Capítulo 21

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 Chegamos em casa muito cansadas, nos desarrumamos e já fomos nos deitar para dormir. Cada uma ficou em uma parte do quarto e antes de dormir desço para tomar água. Pego o copo de água na cozinha e vou para o balanço do lado de fora. Fico admirando o céu, acho que nunca vou me cansar disso.

— Oi. — Ayla chega e senta do meu lado. — Tá fazendo o que aqui?

— Vim olhar as estrelas, adoro isso. — Digo olhando para o céu estrelado e vejo ela olhando também.

— É bonito mesmo. — Ela não demora muito olhando para o céu e logo volta seu olhar para mim. — Podemos conversar?

— Não só podemos como acho que devemos. — Digo e ficamos em silêncio por um minuto.

— Nem sei por onde começar. — Ela suspira e continua. — Sei que agi errado e me arrependo muito, devia ter te procurado...

— Eu sei disso, não precisa ficar implorando por perdão, eu também agi errado, acho que precisamos nos perdoar e seguir em frente.

— Juntas ou separadas?

— Acho que vamos ter que descobrir se somos melhores sozinhas ou juntas. — Ela me beija e eu retribuo.

— Eu vou te provar que somos perfeitas uma para a outra, para você não ter nenhuma dúvida disso. — Ela diz e me beija novamente.

Subimos para o quarto e todas as meninas estão na minha cama assistindo um filme, logo nos juntamos a elas e acabamos dormindo todas grudadas mesmo.

***

No dia seguinte, acordo com o alarme do celular de alguma das meninas no qual não consigo identificar já que quero me espreguiçar e não tem espaço, pois estamos todas grudadas, e para acordar preciso me alongar.

— Bom dia gente. — Escuto a voz da Stella, mas ainda não estou acordada o suficiente para responder.

— Bom dia. — Ayla responde do meu lado e me arrepio, não lembrava que ela estava tão perto assim.

— Bom dia, querem tomar café? — Digo finalmente me levantando e todas concordam. Descemos de pijamas mesmo já que estávamos em casa.

— Bom dia meninas. Acordaram cedo. — Minha vó diz assim que entramos na cozinha.

— Bom dia. — Todas dizem quase juntas e eu vou perto dela dou um beijo nela.

— Podem ficar à vontade, comam tudo o que quiserem. — A mesa está mais cheia do que de costume, se é isso é possível. Tinha bolo, pão, café, frutas, estava muito bonito, parecia café de hotel.

— Nossa, que delícia. Está muito bom Dona Aurora. — Ayla diz comendo o bolo. Tá tentando conquistar ela, conheço a peça.

— Ah, gentileza sua meu bem. — Minha vó diz toda sorridente e olha pra mim piscando o olho.

Tomamos o café e fomos para o quarto nos trocar. Me troco rápido por já estar em casa e enquanto as meninas terminam de se arrumar, ligo meu celular pela primeira vez do dia e vejo que tem mensagens da Bia, nunca falei com ela pelo celular antes. Abro curiosa, tem mensagens agradecendo e falando que ela foi viajar para o Rio de Janeiro graças a nossa conversa de ontem. Fico surpresa, ela simplesmente foi para outro estado depois de um conselho meu.

— O que aconteceu? — Nat pergunta pois acho que fiquei bem reflexiva.

— Uma menina que morava aqui foi para outro estado e disse que eu fui a pessoa que a incentivou a ir.

— Nossa, vocês eram próximas?

— Não, conversamos mais ontem e hoje ela foi.

— O que você falou para a menina que fez ela ir pra outro estado? Yasmin você não era assim. — Dou risada e ela também, mas parece falar meio sério.

— Eu não falei nada nesse sentido. Ainda sou a mesma de antes.

— Isso é mentira. Você mudou muito. Todas mudamos.

— Estamos em constante mudança, né? Não somos nem as mesmas de ontem, quem dirá do ano passado. — Isso é uma coisa que refletimos muito na escola.

— Tenho saudade da época da escola. — Ela diz parecendo lembrar daquele tempo.

— Também tenho. — Ficamos em silêncio pensando em nossas próprias memórias.

— Quais são os planos para hoje Yas? — Helena diz chegando toda animada abraçando sua namorada.

— Se eu te falar que não pensei em nada vou te deixar muito chateada? — Digo meio sem graça, mas aqui não tem muito o que fazer.

— Muito não, mas um pouco. — Ela faz uma cara fofa e eu tenho vontade de agarrá-la.

— Sem desmerecer, mas aqui não tem muito o que fazer. E as coisas legais que eu fiz foi com outras pessoas, o que significa que eu não saberia fazer sozinha.

— Yas não tem problema. A gente veio aqui para passar um tempo com você, não precisa fazer coisas mirabolantes. — Meu coração se aquece ao ouvir isso. Sei que Lena sempre foi a que mais se preocupou comigo, afinal é o jeito dela, ela é super cuidadosa com todos.

— Então podemos ver um filme, ficar de bobeira, ou algo do tipo. — Costumávamos nos reunir na casa umas das outras para fazer esse tipo de coisa.

— Acho uma ótima ideia. — E passamos o resto do dia assim, até depois do almoço quando elas tinham que voltar.

— Da próxima vez você vai lá. — Stella diz me abraçando. — Agora você vai poder entrar em um bar legalmente, é uma ótima sensação. — Damos risada.

Abraço todas me despedindo e um sentimento de saudade começa a tomar conta de mim. Sinto falta da minha vida da escola, de quando minha preocupação era na casa de quem iríamos passar a tarde depois da aula. Com elas eu me sentia gigante, imensa, sentia que poderia conquistar tudo, ser tudo, mas parece que esse sentimento passou.

— Ei, que cara é essa? — Sinto Ayla se aproximar e segurar meu rosto, só então percebo que estava quase chorando.

— Não vai chorar não, né Yasmin? — Helena diz também se aproximando. — Já é feia, chorando então. — Dou uma risada sincera, ai que saudade dela.

— Eu vou sentir saudades. — Digo tão baixo que sai como um sussurro.

— Eu sei, a gente também. — Lena me dá um beijo na bochecha. — Vou deixar vocês se despedirem.

— Pode ir ficar lá em casa quando quiser. — Ayla diz assim que ela sai.

— Eu sei. Mas não tenho como ir.

— Eu venho te buscar. — Ela diz sorrindo.

— Vai dirigir por duas horas para chegar aqui, me buscar, dirigir por mais duas horas pra eu passar um final de semana com você e depois ter que me trazer de volta? — Sempre tento deixar claro as coisas pra ela porque ela é muito o agora, só pensa no momento, não nas consequências.

— Não precisa ficar só por um final de semana. Pode ficar uma semana, um mês. — Ela diz se aproximando mais ainda. — Pra sempre se quiser. — Estamos tão próximas que sinto sua respiração.

— Eu gostaria, mas eu não posso.

— Eu sei. — Ela se afasta e sinto falta de não ter recebido um beijo. — Tchau, até mais.

— Espera. — Digo quando ela já está a caminho do carro. — Vai embora sem um beijo? — Ela sorri mas permanece no mesmo lugar, ela espera eu tomar a iniciativa para ter certeza que eu tenho certeza.

Me aproximo e junto nossos lábios, e ali sinto tudo sumir, como se só nós duas existíssemos, como se só nos importássemos.

Longe da cidadeWhere stories live. Discover now