3. A Guardiã da Floresta Esquecida

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"Consegui? Realmente deu certo?", era o que me perguntava, enquando conferia se cada parte do meu corpo ainda estava no lugar.

Depois que passou aquele momento do "aceitar que realmente estava vivo", procurei pelo Eduardo, estava curioso pra saber se o coitado bateu às botas - vai que ele não teve a mesma sorte. Ao me virar para trás, finalmente tive a resposta: ele estava inteiro, só que deitado no chão com seus olhos arregalados, presumi que estava em algum estado de choque, sei lá.

No entando, ao vê-lo alí estático, por um momento, senti que ele poderia não ter sobrevivido aquilo tudo; tive a iniciativa de tentar acordá-lo. Não queria perder meu amigo, muito menos o que mais me fazia raiva.

- Eduardo, Eduardo! - o chamava, mas sem sinal de resposta. Minha angústia só aumentava.

- Eduardo, caramba, acorda! Não é hora de fingir de morto! - sem nenhuma resposta.

Aflito do jeito que estava o vendo daquele jeito catatônico, sem mesmo me olhar ou me xingar como fazia, senti o peso da culpa chegar. Imaginava que, se caso conseguisse sair daquele lugar, daquele maldito lugar, o que falaria pra sua família? O que diria pra seu irmãozinho que ele tanto brigava?

Eu seria visto como um sobrevivente? Como me enchergariam? A resposta era simples: eu seria só mais um garoto que passou por algo inexplicável, e, mesmo que sobreviveu, deixou para trás pessoas que mereciam muito mais o lugar em que eu estava. Iriam me odiar para sempre.

Eu não aguentei, pela primeira vez depois de muito tempo, chorava como se fosse algo comum pra mim. Era algo raro e estranho, tinha me esquecido o quanto aquilo era bom e tão... humano? Meus olhos vazavam como se fosse uma forte correnteza e, por alguma razão, minha respiração estava maluca, pois soltava espasmos espontâneos, eram soluços. Tinha esquecido que aquilo também fazia parte.

Rendido por pura raiva e tristeza, segurei uma das mãos dele, eu só queria me desculpar por não ter feito o suficiente. Porém, ao tocá-lo, algo misterioso aconteceu: os seus olhos, que antes pareciam fixados ao nada, de repente, começaram a iluminar-se em tons rosa e verde - da mesma forma que ocorreu quando o bilhete surgiu para mim na torre anteriormente, eles chuviscavam como uma tv sem sinal. Era bizarro.

Após alguns instantes, ele começou a despertar.

- Henri-que? - ele perguntou, enquanto acostumava-se com a luz do ambiente em que estávamos.

- Isso, sou eu. Espera, você lembra quem eu sou?

Ele levantou-se e me lançou um olhar sério.

- Claro, seu idiota. Acorda!

Me levantei e disse aliviado:

- Ah, nossa... Finalmente!

- Não entendi o porquê desse alívio todo. Calma aí, - ele se aproximou, e começou a encarar meu rosto. - você tava chorando? E por que tá de pijama?

- Quê?! Não! Nada haver, não tava chorando.

Limpei meu rosto diversas vezes, tentando disfarçar o episódio de minutos atrás.

- Foi um um cisco...

- Aham, sei... - ele disse, desconfiado.

Vendo-o alí bem, mesmo trajando as mesmas roupas esquisitas de antes, o peso do medo de antes ainda martelava na minha consciência. "Será mesmo que ele tá bem?", era só o que se repetia na minha cabeça.

- Tem certeza que tá bem?

- Tô! - ele respondeu em desdém, averiguando o lugar onde estávamos.

- Então... Você lembra do que aconteceu mais cedo? - me dispus em sua frente, ainda preocupado.

SPAM-FANTASY - Livro I (Capítulos Finais)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ