Prólogo: A garota sem lar...

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Já faz quanto tempo que vocês me deixaram...10...11 anos...eu nem me lembro mais...mas sinto tanta saudade de vocês...

Posso não ter muitas recordações por ser apenas uma criança naquela época, mas as poucas lembranças que tenho a respeito de vocês é o suficiente, eu sei que vocês eram pais bondosos, carinhosos e que se importavam com a sua filha, infelizmente não estão mais aqui para me ver crescer, para estar em meu futuro, eu não os culpo por isso afinal de contas é como a merda do destino quer que aconteça...

Como eu ainda era bem pequena eu não tinha muito o que fazer, ou melhor não tinha muito o que se fazer ao meu respeito então acabei sendo levada á um lar de crianças para serem adotadas, ou um orfanato.

Como não tinha nenhum familiar próximo para cuidar de mim acabei sendo transferida para uma dessas instituições, mas eu já teorizo o contrário, tenho certeza que há outros parentes em minha árvore genealógica, mas nenhum deles gostaria de cuidar de mim, nem mesmo no funeral dos meus pais eles conversaram á respeito, heh, amor familiar é realmente uma piada de mal gosto.

Em meus 6 anos acabei sendo adotada por uma família que não me recordo bem, mas as memórias eram terríveis, eles já tinham um filho porém eles queriam adotar uma menina, como tínhamos relativamente a mesma idade acabávamos brigando por qualquer coisinha, mais por parte dele do que da minha, eu sabia que não poderia causar má impressão na casa de desconhecidos mesmo sendo a minha família porém um sentimento chamado inveja é algo completamente ruim.

Estava evidente que eles realmente queriam uma menina ao invés de um menino, portanto o favoritismo tomou conta e isso acabou gerando uma resposta negativa por parte dele, sempre me provocava verbalmente e fisicamente, claro que eu acabei revidando depois de um tempo, mas apenas uma única resposta á altura vindo de mim foi o suficiente para que eles me mandassem de volta.

Se passou mais um tempo ou alguns anos e eu acabei sendo adotada outra vez por uma outra família, dessa vez eu tinha uma irmã mais velha, embora fosse apenas um ano de diferença.

Devido a minha experiência anterior eu acabei ficando mais reclusa, porém as coisas pareciam ser melhores, ela parecia ser mais agradável do que meu outro irmão, se é que posso chamá-lo assim, mas qualquer um comparado á ele é uma boa pessoa, ela me apoiou e disse que eu não estava sozinha, nossas mães até mesmo ficaram felizes com isso...mas nem tudo foram rosas, pelo menos por um tempo.

Vendo que aquela era uma boa família eu decidi ao menos me esforçar para que tudo desse certo ,me dediquei ao colégio, tirei notas boas, me destaquei, fui uma boa garota já que vi que a violência não pode ser usada nem mesmo para se defender então retribuir a gentileza com esforço e dedicação, mas infelizmente agir dessa maneira não foi bom para mim.

Acabei causando a ira daquela quem me apoiava, talvez isso deve-se ao fato dela ser menos esforçada e mais preguiçosa que eu, mas graças á isso acabamos não nos dando bem, até mesmo cheguei a levar um soco no rosto por parte dela, acabou mostrando mais agressividade do que eu que só aceitava apanhar calada, e como esperado acabei voltando ao ponto de partida.

Talvez eu deve-se aceitar que as coisas seriam uma montanha-russa de emoções viajando de família em família enquanto eu vivia a minha vida em fragmentos, desde que meus verdadeiros pais morreram eu não tive coragem de dar esse título aos meus adotivos devido aos problemas que me ocorreram, mas eu apenas aceitava isso já que mais uma vez era a obra da merda do maldito destino, porém ele reservava algo pior para mim...

Por um ano inteiro eu vivi uma boa vida, acabei sendo adotada por um pai solteiro com uma boa vida, ele era do tipo empresarial que não tinha muito tempo para a família, ou no meu caso eu, mas como eu tinha 15 anos eu podia me virar bem naquela época mesmo que sozinha.

Claro que ele me dava dinheiro para me sustentar e eu estudava em uma escola comum da vizinhança mas como eu já passei por muita coisa dificilmente eu tive uma amizade então eu seguia minha vida da maneira mais solitária o possível, mas para o meu azar esse homem também tinha outro filho de uma outra mulher.

O que me fez refletir por um momento, talvez eu tenha sido adotada apenas para uma tentativa de causar inveja à ela, eu não sei ao certo qual foi sua jogada mas parece ter dado certo de alguma forma.

Seu outro filho era de idade mais elevada que a minha provavelmente na casa dos 20 anos, estava até mesmo na faculdade, ele nos visitou algumas vezes não conversava muito comigo mas sempre visitava apenas por grana que seu pai concedia de bom grado, talvez ele saiba de algum podre a respeito dele, mas depois eu descobri que ele tinha intenções maiores com sua visita, mais precisamente por minha causa.

Admito que não tenho lá um corpo agradável, não sou tão magra mas também não sou bem atlética, eu sei me virar e me cuidar mas diferente das garotas normais eu não tenho o corpo perfeito, muito menos o look atrativo, mas isso não importava para ele, acho que ele nem estava ligando muito para isso já que ele queria era mesmo se satisfazer, isso mesmo ele queria fazer sexo comigo!

Diversas vezes ele tentou me agarrar, me violentar e até mesmo me violar, mesmo com apenas poucas tentativas falhas aquilo foi o suficiente para me enlouquecer, cheguei até mesmo a apelar para uma faca para me defender de seus ataques!

Eu poderia ter falado com meus pais adotivos, mas eles não eram do tipo presentes, podia até mesmo denunciar para a polícia, mas como eu entrei em pânico e estava em um momento de vulnerabilidade apelei para o emocional traumatizado e fiz essa besteira, eu não o matei mas graças ao golpe com a faca eu o deixei parcialmente ferido...

Para minha sorte, se é que posso chamar isso de sorte meu caso me deram como desaparecida, quanto aquele idiota quero mais é que ele morra mas não pelas minhas próprias mãos...

Até o momento a minha vida tem sido uma grande pilha de merda, que venho empurrando com a barriga já tem algum tempo, é mais do que óbvio que já pensei em tomar uma decisão drástica como tirar a minha própria vida.

As vezes eu me cortava ás escondidas, demonstrei certa resistência á dor de uma maneira que até eu me surpreendi, quando pensei em fazer isso nos meus pulsos eu acabei voltando atrás, mesmo demonstrando resistência á dor não significa que gosto de senti-la então isso estava fora de opção...

Tentei até mesmo coisas como bulimia ou alguma overdose com remédios alheios que encontrava, mas o máximo que consegui foi uma dor de barriga e um enjoo interminável, métodos como esse não iriam adiantar de nada então talvez fosse necessário optar por um método mais rápido e prático.

Há uma construção abandonada na região, um prédio condenado pela prefeitura do qual eu acabei subindo até lá a fim de me jogar daquela altura enorme seria um fim rápido, ninguém daria a minha falta mesmo, mas o medo acabou mais uma vez me impedindo ou nesse caso me salvando, enquanto encarava a altura lá de cima eu recuava cada vez mais, toda vez que pensava em uma maneira de tirar a minha vida meus instintos me diziam que aquilo era uma bobagem, uma perda de tempo, uma grande pilha de bosta criada por uma mente solitária e que desesperadamente precisava de ajuda.

Eu me sentia um lixo toda vez que pensava em me matar, talvez tivesse desonrando o legado que meus verdadeiros pais deixaram para trás, no caso eu mesma, não podia morrer sem arrependimentos nem nada, mesmo sem deixar nenhuma bagagem para trás meu subconsciente sempre me alertava que isso era um erro.

Acabo vivendo cada dia como se fosse qualquer outro, uma escuridão interminável somado á uma solidão desagradável, até onde chegarei desse jeito, qual é o meu propósito nessa vida...

Uma parte de mim costuma pensar que amanhã será um dia diferente e melhor, mas é apenas uma parcela, o todo sempre pensa o pior, o dia de amanhã e os seguintes serão uma grande droga, ainda me pergunto o porque estou aguentando isso tudo, será que realmente tenho esperanças para um futuro melhor? Será que alguém pode me ajudar? Alguém poderá me ajudar a ver as coisas de maneira diferente...

— Alguém...me ajude...


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