Capítulo 7: A Tempestade

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Uma semana se passou desde o acidente com Baba. A pequena já estava acostumada com sua nova vida: horas e horas olhando para teto, saindo da cama apenas para necessidades e voltando direto logo após; não que fosse muito diferente de sua vida normal, já que passava a maior parte do tempo em casa ajudando nas tarefas ou cuidando de Johanna, mas agora era diferente. Johanna fazia tudo que pedia e tratava de qualquer problema que Baba tinha, mesmo que a garotinha pedisse mais de uma vez para que não fizesse isso. A sensação era estranha; uma parte de si adorava a companhia que sua mãe fazia, mas havia algo que a impedisse de aproveitar tanto afeto em tantos anos. Algo em sua nuca a dizia estar se aproveitando demais da pobre mulher e fazia seu estômago revirar, então tentava se manter feliz para não preocupar Johanna, mas já pensava em algo há algum tempo.

Já com a mulher, essa semana foi talvez a mais difícil que já passara — desde o desaparecimento de sua filha e os meses ulteriores — e suas noites estavam cada vez piores por conta do trabalho dobrado — ou melhor — triplicado. Alguns clientes pediram mais comissões; Baba precisava de cuidados e para piorar, Alfur e Tontu não se faziam presentes desde o acidente com a menina, assim sendo ela a única a arrumar a casa — o que não fazia. Johanna não parecia ter visto uma cama há dias, mas não podia parar de desenhar, pelo bem de Baba...

— Ugh... — suspirava cansada, sentada em sua cadeira; nenhuma comissão terminada ainda. — Por que isso está acontecendo comigo?... O que eu fiz para merecer uma vida tão miserável como essa?... Eu só quero... não! Eu preciso aguentar; por Baba e por...

Ding-dong! — soou a campainha da porta. Quem estaria lhe atrapalhando agora? Esperava qualquer um: o jovem vizinho, Sr. Götarburg; ou o proprietário do apartamento pedindo o dinheiro do aluguel; ou até mesmo os amigos de Baba que vinham periodicamente passar um tempo com ela, mas não esperava ver...

— Frida?... — perguntou surpresa ao ver a amiga de sua filha na porta do apartamento. Desde o "episódio", anos atrás, as duas nunca mais conversaram. Algo em seu estômago pesou quando viu a mulher parada na sua porta, esperando entrar. — O-o quê faz aqui?

— Oi Johanna — disse Frida desconcertada. Ainda era estranho conversar com ela depois de tudo que passaram, mas já não podia mais se acovardar perante a mãe de sua amiga. — Posso conversar contigo?

— Cl-claro — e assim, Johanna estava fazendo chá para mulher, que sentava na cadeira da cozinha, um silêncio constrangedor pairando sobre a sala como um corvo faminto pelas palavras que falariam uma para a outra, assim como as que falaram anos atrás. Junto ao chá, Johanna também preparou água para uma caneca de café. Iria precisar.

— Então... como está Baba? — Frida perguntou acuada. Sabia que mencionar a pequena não era o melhor jeito de começar uma conversa, mas estava preocupada com a garota, pois não havia ouvido notícias dela desde há uma semana atrás e, mesmo com Johanna de costas para ela, ainda fitando o fogão, Frida percebeu que algo a mais estava errado com Johanna. Com o chá já pronto, Johanna o pôs de frente para a bruxa; alguns cubinhos de açúcar ao lado e até alguns biscoitos, e pôs-se a explicar o ocorrido:

— Baba... se machucou brincando com os amigos — disse a mãe em tom cansado e ríspido e tirando gemidos retraídos de Frida, que ainda assoprava o chá. Ela continuou. — Estavam brincando perto dos muros e Baba caiu com a perna direto em uma pedra pontuda. A panturrilha dela foi atravessada. Já faz uma semana que ela está de cama lá no quarto dela — de volta ao fogão, Johanna se calou e esperou a água do café ebulir. Frida se levantou de supetão marulhosa. Johanna vertia o café na caneca sem reação.

— Johanna, eu... eu não sabia! — disse ansiosa. — Se quiser eu posso ajudar. Se precisar de- — mas Frida se calou ao forte baque do bule de café na bancada da cozinha. Segundos pareciam horas enquanto permaneciam caladas, apenas ao canto dos pássaros, às buzinas ao longe e às conversas dos transeuntes pela janela, e então Johanna quebrou o silêncio com um longo suspiro. Ainda de costas para Frida, ela bichanou:

Hilda e A Mãe de Todosजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें