Carnival Dirge.

I - Adorável mentiroso.

"É apenas o início de um baile: vestidos sendo exibidos, corsets moldando silhuetas que se insinuam para pares que podem ser mais do que uma dança ao fim da noite. "

A grande e opulenta mansão da família Dankworth era o lugar mais conhecido de Yarus, onde os bailes em homenagem à Rainha Cecelia aconteciam esporadicamente, mesmo sem a presença da própria. Sua arquitetura imponente e requintada lembrava uma mistura de templos gregos com detalhes góticos, melancólicos e elaborados, cheios de curvas que enchiam os olhos, misturando cores escuras e frias com tons mais reais, como dourado e creme, tirava o fôlego de quem quer que os visitasse. E, se isso não fosse o bastante, era o claro indicativo do poder que a família com tal nome possuía na cidade e no país inteiro.

Mesmo não sendo uma família com título real desde o início dos tempos, os Dankworth atualmente possuíam ducados que cobriam boa parte do país. Eles receberam seus títulos por vitórias em guerras e, mais importante que isso, serviços prestados à coroa. Serviços esses tão importantes e secretos que os monarcas possuíam uma relação estreita com os donos daquele sobrenome, os fazendo ser tão temidos quanto invejados. Eram como Reis e Rainhas, sem um trono, mas com poder o bastante para pegá-lo para si.

Enquanto mais um de seus encontros da alta sociedade acontecia no andar de baixo, o escritório no segundo andar estava silencioso, embora fosse possível ouvir a canção melodiosa e quase entediante que tocava no salão, mesmo com a porta fechada. O baile se desenrolava normalmente, mas os homens presentes naquele diminuto cômodo não estavam realmente interessados no mesmo, e permaneceram sem dizer uma só palavra enquanto avaliavam o cartaz que passava de mão em mão, antes de voltar para os dedos de Bash.

Sebastian Dankworth era o atual duque da família principal, mas após a morte de seu pai e invalidez de sua mãe, ele ainda demorou a tomar seu lugar, e passou uma longa temporada em sua casa de campo, deixando as decisões para serem tomadas por sua tia. Ele gostaria de dizer que o motivo era o luto pela morte de seu progenitor, porém isso seria uma mentira descabida: Bash tinha apenas dezesseis anos quando herdou todas as terras dos Dankworth, porém rapidamente foi retirado de seu elemento quando sua tia julgou que o melhor para ele seria se tratar, após acusá-lo de sodomia.

Apenas uma familiar preocupada, como é honrosa Lady Virgínia.

Felizmente não precisou de muito tempo antes de conseguir voltar para o centro de Yarus e tomar o que era seu por direito. Atualmente era um homem no auge de seus vinte e oito anos, alto, com os cabelos negros como a noite caindo em cascatas por seu rosto, bem próximos de seus ombros, quando não estavam penteados para trás. Ele tinha olhos escuros e uma postura perfeita, seu queixo possuía um formato bem característico, com uma covinha que só ficava aparente quando ele tirava a barba por fazer, o que acontecia com bastante frequência.

Era misterioso e encantador como um artista, inteligente como um acadêmico e poderoso como um Lorde, e por tudo isso, e mais diversas outras coisas, era considerado um dos homens mais bonitos e cobiçados da cidade, sendo que um dos maiores motivos de especulação em seu nome era a razão para não se casar. Sequer parecia que há anos atrás o fantasma de um escândalo pairava sobre sua cabeça com a possibilidade de descobrirem o motivo de seu sumiço.

Mas não era isso que o incomodava naquele momento.

— Eu pensei que não estivesse abrindo os portões de seus terrenos nem para caridade, Vossa Graça. — A voz de Eugene Churchill estava carregada de certo divertimento mesclado a uma provocação característica que o mesmo sempre usava ao se referir à Bash pelo título. Ele se sentou em uma das poltronas, tomando mais um gole de seu whisky quente, enquanto o outro assentia, sem responder por um tempo.