Capítulo 6: O Plano

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Sob o Sol do meio-dia, David sentava num banco do parque ao lado do portão da cidade. Pensativo, tomou o tempo que lhe restava sozinho para ponderar sobre o que estava fazendo de sua vida. Tinha um trabalho estável e lucrativo, uma namorada fiel e que o ama, uma família unida e estabilidade financeira, mas por que tudo isso soava errado para outros? Estaria David fazendo algo errado? Estaria ele-

- Sonhando acordado? - o rosto de Frida sombreou David e o tirou de seu transe.

- Frida!... Nem te ouvi chegando. Como estão seus ferimentos? - coçando os olhos, David deu espaço para Frida se sentar.

- Estou um pouco melhor - disse, pondo a mão sobre o peito e se sentando logo em seguida. Lado a lado, a diferença de altura deles era gritante: um homem de um e noventa e grande porte, ao lado de uma mulher de apenas um e cinquenta, largos quadris e fina cintura. Frida parecia combalida, mas David decidiu dar um tempo para ela e continuou calado, o que pareceu durar bastante até sua amiga finalmente dizer algo. - Olha, David... àquela hora, no celular, eu... - mas David decidiu por interrompê-la, sua mão gesticulando que parasse.

- Não precisa se explicar. Eu entendo que você estava ansiosa para procurá-la e ficou um pouco agitada com a situação, e não precisa se desculpar pelo ocorrido. Agora vamos, não podemos deixar nossa amiga esperando mais tempo - e não deu tempo para Frida conversar, apenas continuar sentada no banco mais alguns segundos.

- Bem feito, sua idiota... - disse para si antes de levantar. Algo, porém, a fez continuar no banco: ainda não estava totalmente curada e talvez não devesse ter saído de casa, mas não queria esperar um segundo a mais e tentou aguentar a dor. Ela seguiu seu amigo até o carro.

Com o aumento constante da cidade, o que antes eram os arredores de Trolberg - onde já podia-se encontrar seres e criaturas mágicas - agora faz parte das áreas rurais da cidade, atrás apenas dos segundos muros de Trolberg. Frida e David estavam depois disso, já no outro lado dos muros e sentindo o moer da estrada sob os pneus. O homem optou por usar a viatura da patrulha.

- Parece que há vários relatos de trolls perto das montanhas de Ullr e de Skaði. É uma viagem longa a pé - explicou David. A conversa morreu logo após e um silêncio constrangedor deu lugar; um silêncio de vários minutos, quebrados por uma tosse, um grunhido e de vez em quando, bocejos, até Frida limpar a garganta e tirar do peito tudo que estava sentindo:

- Sinto saudades disso. De poder me aventurar como antes; de poder sair da cidade, de sair contigo - ela terminou com um sorriso. Os dois já namoraram na adolescência, mas mesmo que hoje em dia estivessem seguindo seus próprios caminhos, ainda sentiam falta um do outro. - A gente se divertia tanto, e mesmo antes de Hilda, a gente nunca se desgrudava um do outro... - riu despreocupada. - Quem diria que cada um iria para seu canto e pararíamos de se falar... - O peito de David apertou com as palavras dela. Sentia tanta saudade quanto, e o desaparecimento de Hilda distanciou ainda mais os dois. Com Frida, a mulher apertou a alça de sua bolsa com angústia e culpa, ainda se lembrando do que disse ao seu amigo. Ela continuou. - David... me desculpa pelo que disse mais cedo. Eu não devia ter falado aquilo e sei como isso te abalou - a bruxa sentiu seu amigo relaxar. - Eu realmente fiquei feliz pela sua promoção, e realmente senti sua falta - o sorriso sincero de Frida aqueceu o coração de David, que retribuiu genuinamente pelo seu pedido de desculpas. Ele não tirou os olhos da estrada, mas expressou-se feliz, refletindo no rosto corado e feliz de Frida. O resto da viagem foi bem menos estressante, agora que podiam conversar sem peso na consciência, e até podiam avistar algumas criaturas mágicas que há muito não viam: vittror tomando banho de sol, gigantes da floresta se estendendo acima das florestas de ferro, skógartrolls sentindo a brisa pelas suas folhas, entre muitas outras criaturas. Rapidamente chegaram ao fim da viagem, assim que saíssem da estrada de asfalto e entrassem na estrada de terra até a base da montanha.

Hilda e A Mãe de TodosWhere stories live. Discover now