. Simplesmente idêntico ao do pai, sem tirar nem pôr. Isso aquece meu coração, me faz abrir um sorriso enorme.
—Sem bico. Você já é mocinha, lembra? — Balancei o indicador em seu lábio inferior, fazendo o bico se desfazer.
—¿Dónde está papá? (cadê o papai?)
—Estoy acá (tô aqui) — Ele aparece do corredor carregando a caixa imensa com a árvore de Natal que vamos montar.
—Papá! ¿Puedo jugar lá fora? — Larga minhas pernas e corre até as dele.
Olha que menina esperta! Viu que não deixei e agora vai jogar todo charme em cima do pai. E é bem capaz dele deixar, já que é completamente apaixonado pela filha.
—¿Ya preguntaste a mamá? (já perguntou pra mamãe?) — Ele quer saber, pousando a caixa com a árvore pertinho do meus pés e abaixando pra conversar com a garota.
A pergunta dele me faz segurar uma risada.
Mal de homem, né? Medo de se encrencar com a mulher.
—Mamá no deixô — Mavi fez bico de novo, que Joaco desfaz exatamente no mesmo jeito que eu — Ella és chata.
—María! — Soltei uma risada — Escuta... Você lembra que passamos o Natal ano passado lá na casa da vovó? — Perguntei. Ela assentiu e Joaco acha uma boa sentar no carpete — Esse ano as duas vovós vão vir aqui pra casa, elas chegam amanhã e a gente precisa que a nossa árvore esteja montada pra elas encherem de presentes pra você. Então você não pode ir brincar lá fora hoje, tá bom?
—Mas soy pequeña, ¿no pode montar só con papá? (mas eu sou pequeno, você não pode montar sozinha com o papai?) — Os olhinhos dela brilham.
Até hoje tento entender de quem foi que ela pegou essa mania de argumentar tão bem. Três anos, cara. Ela fala melhor que eu às vezes.
—No, mi amor — O "papá" diz, colocando-a no colo. Meus olhos o analisam por completo, o moletom preto, os lábios finos entreabertos enquanto encara a menina — Escuchame... — Ele faz como eu e afasta a franja que insiste em ficar na frente dos olhinhos dela — Podrás jugar afuera muchos días, pero sólo podremos poner un árbol de Navidad una vez al año. ¿Querrás perder? (Você vai poder brincar lá fora muitos dias, mas só podemos montar uma árvore de Natal uma vez no ano. Vai querer perder?)
