SPAM-FANTASY - Livro I (Capítulos Finais)

8. A Dama da Lua - A Saga do Mago Cintilante, Parte I

Eu estava apavorado com aquela criatura, e mais ainda com o jeito estranho que Caio agia. Aquele era o mesmo jogo idiota que apareceu na tela do meu computador? Imaginei que seria divertido no momento que cliquei no anúncio. O pior de toda essa merda, é que tudo parecia ser real. Sintia tudo em minha volta: o ar nada poluído, a temperatura, o chão embaixo dos meus pés... Não conseguia imaginar até que ponto isso ia dar.

Seguindo o plano nada arriscado de Henrique, fugíamos feito ratos de um felino faminto. E que felino, ein? A troll era o triplo do nosso tamanho, sua aparência era terrivelmente medonha, sem contar nas unhas dela, precisava urgentemente de uma manicure. Segundo Henrique, ela só queria o seu filho, mas será que era só isso mesmo? Percebi que no pescoço dela tinha uma espécie de colar feito de crânios, seria um lebrente de suas vítimas?

Já estava cansado, e é que nem fazia muito tempo que estávamos naquela perseguição - olha no que dá ser um sedentário. Com espécie de martelo feito de uma mistura de tronco de árvore com pedras pontiagudas, a troll avançava pra cima da gente com bastante fúria, dava pra sentir o desespero dela pra recuperar a pedra oval que Caio carregava. E foi nessa agonia pra desviar de seus ataques em meio àquela corrida, que acabei me desequilibrando devido a capa longa e feiosa que usava. Tentei recuperar o ritmo da minha postura e continuar correndo, mas fui surpreendido com uma árvore logo em minha frente. Graças a ela me livrei da troll maluca e pude tirar uma longa soneca bem alí mesmo, na floresta mais sinistra e nada segura que já conheci na vida.

Depois que abri meus olhos já era noite. O céu noturno iluminado por uma lua estranhamente rosa, se fechava com o acúmulo de nuvens negras carregadas. "Será que vai chover?".

Ainda estava no mesmo lugar onde me separei dos meus amigos, no tronco daquela árvore idiota que esbarrei. No entando, por algum motivo, quando acordei não estava debruçado no chão como eu deveria estar depois daquela pancada. Pelo contrário, acordei sentado e encostado no trono da mesma árvore. Eu já tinha noção que aquela floresta era pavorosa, e sabendo dessa hipótese, o meu medo só aumentava.

Me levantei e logo senti uma dor horrível no meio da minha testa. Passei meus dedos sobre o local e identifiquei a região pelo desconforto. Não podia nem arquiar uma das sombrasselhas, pois no mesmo instante, uma pontada surgia. Rezava pra que o ferimento não fosse tão grave e que não deixasse uma daquelas cicatrizes feiosas no meu rostinho lindo - resultado das horas gastas de skin care.

Seguindo caminho, me apoiava no meio das árvores tentando refazer os passos em que ví o Henrique e Caio fazerem ao fugirem, mas devido a pouca iluminação e o receio do que poderia está em minha volta, meu plano não parecia funcionar. Teimoso do jeito que sou, continuei a procurar pela trilha quase invisível que eles haviam deixado para trás - como árvores danificadas e rastros no gramado devido aos enormes pés daquela criatura. Depois que andei muito, e sem chegar a lugar algum, acabei me dando por vencido.

Aproveitei uma das árvores danificadas pela troll, e me sentei em seu tronco perfeitamente cerrado.

- Que ódio, que ódio desse lugar! - resmunguei furioso, porém contido.

Não me segurei e acabei descontando na capa idiota responsável por tudo aquilo.

- É tudo culpa sua, coisa horrorosa! Quem usa um tecido tão brilhante assim?! Que brega e ultrapassado! - indaguei sério, imaginando que o tecido realmente estivesse me escutando.

Após pisoteá-la, voltei a me sentar pra tentar diminuir o nível de frustração que estava sentindo naquele momento. Não era só raiva, mas também uma mistura de tudo que havia acumulado desde o momento em que me toquei do cenário cabuloso e confuso que me enfiei. E pra deixar o clima ainda mais good vibes, sentia minha barriga roncar feito uma fera faminta. Era o que faltava pra deixar tudo do jeito certo para um surto meu começar.