prólogo I

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Valéria
 
  — Gael, você precisa se casar com ela! — a voz de minha tia soou baixa e calculada, assim como aquela festa de casamento arranjado que acabávamos de descobrir, que tinha por objetivo no final, anunciar o casamento do meu irmão mais velho. — É pelo bem dessa família!

— Pelo nosso bem? — ele revidou, soltando-se dela, e olhando-a com desdém. — Nunca pensa em ninguém além de você, Hellen. Tem medo de que a gente afunde a empresa da família e por isso, corre para o lado onde a corda é mais forte.

Respirei fundo, ainda sem entender por completo, e segurei com força a minha bolsa.

— Ei! — ouvi a voz de Henrique, que segurou nosso irmão e fez um sinal de negativa com a cabeça. — Apenas fique até o fim, irmão. Não vai se casar com ela.

— Como ousa...

— Cale a boca, Hellen! — senti as mãos de Paola segurarem com força no meu vestido, e tive pena da minha irmã de apenas cinco anos. Nosso pai acabava de chegar, bêbado como sempre e a ponto de ter que ser carregado dali. — Vocês são todos uma vergonha... Se ao menos, Eliane estivesse aqui...

— A mamãe tá com as estrelas, né, tin tin? — olhei para a inocência de Paola, e fiz apenas um sinal de cabeça para Rique, saindo dali de imediato, e adentrando um grande corredor, que daria para a festa.

Parei por um segundo com ela, e me ajoelhei, sorrindo. Eu tinha apenas quinze anos, e não sabia muito sobre nada, mas sabia que não poderia deixar com que Paola fosse atingida por aquilo. Não como a gente foi.

— A mamãe é uma estrela. — apertei seu nariz e ela sorriu, com os olhos castanhos já mais animados. — E você é a nossa estrelinha. — girei-a no lugar, fazendo-a parar à frente da grande parede espelhada. — A gente vai entrar, comer, cantar kpop pelos cantos e depois vamos embora.

Ela assentiu, abraçando minhas pernas.

Olhei para o meu reflexo, e apenas consegui pensar que o ruivo dos meus cabelos estavam a cada dia ficando mais escuros. A nossa descendência coreana pela parte materna ainda permanecia, e era algo que tinha orgulho.

Ao menos, algo que poderia sempre me lembrar de minha mãe, no caso, todos nós. Pois nós tínhamos os olhos dela. Parte do motivo de nosso pai nos odiar.

— Ei! — ouvi a voz de Bianca, e me virei.

Paola se soltou e correu até a mesma, que a abraçou no ar. Ela era a única amiga que fiz em toda a vida. Talvez porque ela vivia no mesmo meio que eu, ou porque as nossas famílias eram próximas. Mas ela era uma das poucas pessoas que não me olhavam de cima abaixo, como se julgando o fato da minha família ser um verdadeiro caos.

E ela era boa em me fazer pensar em qualquer outra coisa, como suas roupas, joias e gostos. Além de termos um gosto musical parecido.

— Vem, a família do Murilo veio!

— Pode só ficar com Paola um minuto? — pedi, vendo um corredor que dava para o banheiro. — Só vou rapidinho retocar o batom. — ela assentiu, e saí a passos apressados dali.

Na realidade, eu só precisava respirar fundo, antes de entrar de fato naquela festa. Eu sentia os olhares. Eu sabia do porquê dos olhares. Minha tia já estava me vendendo para homens mais velhos ou com nomes importantes.

Joguei um pouco de água na nuca e fechei os olhos, pedindo internamente que pudesse apenas fugir logo dali com minha irmã a tiracolo.

— Sorria e finja que não sente nada. — repeti a mim mesma, e abri a porta do banheiro.

Ainda me acostumando com aqueles saltos altíssimos, senti meu corpo desequilibrar e bati contra um outro. De repente, senti a atmosfera toda mudar, e foi como se estivesse presa a uma das cenas dos doramas[3] que eu adorava. Senti o olhar escuro encontrar o meu, e ele era tão penetrante quanto fascinante. Só conseguia pensar em como ele era bonito, e como o toque dele sobre a pouca pele exposta na minha cintura, fazia-me sentir as borboletas voarem por todo o estômago.

O que estava acontecendo?

— Ei, sai da frente!

Senti alguém bater contra meu corpo, e fui empurrada ainda mais para o dele. A mulher adentrou o banheiro, e eu fiquei ali, ainda presa no homem desconhecido à minha frente. Ele me era vagamente familiar, mas ainda assim, não tinha ideia.

— Ah, vejo que conheceu o irmão mais velho do Murilo.

Dei um pulo para trás, e então notei que mesmo com o salto enorme, ele ainda era mais alto do que eu. Desde quando eu ligava para altura de alguém?

— Me desculpe, eu não te vi e...

Ele apenas assentiu, como se fosse encerrar a conversa.

— Tadeu, essa é a Valéria...

— Apenas Valéria. — falei rapidamente, e ela assentiu, como se entendesse meu receio com meu sobrenome. Ela sabia um pouco, na verdade. — É um prazer. — estendi a mão e seu olhar ainda me analisava, como se estivesse pensando se deveria ou não aceitar.

— Tadeu Reis.

Apertou minha mão, e novamente, senti meu corpo todo retesar, e de repente, não pensei em mais nada que não fôssemos nós dois, exatamente ali, no toque um do outro.

E no lugar menos inesperado, eu encontrei... o que sequer conhecia de fato – meu primeiro amor.


Gravida Do Ceo Que Não Me Ama Where stories live. Discover now