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As ruas do Reino de Era uma vez estavam movimentadas, as pessoas iam e vinham a todo momento. Era mais um dia como qualquer outro, nada estava diferente ou fora do comum, mas nesse dia tudo ia mudar.

Toyu, juntamente com Fadinha, caminhava com dificuldade entre a plebe e os viajantes. Haviam tendas nos dois lados da rua.

“Era uma vez” é um reino muito rico e próspero, sem dúvida o maior reino do Mundo encantado. É até difícil reconhecer isso devido ao fato dele se localizar em meio a uma planície desértica. Ou seja, não havia fazendas ou plantações por perto. Agora eu te pergunto: como este reino tão imenso e movimentado pode ser o Reino mais rico e próspero?

A resposta é bem simples: o Reino de Era uma vez recebe centenas de visitantes a cada estágio da lua, a maioria desses visitantes são viajantes cansados sedentos por água e comida, dessa forma, “Era uma vez” investe em mercadorias para essas pessoas, transformando o reino em um lugar para eles descansarem e se abastecerem com suprimentos.

Mas há outro motivo ainda mais simples: “Era uma vez” foi um dos primeiros reinos a serem fundados, por isso é o maior de todos os outros.

Todos os cidadãos conhecem a antiga história desse reino e dos dois irmãos que assim criaram não só “Era uma vez”, mas também o Reino de Felizes para sempre. Essa é uma história muito interessante e que um dia eu gostaria de contar, mas esse ainda não é o momento. Por enquanto, vamos voltar ao nosso herói e protagonista, Toyu.

Ora, Toyu aparentemente é só um garoto comum da plebe, mas não é. Como todo protagonista tem algo que o faz ser o protagonista, o faz ser diferente dos outros personagens, com ele não seria diferente.

Antes de seguirmos com essa história, gostaria de dar um resumo sobre a vida dele.

Bom, Toyu não nasceu no Reino de Era uma vez, e sim no Reino de Felizes para sempre. Ele tinha uma família comum: mãe, pai e um irmão mais velho, só que tudo acabou na Segunda guerra encantada, isso há oito anos atrás, quando nosso protagonista tinha apenas sete anos. Não quero me aprofundar muito no motivo da guerra acontecer ou quem guerreava com quem, o mais importante agora é: “Felizes para sempre” foi atacada. Acho que vocês já devem saber o que aconteceu: a família toda de Toyu foi morta, só sobrou ele.

Pobre Toyu, tão pequeno e fraco, mas ainda cheio de sonhos. Ele correu para onde seu destino quisesse, e o destino dele o levou até o Bosque encantado, onde algumas coisas aconteceram até seus doze anos, tais coisas prefiro não contar por agora.

Mas ele possui mais do que uma história trágica de um protagonista, ah se possui. Como vocês perceberam até agora, nossa história se passa em um mundo chamado Mundo encantado, nossa história trata de lendas conhecidas e como acho que vocês raciocinaram, esta narração guarda muitos segredos e histórias antigas. O que eu quero dizer é que nesse nosso mundo a magia existe, e ela age de diferentes formas.

Quando eu digo magia eu quero dizer todas elas, sejam a magia celestial, magia negra, magia das fadas ou então as pequenas magias que dão um certo poder para algumas pessoas, como: controlar algum elemento, ficar invisível e entre outros poderes, essa magia não tem um nome em específico, mas os habitantes comuns a chamam de “Kategirí”. Eu sei, não é um nome tão legal, mas foram os próprios habitantes do Mundo encantado que deram o nome.

Então fica óbvio que Toyu possui magia, mas não é nenhuma dessas que eu citei, afinal, ele é o protagonista e precisa se destacar.

Você deve estar se perguntando: então qual é o tipo de magia que ele tem? Bom, isso nem ele sabe direito. Mas o que ele sabe, porque uma pessoa muito especial disse, é que essa magia é diferente de todas as outras, o nome dela é Santa Rossa. Você verá ela em ação mais para frente, já que por enquanto não há necessidade.

Mas voltando para Toyu e Fadinha que andavam nas ruas movimentadas de Era uma vez, já que enrolamos demais, ele carregava uma sacola com um pouco de comida dentro.

Ainda estava cedo, mas Toyu não era preguiçoso ao ponto de passar fome, se tem uma coisa que o garoto mais gosta do que dormir e ficar sem fazer nada é comer.

Certo, falamos do nosso protagonista, mas não podemos nos esquecer de sua fiel acompanhante e conselheira: Fadinha. Eu sei, esse nome é bem ruim, mas não é um nome, é um apelido que Toyu deu pra ela. Ele achou o nome dela bem complicado de falar, então decidiu apelida-la de Fadinha. E se você estiver se perguntando se ela é um fada, acertou. Ela é uma linda fada, tão pequena que é capaz de sentar na palma de Toyu.

Vou descreve-la para que você possa imaginar o quão bela ela é: começando por seus cabelos: eles eram brancos, mas acho que isso se dava pela magia, eles estavam amarrados em um coque. Seus olhos eram verdes, assim como seu vestido cintilante, parecia que Fadinha o banhara em glitter. Ela tinha duas asas transparentes e sempre andava, ou melhor, voava descalça.

Mas o que uma fada faz com um garoto órfão, e uma coisa que eu deixei de citar: sujo, acabado e todo maltrapilho? É que eles fizeram algo com um pacto, mas prefiro não usar essa palavra, prefiro usar o termo contrato.

Um dia, no Bosque encantado, Toyu salvou Fadinha de ser capturada por um caçador. Ora, caçadores, um dos piores inimigos das fadas. Elas sofrem tanto para protegerem a natureza e a manterem em ordem até que esses homens cheguem e comecem a matar animais e até cortar árvores. Mas o pior é que eles caçam as fadas para venderem o famoso pó mágico. Não pense besteira por favor, o pó mágico é capaz de curar quase todas as doenças conhecidas no Mundo encantado além de servirem para jardinagem, já que faziam plantas e flores crescerem absurdamente rápidas e lindas. Só que há um problema nisso tudo, na verdade são dois: primeiro: as fadas possuem uma quantidade limitada e se o pó mágico acabar, a magia delas acaba, elas perdem suas asas e na pior das hipóteses, são tomadas por uma tristeza tão profunda que as fazem desaparecer e serem esquecidas. Mas tem como ficar pior, ah se tem. Se elas não desaparecerem e decidirem continuar vivendo, as fadas já sem magia recorrem à magia negra. E não queiram saber o que acontece com as fadas que possuem magia negra. A segunda consequência do contrabando de pó mágico é que muitas vezes são vendidos para bandidos perigosos, ou seja, isso fortalece gangues de bandidos e até de piratas.

Voltando novamente para Toyu, ele por não ter mais pais, não tinha onde morar. Por isso ele vivia em um alojamento imundo que se localiza em um beco escuro.

Mesmo o alojamento sendo bem ruim, o garoto moreno de cabelos castanhos e bagunçados não tinha dinheiro suficiente para pagar as noites que dormia lá. Por isso fazia alguns trabalhos para o dono do lugar.

O dono do alojamento era um cara bem peculiar, se você ignorar a cicatriz perto da boca, o olhar sério e o rosto sério dele, ele parecia um cara legal.

Mas para você ver o quão gente boa era Toyu, ele não ligava para isso. não, ele não ligava para a aparência das pessoas, nunca julgava  um livro pela capa, diferente de muitas pessoas por aí... espero que você não faça isso.

O garoto não via maldade em Darryl, ele tratava o homem como um amigo, afinal, nossa, o cara deixa eu dormir no alojamento totalmente imundo e sujo, sem nenhum saneamento básico, desde que eu trabalhe para ele, que cara legal.

Mas se você estiver apoiando o homem e a opinião de Toyu, então eu devo explicar para você quais são os trabalhos que ele tem que fazer. Não é limpar os vasos sanitários que mal possuem descarga, afinal, por mais nojento que fosse, esse serviço é digno e legal (quando digo legal é da parte permitida pela lei, não dá parte em que fosse divertido), diferente dos “trabalhinhos” de Toyu, que se resumiam a preparar cargas contrabandeadas, vigiar soldados e levar os produtos roubados para determinados lugares.

E a pior parte, Toyu nem reparava que cometia um crime, por mais que Fadinha avisasse: Toyu, isso é ilegal, você vai acabar se metendo em problemas.

Que nada, Fadinha. Pode ficar tranquila, era o que ele vivia dizendo. O garoto só perceberia que o que ele fazia era errado quando fosse muito óbvio, tipo matar ou roubar alguém. Mas desde que não passasse de levar o que achava serem apenas mercadorias comuns para alguns outros reinos, ele jamais suspeitaria.

Só peço para não o chamarem de burro ou idiota, infelizmente, algumas pessoas não possuem consciência para separar o que é certo ou errado. Podemos dizer que mesmo que Toyu esteja prestes a completar quinze anos daqui alguns dias, ele ainda pensa como uma criança de oito anos, a mesma idade de quando fugiu para o Bosque encantado.

Voltando para o presente, onde agora nosso protagonista estava em seu quarto no alojamento, novamente reforçando que o lugar era imundo, mas o quarto em especial era o pior do lugar. O ambiente era tão úmido que o teto pingava gotas de água constantemente, em dias de chuva, nem baldes resolviam o problema. O chão de madeira inundava e a única fonte de luz era uma lâmpada fraca que simplesmente não pegava quando a água invadia o local. E fica pior, já que não havia janela alguma e a madeira do chão, do teto e das paredes cujos papéis já desbotados e rasgados estavam podres. É até um milagre tudo não desabar.

Toyu estava sentado na cama de casal, onde o edredom estava sujo com manchas verdes e vermelhas, o cheiro de molho de tomate estragado invadia o local, mas o garoto não ligava.

Abrindo a sacola com alguns pães e uma garrafa de suco de laranja, seus olhos castanhos brilharam e sua barriga roncava.

Fadinha por outro lado, mesmo que tudo em sua volta estivesse sujo e acabado, estava deslumbrante, como uma fada deve ser. Com suas mãos minúsculas ela pega um pequeno pedaço de pão que Toyu ofereceu. Dessa forma, os dois tomam o café da manhã.

Até agora o dia estava mais que bom, mas ainda estava para piorar, ou se estava.

¢

M

eio-dia, guarde este horário.

 O sol estava gigante no céu e “Era uma vez” estava em um calor insuportável. Mas não era pra menos, já que ao redor havia uma planície desértica.

 Não era um deserto, mas uma planície desértica. Não havia deserto no Mundo encantado. O Vale encantado era o único lugar onde só havia algumas plantas baixas e rasteiras, o chão era formado por pedras de areia vermelha. Mas tudo aquilo não impedia que uma pequena área com árvores de grande e médio porte existisse. O famoso Bosque da Rainha. Esse era o nome do bosque porque há muito tempo uma rainha que ninguém sabe o nome adorava esse lugar, então nada melhor do que homenagear essa rainha desconhecida.

 Calma que esse lugar terá um momento de destaque, curto, mas terá. Por enquanto, vamos ficar nas ruas de “Era uma vez”.

 Toyu voltou para o meio do movimento agitado e conturbado. As pessoas faziam as compras do dia, a plebe do Reino de Era uma vez era sem dúvida uma das mais afortunadas, já que no final de quatro ciclos da lua (1 mês), eles podiam comprar roupas e até joias de preço médio, afinal, se os plebeus pudessem comprar joias caras, como a nobreza poderia se esnobar?

 Mas não vão criando ranço dos nobres, não por favor, existem alguns que são bons, são raros, mas existem. Inclusive, iremos conhecer bastante a nobreza e a realeza, mas não nesse capítulo.

 Novamente as ruas, Toyu dessa vez não estaria ali para comprar, e sim para fazer um dos seus trabalhos.

 O trabalho dele dessa vez era vigiar alguns guardas perto do palácio, tudo isso porque eles teria uma carga muito preciosa saindo de lá, e coloca preciosa nisso.

 Como dito anteriormente: em “Era uma vez” há um bosque, o Bosque da Rainha, esse lugar fica perto do castelo e era de lá que a encomenda sairia.

 Mas antes de irmos para o Bosque da Rainha, algo muito interessante e estranho aconteceu com Toyu em meio a multidão, vou tentar deixar o mais descritivo possível.

 Imagine a rua cheia de pessoas, tá bom, isso vocês já estão cansados de saber, mas estou contextualizando a cena. Quando se está andando em meio a multidão é normal as pessoas se esbarrarem umas nas outras, inclusive se uma delas estiver correndo com pressa, foi o que aconteceu com Toyu.

 Ele mal pôde ver o que estava acontecendo, já que essa pessoa estava vindo de suas costas e acabou o empurrando ao ponto dele cair no chão.

 Bom, a pessoa tão apressada também se espatifou no chão junto com um livro de capa roxa e azul. De início, ao se levantarem, eles se entreolharam e acredite, a pessoa desastrada era uma garota. Ela usava um manto e um capuz marrom, como se estivesse se escondendo.

 Ela tinha lindos olhos azuis e também se pôde notar seu cabelo meio oculto, ele era loiro, tão brilhante como o ouro, talvez eu esteja exagerando, mas não consigo encontrar outra forma melhor de descrever seus cabelos. Seus lábios brilhavam, talvez fosse o efeito do gloss. Mas por que isso seria importante? Por que garotas plebeias não usam gloss, mas é claro que Toyu nem notou, afinal das contas, seus olhos estavam no livro que a garota deixou cair.

 Ele havia pegado para devolve-la, mas antes, como todo ser humano é curioso, ele leu o título:

 - magias do Mundo encan... – antes que ele pudesse terminar de ler a garota linda e bela arrancou o objeto de suas mãos.

 - por que fica mexendo nas coisas que não são suas? – Ela voltou a correr apressadamente por entre a multidão.

 Toyu olha para Fadinha confuso:

 - que garota estranha... – e então ele volta a andar como se nada tivesse acontecido.







Fairy Tales: Era uma vezWhere stories live. Discover now