Aquela do Melhor Amigo (parte 2)

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"Sexta-feira é dia oficial de grude."

Esse foi o primeiro pensamento que tive ao acordar. Depois que Fernanda foi embora, há quase uma semana, não nos falamos mais. Eu estava louco de saudades dela. Sentia falta da sua risada escandalosa e suas caretas bonitinhas quando eu fazia qualquer piada de duplo sentido. Sentia falta da textura macia da sua pele e de como nossos corpos se encaixavam, mesmo em um abraço desajeitado. Sentia falta de seus carinhos delicados no meu couro cabeludo quando deitava em suas pernas, e de carregá-la no colo até o quarto quando adormecia no meio do filme. Sentia falta dos movimentos involuntários dos seus seios quando corria na minha direção depois de um dia difícil, e do cheiro doce que exalava de seus cabelos. Eu sentia falta da minha melhor amiga, e sentia falta da garota que eu amava. Até mesmo sentia falta de seus beijos, e eu apenas os havia provado uma vez. Como isso era possível? Como sete dias podiam ser tão torturantes dessa maneira?

Por Ela

Sexta-feira devia ser o dia oficial de grude. Era assim que tinha que ser. Era assim que tinha sido por tanto tempo que eu não conseguia administrar a mudança. Essa não deveria ser a primeira sexta-feira que eu passava longe de Felipe. Mas seria, se eu continuasse com essa birra besta.

Mas como lidar? Como agir naturalmente com a pessoa que mais esteve do meu lado em toda a minha vida depois de um momento roubado daqueles? Como eu poderia cumprimentar meu melhor amigo com um beijo na bochecha se meu corpo ardia para que nossos lábios se encontrassem?

Merda, eu sentia falta dele. Falta de suas piadas sem noção e seu carinho protetor. Dos olhinhos sinceros brilhando quando me visse, independentemente de seu estado de espírito. Do calor de seus braços e da sensação dos seus cabelos na minha palma. Do jeito sutil que ele tinha de me mostrar que era tão especial para ele quanto ele era pra mim.

Mas eu simplesmente não sabia o que fazer. O que o beijo tinha significado? Era algo de momento, era mais do que isso, era recorrente ou pontual...?

Arg. Sete dias inteiros indagando as mesmas coisas e parecia que minha linha de pensamento andava em círculos. Eu estava estressada, tentada, sofrida. Queria Felipe de volta, e não fazia ideia do que fazer com esse desejo.

Fechei os olhos e respirei fundo. Sexta-feira era dia de grude, e dia de grude seria. Eu só precisava me acalmar antes de vê-lo e tudo daria certo, tudo estaria sob controle. Eu não podia ficar longe dele em hipótese alguma, precisava dele até mesmo para tirar sangue, então perdê-lo, ou melhor, afastá-lo não era uma alternativa.

Me acalmar. Era só o que eu precisava...

Por Ele

Eu tentei mais de uma vez falar com ela, mas não tinha certeza em que pé estávamos e por isso acabava ficando calado. Ela também não me procurou, mas pelo modo como saiu daqui isso era esperado.

A fase de me xingar por tê-la beijado passou no domingo mesmo. Eu não tinha capacidade de me arrepender pela melhor coisa que já me aconteceu, e ainda tinha esperanças que ela só precisasse de algum espaço para assimilar o ocorrido.

Mas então chegou a sexta-feira e eu não podia deixar o dia passar em branco. Alguma atitude eu precisava tomar, mas qual? Meu celular vibrou na bancada da cozinha. Olhei de relance enquanto preparava meu café da manhã:

"Nos vemos mais tarde? - Fê"

Era ela. Fernanda tinha, enfim, dado sinal de vida. Puta merda, graças a Deus, nem tudo estava perdido. Eu iria vê-la! O dia de grude não seria desperdiçado.

Segurei o grito por ter derrubado café quente no colo por estar distraído e logo limpei a bagunça inteira e me enfiei no banho.

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[Degustação] FetichesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora