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— Ele me dizia que sentia falta da mãe e das músicas dela. 

— O senhor tentou explicar a ele o que havia acontecido com a gravidade do assunto? 

— Sim, eu expliquei o que havia acontecido com a mãe, que ela o amava, mas que estava muito doente e tudo que ele poderia fazer era dizer que a amava e demonstrar seu amor por ela. 

— O senhor conhecia o padrasto dele? Cláudio Marmo? 

— Conhecia, sim, ele ia à Igreja com a família nos domingos. 

— O senhor sabia que aos quinze anos o Frederico foi abusado sexualmente pelo padrasto dele, enquanto a sua esposa estava no quarto dormindo? 

— Não, senhor, eu não sabia.

O padre olhou para Frederico que ainda chorava baixinho. 

— Eu sinto muito filho — o padre falou. — Eu sinto muito que isso tenha acontecido e que eu não tenha notado. 

Frederico ainda matinha sua cabeça baixa apenas assentindo enquanto as lágrimas caiam. 

— O senhor não notou que o réu estava agindo diferente? 

O padre voltou a olhar para Jackson. 

— O Frederico até os quinze anos, mesmo com a mãe doente e o trauma de perder a irmã que ele mais amava no mundo, ainda era bom garoto, mas depois começou a ficar distante novamente. 

— O senhor chegou a questionar ele? 

— Sim, é claro, ele disse que não era nada, mas eu sabia que havia alguma coisa, o olhar dele estava diferente, começou a procurar brigas, algo que não fazia. 

— E o padrasto chegou a conversar com ele? 

— Sim, eu fui até a casa deles para saber notícia da Carolina como fazia sempre e perguntei ao Cássio se estava acontecendo alguma coisa e ele me negou dizendo que tudo estava bem.

— Contou a ele o porquê da pergunta? 

— Sim, eu disse e ele falou que iria conversar com o Frederico para saber o que estava acontecendo, mas ainda, sim, não estando satisfeito com o que havia conseguido, perguntar a Hilda, a vizinha que trabalhava na casa cuidando da Caroline, se ela havia notado algo, mas me disse que o Frederico sempre ajudava com a mãe dava os remédios direitinho e penteava os cabelos dela e dizia que a amava. 

— Então nunca passou pela sua cabeça que o padrasto estaria abusando dele? 

— Se eu soubesse que algo terrível estava acontecendo, eu teria ajudado o Frederico. Ele sempre foi um menino de ouro.

— Qual foi a última vez que o senhor viu o réu? 

— Quando ele fez dezesseis anos, logo depois da mãe morrer ao tirar a própria vida. 

— O que aconteceu com a mãe dele? Ela estava em estado profundo de depressão, como conseguiu pensar em tirar a própria vida? 

— Os dois estavam sentados na cozinha, tomando café. Hilda saiu por alguns instantes e Frederico ficou com a mãe dele. Quando ela pegou a faca e passou na garganta, o sangue espirrou no rosto dele.

— O que aconteceu aos dezesseis anos? 

— Um dia chegou na igreja, já era noite e se sentou em um dos bancos vazios e eu me aproximei dele e vi sua mão sangrando, perguntei o que havia acontecido e ele me disse que socou a parede. 

— Ele contou o motivo? 

— Ele não disse o motivo, mas começou a chorar e agradecer por eu ter-me preocupado com ele. Quando se acalmou, pediu a bênção e saiu.

Amores Doentios |+18| |Concluída|Onde histórias criam vida. Descubra agora