Capítulo 2

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  A semana passa com muitas caixas e preocupações me rodeando, mas agora nada disso importa porque estou no carro indo para Boirapera ao som de Cazuza, enquanto meus pais cantam felizes da vida, parece que eles estão se conhecendo de novo. 
  Essa semana, encontrei com ele no corredor de madrugada, quando estava indo beber água. Ele sabe que eu o vi, mas não comentei nada, nem ele. Eles precisam de espaço para se reencontrarem novamente, vai ser bom esse tempo para eles, espero que seja para mim também.

– No próximo posto podemos parar? Preciso ir ao banheiro. – Digo interrompendo a cantoria deles.

– Já? – Meu pai diz indignado, mas o que eu posso fazer se tenho uma bexiga de uma criança de cinco anos?

– Também quero ir ao banheiro. – Minha mãe diz.

  E a viagem seguiu assim, cheia de paradas e músicas de excelente qualidade. Até que finalmente chegamos e eu fico impressionada com a casa, não me lembrava daqui assim. Tem um jardim bem bonito na frente da casa e uma varanda com um banco de balanço, já estou me sentindo em casa.

– Meu filho... – Diz minha avó vindo em direção ao meu pai. Ela tem um sorriso contagiante que me faz sorrir junto a ela. – Minha neta, quanto tempo. Você cresceu tanto. – Ela diz me encarando. – Vamos entrando, fiquem à vontade.

  A casa é maravilhosa, bem interior e super grande para ela morar sozinha. Quando entramos, a direita tem uma sala com um piano e duas poltronas, junto com uma cômoda de madeira. A esquerda tem uma sala de verdade, com dois sofás e uma poltrona, televisão e mesinha de centro. No fundo dessa sala tem um bar? Não sei se posso me referir assim a aquilo, mas é um lugar onde tem prateleiras com bebidas na parede e um balcão circular envolta. Realmente não me lembrava de nada daqui.

– Você já pode beber, não é? Vai amar o vinho daqui, bem melhor que o da cidade grande, aqui são especialistas nisso. – Minha avó diz parando ao meu lado.

– Eu não bebo.

– Então parece que vou ter que te ensinar. – Ela pisca para mim e volta a andar pelo corredor. – Preparei um café caprichado para vocês. – A sigo e chego na cozinha, que é linda, grande e simples, com uma mesa de madeira média cheia de comidas.

– Não precisava fazer tanta coisa, mãe. Somos só nós, né? – Meu pai pergunta.

– Claro que precisava, faz tempo que vocês não vem, queria que se sentissem bem. – Ela é uma fofa.

– Então Yasmin, tem algo que queira fazer, assim logo de cara? Café? – Aceno com a cabeça.

– Não pensei em nada, foi tudo muito rápido. – O que não deixa de ser verdade. – Vou focar nos estudos.

– Não sei de quem puxou isso. Do meu lado com certeza não foi, a diversão é sempre mais importante, deve ter sido do seu avô. – Ela diz enquanto me entrega um prato com um pedaço de bolo que acabou de cortar.

– É, mas não estraga ela mãe. – Meu pai diz.

– Tarde demais. Deviam ter pensado nisso antes. – Ela diz antes de beber o café.

 
                                                ***

  As horas passam e meus pais decidem pegar o caminho de volta para a cidade grande, enquanto eu fico. Minha avó me apresenta o resto da casa e eu fico apaixonada. Tudo é incrível aqui, os cômodos são grandes e espaçosos, meu quarto tem um banheiro e uma vista linda da janela, o que me faz questionar o quão bom pode ter sido vir para cá.

  Já está anoitecendo quando minha avó me chama para jantar. Na mesa tem uma panela com arroz, outra com feijão, além de uma travessa com coxa de frango e um pote com salada. Acho que vou amar aqui.

– Eu adoro frango. – Digo me sentando na mesa.

– Me lembro de quando você era pequena e amava, que bom que não mudou, também adoro frango. – Ela diz se servindo, enquanto espero para me servir também. – Podemos comprar algumas coisas para decorar seu quarto quando quiser.

– Ah, não precisa de nada. Ele é bom por si só. – Digo honestamente. O quarto é grande e simples, acho que isso o deixa bom o suficiente.

– Para de bobagem. Podemos comprar umas almofadas para decorar a cama, uns pisca-piscas para pendurar, e um mural também parece legal, não é? – Ela diz super animada.

– Não precisa de nada disso, vó. Na minha casa não tinha nada disso, aqui também não precisa ter.

– Parece sua mãe falando. – Que horror. – Quero que tenha coisas que se sinta bem, vi essas coisas no meu programa favorito de decoração, disseram que os jovens gostam. Mas se não gostar, tudo bem, podemos ver coisas que te fazem sentir bem e em casa. Não importa o que sua mãe diga, vai, me fala algo que sempre quis ter no seu quarto e nunca pode.

– Não tenho nada em mente. – Mentira, tenho tantas coisas.

– Anda logo menina.

– Uma... poltrona, talvez? – Sempre quis ter uma poltrona, mas nunca teve espaço suficiente na minha casa antiga. Casa antiga? É assim que devo me referir a lá agora? Ou aqui é minha casa temporária e lá é a de verdade? Isso ainda é confuso.

– Ótimo! Vamos arranjar uma poltrona, depois cuidamos do resto devagar, não temos pressa mesmo. – Ela parece estar satisfeita por eu ter falado algo, mas não quero que ela pense que estou me aproveitando dela, já ouvi meus pais discutindo sobre dinheiro e aparentemente a vovó tem bastante. – Vou ver com o Júnior para me ajudar , ele vive na cidade vizinha e pode trazer para a gente logo.

– Não precisa ser de imediato, a senhora mesma disse que temos bastante tempo.

– Senhora não, por favor. E claro que temos bastante tempo, mas não custa nada adiantar algumas coisas.

– Certo.

– Você acorda cedo?

– Ah, depende, mas posso acordar se precisar de alguma coisa.

– Não se preocupe, é que eu só levanto depois das oito, ninguém merece, né? Então, se levantar e eu não estiver aqui ainda, estarei dormindo, se precisar de alguma coisa pode me chamar a noite, mas só nesta primeira semana, não se acostume.

– Tá bom, vou anotar. – Ela parece ser tão legal e gente boa, não sei por que me fizeram crescer longe dela.

– Eu gosto de admirar as estrelas depois da janta, se quiser se juntar a mim está convidada.

– Vou amar, da minha casa não dá para ver muitas estrelas.

   Após arrumarmos a cozinha, vamos até o banco de balanço bonito na frente da casa e olhamos para o céu e, uau, é incrível aqui, nunca vi tantas estrelas assim no céu.

– É lindo, né? – Concordo com a cabeça ainda admirando o céu estrelado.  – É uma das partes favoritas do meu dia. Aqui pode parecer sem graça perto da cidade mas te garanto que é bom, só é diferente.

  Diferente.
Talvez eu realmente goste dessa vida mais tranquila e calma.

Longe da cidadeWhere stories live. Discover now