Capítulo 4: O Feitiço

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O lusco-fusco banhava a cidade com brasa enquanto os cidadãos saíam de seus trabalhos para suas casas, e com David não era diferente

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O lusco-fusco banhava a cidade com brasa enquanto os cidadãos saíam de seus trabalhos para suas casas, e com David não era diferente. O homem havia finalmente acabado seu horário e voltaria à casa da mãe para descansar, ou era isso que pensavam seus colegas quando foi o primeiro a sair. O trânsito da cidade aumentou bastante desde que ele era apenas um menininho amedrontado e sua mãe o levava para passear, por isso optou por não usar carro para ir ao seu trabalho e ficar preso no trânsito por quase horas. Logo chegou em casa, mas não ficaria para o jantar.

— Tchau mãe! Vou voltar tarde hoje! — seu terno já no corpo e uma boa quantia de dinheiro na conta, David pediu o carro do pai emprestado pois hoje seria uma noite especial. Mesmo à noite, a cidade ainda brilhava como o dia, ofuscando o luar com sua poluição visual, e era difícil acreditar que em apenas algumas horas, tudo isso cessaria com o toque de recolher. David tomou seu tempo no trânsito, agora que estava bem menos congestionado, para arrumar o cabelo, tirar qualquer sujeira e poeira do terno e até comer uma balinha de menta para o hálito; bem a tempo de chegar na área nobre da cidade. Diferente da área comercial e as áreas residenciais comuns, que eram amontoadas como um formigueiro, a área onde vivia a burguesia era composta por quadras bem preservadas e desenhadas para proporcionar o maior lazer para quem quer que morasse ali. Suas ruas limpas eram projetadas para que pudesse chegar aonde quisesse de carro, ou, se quisesse optar por algo mais ecológico, de bicicleta. Apesar disso, ainda era meio complicado navegar pelas quadras cheias de números e letras — Quem teve essa idéia? Por que não nomear com... nomes? — mas com sorte e um gps, conseguiu chegar à casa de sua parceira; um buquê de flores e uma caixa de um bom chá de primeira qualidade em mãos.

A maior casa do quarteirão. Tinha talvez três andares e se fazia imponente e cheia de cômodos, e, quando a campainha foi tocada, o som reverberava por toda a casa. Dela, saiu nada mais, nada menos que Gerda Gustav, chefe geral da patrulha de segurança de Trolberg.

— Boa noite, comandante Gerda, senhora — David a cumprimentou como se estivesse no trabalho.

— Ah, David! — Gerda respondeu com um sorriso. Adorava o garoto e seu jeito animado e educado a fazia esquecer dos problemas de seu trabalho, aparentes em seu olhar cansado e olheiras fundas. Se o garoto não conhecesse Johanna, diria que Gerda era a pessoa que mais sofreu com a ascensão de Erik ao poder. — Pontual como sempre — riu. — Por favor, entre. Ela está terminando de se aprontar.

Ainda sem jeito de estar em uma casa tão imponente e de estar sendo recebido como convidado pela chefe geral de seu trabalho, ele entrou e pôs a tirar os sapatos, mas foi impedido por Gerda, que brincou dizendo que não precisava de tanta formalidade em sua casa, apenas no trabalho. Ele riu e a seguiu até a sala de estar, passando pelo longo hall de entrada. Ao se sentar no sofá, a própria Gerda trouxe alguns biscoitos e uma xícara de chá para ele, que aceitou, corando pelo ato tão receptivo.

— M-muito obrigado, senhora Gerda. Ah, já ia me esquecendo! — e mostrou a caixinha de chá que havia comprado. — Bertha me disse que gostavas dessa marca — Gerda aceitou ainda mais envergonhada que o próprio. Sabia o quão cara era essa marca e sabia do salário do menino, mas adorava nele o quão longe iria para fazer seus amigos felizes.

Hilda e A Mãe de TodosWhere stories live. Discover now