1. A Partida dos Sonhos

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- Henrique, sai desse quarto e vem jantar! - Minha mãe gritava da sala.

- Não! Tô sem fome! - a respondi, sem um pingo de interesse.

Eu estava todo largado na cama, sem fazer nada e de pijama, olhando para o teto. Era noite de Sábado. Quem faz algo produtivo nesse dia? Só os que não curtem o sossego. Peguei meus headphones azuis, abri um app de música qualquer, e ponho Evanescence pra tocar no último volume. "Agora eu quero ver quem vai me atrapalhar!" - Era o que pensava, até notar o clarão do meu computador ligar. Achei que era os meus amigos chamando pra perderem de novo no Fortnite.

Ainda com meus fones, vou até o computador e plugo eles no aparelho de áudio. Agora conseguia ouvir o chat do grupo que agente utilizava.

- Eaí, seus fracassados! - iniciei o papo.

- Eaí! - Eles responderam.

No chat estava: Eu, Caio, Eduardo e mais alguém com um nickname que não reconhecia.

- Quem é esse flor_de_cerejeira? - li o nome do perfil que não conhecia.

- É a Lídia. - Caio respondeu.

- Lídia? Que Lídia?! - perguntei curioso. No momento, não fazia idéia de quem era a tal.

- A Lídia da Sala ao lado... Aquela lá. - ele explicava.

"Lídia? Espera, ele tá falando da garota mais linda do mundo?" - Tá, eu sabia bem quem era, inclusive, sua fama. Lídia, era uma garota trans. Ela praticamente não teve muita escolha ao revelar isso, pois uns panacas do colégio o fez da pior forma, espalhando para escola inteira a "novidade". Aquilo foi horrível. Eu vi muitas pessoas se distanciarem dela, como se fosse alguém contagioso. Não conseguia entender o que essas pessoas pensavam, não ligava para isso. Naverdade, nunca liguei.

Mesmo antes disso, confesso que sempre tive um crush secreto por ela, desde que a ví com aquele sorriso perfeito, cabelo escuro e olhos delicados passando por mim no começo do ano. Foi automático. Se os meus amigos soubecem disso... eu estaria ferrado.

- Você lembra dela, né, Henrique? - Caio perguntou.

- Aham, claro. Como não lembrar. Espera, aí! O que quer dizer com isso?

- Lídia, tá aí? - ele a chama.

- Sim. - ela o respondeu, com aquela voz fofinha. Quase tive um treco.

- Tá quieta. Algum problema?

- Não... Eu só queria perguntar se posso colocar mais alguém na call.

- Pode! - a respondi ligeiramente, atropelando a fala de quem a fosse respoder.

- Quê que isso, Henrique? Calma! - Caio brincou. Ouvia sua voz abafada, talvez estivesse rindo.

- Foi mal. - envergonhado, bati em meu rosto. "Era assim que iria disfaçar meus sentimentos? Que imbecil!".

- Pode sim, Lídia. Chama quem você quiser, contando que saiba jogar...

- Ahh tá. Vou chamar uma amiga. Obrigado pessoal!

Se eu estivesse certo, a amiga que ela falava era Sidney. Ela vivia apregada com essa garota pra tudo que é lado no colégio. Ela é loira, tem olhos claros e falava bastante. Ah, eu ouvi uma história sobre ela, em que parece que a mesma batia nos alunos que xingavam ou faziam piadinhas com a amiga por ser trans. Ainda bem que eu gostava dela, o que é o oposto, não é motivo pra ela me espancar, certo?

- Falando em amigo, cadê o Eduardo? Não ouvi a voz dele ainda. Ele morreu? - perguntei.

- Agora que você falou... também não sei. - comentou Caio.

SPAM-FANTASY - Livro I (Capítulos Finais)Where stories live. Discover now