12. A Peça de Aço

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A cautela era um quesito que ainda não havia me acostumado, principalmente quando se exigia o dobro dela.

Segundo Dante, o galante e formidável cavaleiro da antiga corte de Golden Castle, criaturas horrendas de aparências nunca descritas perfeitamente, rodavam por toda a cidade surpreendendo quem for que cruzasse seus caminhos. Eram frutos da Semente, soldados provindos de ódio e pervesidade - assim como a Administradora descreveu.

Por causa delas a cidade estava daquele jeito, vazia. O medo era o que as fortaleciam e, aos poucos, multiplicavam-se feito pragas sem trégua. Dante contou-me sobre o momento da chegada delas, que não fazia tanto tempo assim, naqual mais da metade dos habitantes residentes alí foram rapidamente apagados do mapa. Esse é o poder que tinham; estavam limpando terreno para o grande ato que viria.

Enquanto percorria um estreito caminho por um túnel subterrâneo, conhecidentemente tendo uma das entradas no mesmo lugar onde havia chegado à cidade, o cavaleiro, que caminhava em minha frente, não recuou um segundo em seu papel de guia, buscava a todo instante uma resposta precisa para as perguntas que o fazia.

- Esse lugar, esse que mencionou mais cedo, como vocês o descobriram? - perguntei.

Em frente, havia uma parte mais íngreme do túnel para onde iríamos ultrapassar, aos poucos, e com calma, buscávamos a todo custo desviar de pedras pontiagudas espalhadas por todo o processo. Estava cada vez mais fácil me enroscar ou tropeçar por alí, as extremidades estavam se comprimindo. Dante, por outro lado, visualisava tudo aquilo com um instinto aguçado, desviava de todas. Não era a primeira vez que ele fazia aquele percurso, presumi.

- Não o descobrimos, Escolhido, só o reaproveitamos.

- Então, ele já existia... - tentei entender.

- Exato. Mesmo antes de nascer, ou meus pais, sempre existiu esses túneis por debaixo da cidade - ele pulou uma pedra estreita. - Antes, onde tudo por essas bandas era tomado por vegetação, Golden Castle era uma espécie de colônia subterrânea rica em posse de uma grande mineração de pedras preciosas; o povo que a administrava, os fundadores, eram de uma raça quase extinta deste mundo, denominados Druídas. - ele fez uma pausa repentina.

Após passarmos pela parte estreita do túnel, se deparamos com três bifurcações. A primeira, a da esquerda, e a mais íngreme, era a que menos me chamava atenção, pois o seu interior era coberto de obstáculos indesejáveis, os mesmos que acabamos de nos livrar; diferente da segunda, a do meio, onde sua estrutura era mais acessível, pois quase não havia rochedos espessos ou estalactites avantajadas, uma pena que era tomada por uma intensa escuridão misteriosa; no entando, a terceira era que mais adequava-se aos meus olhos, como os de Dante também. Cristais cor de rosa de tamanhos variados, iluminavam todo o caminho por dentro, como se fossem luzes de uma árvore de Natal. Era tão lindo e atrativo.

- Eles eram bem espertos... - fiz uma pose relaxada ao lado de Dante. Ele parecia está relembrando de qual bifurcação era a correta. - Se perdeu?

- Não é isso. - ele parecia preocupado.

- Qual o problema com os túneis? Assim, por via das dúvidas, é sempre o mais "duvidoso" que é o certo. Acredite, já me ferrei todo em jogos assim, até perdi todas as minhas vidas e tive que reiniciar. Muito doído!

Sem sequer me olhar direito, ele foi até uma parte escura da parede onde havia uma notável rachadura, a mesma estendia-se em boa parte da região. Ela era profunda, a primeira vista não me reteu atenção.

- Então é isso... - ele disse pensativo ao tocar uma delas.

- "Isso" o quê?

- Não tá vendo? Olha mais de perto. - ele me indicou. Assim fiz.

Forçando mais a visão, pude notar algo no fundo da pequena fissura, eram raízes em um tom rosa brilhante, raízes mágicas. Aquilo era ruim, eu podia sentir.

- Viu?

- Não me diga que aquilo é o que tô imaginado... - ele fez um expressão afirmando. - Caramba. Então temos que correr daqui!

- Não é tão simples assim... - ele baixou a cabeça.

- Que história é essa! É claro que é! - fui até a entrada do túnel que havia elegido anteriormente, o brilhante e iluminado. - Vamos para essa tal de Refúgio Subterrâneo, que você denominou ser o lugar mais seguro dessa cidade, e pronto! Estaremos seguros.

Ainda cabisbaixo, ele começou a conferir todas as fivelas e botões que prendiam sua armadura; fez alguns movimentos com o corpo para assegurar que tudo estava no seu devido lugar. Sem pretenção alguma, arrumou graciosamente alguns dos fios de seu longo cabelo loiro que o impedia de enchergar. Após ter feito tudo aquilo, ele deu passos firmes até a entrada daquele mesmo local.

E alí, em guarda e com sua espada empunhada, ele me disse seriamente:

- Continue pelo caminho, Escolhido. Não pare por nada.

Minha reação foi imediata: uma grande interrogação pairava sobre minha cabeça. Por que ele estava fazendo aquilo, se existia um método melhor onde ninguém ficaria para trás?

- Tá maluco, seu idiota! Mesmo que você seja forte o bastante, existe uma saída melhor pra essa situação. Use a cabeça! - gritei para ele. Existia uma distância considerável entre nós. - Não é hora de ser um herói. Se liga!

- Eu não estou sendo idiota! - ele me fez ficar atento. - Ser um herói é ajudar milhões... bilhões, mundos cheios de vida. Então, não. Eu não serei um desses! Eu serei a peça de aço que irá forjar o maior entre eles.

Bem naquele exato momento, ouvimos barulhos altos de passos - era como se fossem terremotos furiosos vindo em nossa direção. Tendo a certeza do que era aquilo, meu corpo fraquejou. Dante refez sua postura de guarda, segurou mais firme o cabo de sua espada. Estava mais que pronto para o que viria.

- Fuja Agora! - ele esbravejou no momento que o som estava cada vez mais próximo.

- Eu não vou deixar você pra trás! Não sou covarde! - tentei o convencer a lutar ao seu lado, mas ele negou usando uma espécie de impulso, me empurrando para o caminho oposto do dele.

- Eu acredito em você... Ache o Tesouro Real, impessa a Semente. - foi a única coisa que ele disse antes que usasse aquela mesma habilidade pra fechar a entrada do túnel, onde eu estava.

Rapidamente, após o desmoramento, corri até ao amontoado de rochas que bloqueavam o caminho. Buscava encontrar uma passagem para voltar até onde ele estava, mas já era tarde demais. Um rugido atrás do outro, misturado com os ruídos abafados de uma lâmina, foi o que conseguia ouvir por trás daquela imensa parede de pedras. Quando ouvi um em específico, um que não queria ouvir, soquei em desespero aquele bloqueio até meus punhos ficarem tomados da cor intensa de sangue.

 Quando ouvi um em específico, um que não queria ouvir, soquei em desespero aquele bloqueio até meus punhos ficarem tomados da cor intensa de sangue

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