3- Podemos Fazer as Pazes?

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Com meu isqueiro, acendi o cigarro e levei em minha boca enquanto olhava pela janela do quarto, sentado no peitoril da janela eu olhava as ruas, estava chovendo e não tinha ninguém andando por aí além de alguns poucos carros que passavam devagar, a luz dos postes ligados batia nas poças de água pelas ruas de pedra e refletiam de modo muito bonito, eu encarava a paisagem de minha rua, pensando um pouco no rumo da minha vida e em como eu ia cuidar daquela criança ruiva e birrenta que eu achei, soltei o ar junto a fumaça pela minha boca e então olhei para a cama, lá estava ele, dormindo como um bebê e abraçado no meu travesseiro, o que eu falaria quando minha mãe chegasse do trabalho? E se ele tentasse atacar ela? Eu não queria ter que sedar ele de novo, muito menos ter que bater nele por defesa caso tentasse matar a gente com algum caco de vidro de novo.
O banheiro já estava mais seguro, depois que ele desmaiou eu limpei todas as manchas de barro que havia no quarto e me certifiquei de manter o banheiro seguro sem nenhum caco de vidro no chão, joguei tudo no lixo e coloquei para fora para ter certeza absoluta de que Chucky não iria acabar pegando outro pedaço de vidro e enfiando em meu braço como ele fez mais cedo, depois de tudo limpo eu dei um banho nele e o vesti com algumas roupas do meu primo que eu achei espalhadas pelo quarto de visitas, eu tenho uma tia e essa tia tem um filho chamado Johnny, de dois anos, às vezes ele e minha tia vem nos visitar, logo no quarto de hóspedes já tem algumas roupas deles, alguns acessórios da minha tia, uns dois pacotes de fraldas, talco e outras coisas dos dois, então me aproveitei de que Chucky e Johnny tem o mesmo tamanho e peguei algumas roupas do meu primo emprestado.
Voltei o cigarro à minha boca enquanto permanecia parado, observando Chucky dormindo e refletindo mais um pouco.

"Me deu uma fome..."-Pensei-"Vou fazer um miojo para mim, mas o que eu faço com a temida criança?"

Tirei o cigarro da boca e assoprei a fumaça, ainda o encarando, apaguei o cigarro o empurrando contra o cinzeiro acima do peitoril da janela e deixei o cigarro por lá, me levantei do peitoril e andei até a cama devagar e com cautela, me aproximei da cama o suficiente para levantar um pouco meu braço e tocar os cabelos ruivos do dorminhoco, fiz um cafuné lento e cuidadoso em sua nuca e a única resposta que tive de Chucky foi um leve sorriso enquanto ainda dormia, talvez ele não fosse acordar dentro dos próximos três minutos, então decidi que se fosse rápido o suficiente, caso ele acordasse logo, eu já estaria aqui para vê-lo e mantê-lo longe de coisas que pudessem ajuda-lo a cometer um assasinato.
Me afastei da cama devagar em direção a janela e a fechei com cuidado, logo depois dei passos lentos até a porta do quarto e sai, a fechando devagar, por um segundo questionei em trancá-la, e logo decidi que seria mais seguro tanto para mim quanto para ele, não quero acabar enfiando um garfo na perna do bonequinho ruivo, minha consciência ia pesar em ter que cuidar dele depois, tranquei a porta do quarto e andei em direção a escada, desci degrau por degrau em silêncio até chegar na sala de entrada, onde achei Tutu, você não leu errado, meu gato chamado Tutu, um gatinho jovem e vira-lata, de pelagem marrom com algumas manchinhas em tons mais escuros e olhos caramelos, eu achei ele na rua há cerca de um ano atrás enquanto voltava para casa em um dia de segunda, fui para escola sozinho e voltei com um gato, o Tutu.

--O que você estava fazendo na rua durante o dia todo Tutu? Tá procurando alguém, é?

Perguntei me abaixando, Tutu veio rapidamente para cima de mim recebendo um carinho na cabeça.

--Vamos te alimentar também, você parece faminto.

Me levantei e fui até a cozinha com Tutu de companhia,abri um dos armários nos balcões da cozinha e peguei o pacote de ração de Tutu, logo depois fechei o armário e fui até a vasilha de comida do gato, onde ele já esperava sua refeição, coloquei um pouco de ração no pote de Tutu e observei o bixano comendo por alguns segundos, logo me lembro que devo ser rápido já que Chucky estava sozinho no andar de cima, eu me levanto e vou até o armário, guardando o pacote de ração, logo após começo a preparar meu miojo.
Cerca de cinco minutos depois, comecei a subir as escadas enquanto assoprava o miojo quente no meu prato, subi as escadas e destranquei a porta para entrar no quarto, assim que abri a porta, me deparei com Chucky escorado na parede enquanto tentava se manter em pé.

--Tá tudo bem aí?

Seu rosto se levantou e Chucky começou a me encarar profundamente com raiva, mas parecia estar acabado de sono e cansaço.

Chucky: Q-que porra você f-fez?
--Relaxa, daqui a pouco o efeito passa.

Entrei no quarto e fechei a porta, a trancando em seguida, voltei a encarar Chucky nos olhos enquanto como uma garfada do macarrão instantâneo, Chucky continua me encarando por alguns segundos antes de cair sentado no chão.

Chucky: Ow...
--Machucou o bumbum aí, criança?
Chucky: Se for para ficar falando merda, cala a boca.
--Tá bom garoto, desculpa.

Ando até a cama e me sento, ainda olhando para ele.

Chucky: O que você fez enquanto eu dormia?
--Só coloquei em você uma roupa que não faz parecer que você, como posso dizer, se cagou.
Chucky: ...Você passou a mão pelo meu corpo?

Paraliso por um segundo e minha mente vai a mil.

--Ai meu Deus, não me diga que você já sofreu pedofilia...
Chucky: O que?! Não! Eu só não acho que você faria algo bom comigo depois de me sedar!

Percebo a força que o boneco está colocando em suas mãos e pernas na tentativa de se levantar, mas pelo visto falhando, coloco meu prato na cama e me levanto, indo até o boneco, eu o vejo me encarando confuso e estranhando cada vez mais a minha aproximação, me abaixo e coloco minhas mãos por baixo de seus braços, o levantando e depois o segurando em meu colo.

Chucky: Aí! Me coloca no chão agora!

Chucky disse tentando aumentar o seu tom de voz enquanto me dá mini chutinhos.

--Calma ai neném, eu tô tentando te ajudar!
Chucky: Vai me ajudar muito se me tirar da sua casa! E nunca mais se atreva a me chamar de neném, escutou!?

Voltei a andar em direção a cama enquanto Chucky continuava a me chutar e tentava sair dos meus braços, me sentei na cama com Chucky sentado em meu colo e nós nos encaramos por alguns segundos.

Chucky: Escuta aqui seu imbecil, eu não estou brincando ouviu? Me solta antes que você tenha um destino muito pior que a morte...

Ele me encarou profundamente enquanto falava, o encarei de volta e logo respondi.

-Por que você já acordou puto desse jeito? Tá com fome?
Chucky:Eu falei que quero ir embora, sua peste!
-Escolhe outra coisa, você é meu agora, não vai deixar de morar comigo.

Chucky tenta me dar um soco na cara, mas ainda estava muito fraco pelo efeito do remédio e acabou caindo em cima de meu meu peito, eu o segurei pelas costas enquanto ele tentava me empurrar e tentava gritar comigo, mas sua voz saia rouca e não muito alta.

-Calma criança, tá tudo bem.
Chucky: Eu não sou uma criança seu filho da puta! Me solta agora!
-Isso é fome, é? Quer que eu faça um mingau para você?
Chucky: Não. Se. Atreva.

Me levantei e segurei Chucky no colo, olhei para o meu pratinho de miojo triste e me despedi, começando a andar até a porta do quarto enquanto levava chutes e socos do Chucky. Desci as escadas e fui direto para a cozinha enquanto Chucky permanecia a tentar se soltar de mim, coloquei ele acima de um um balcão e o segurei lá enquanto o encarava.

Chucky: Me solta agora!
-Olha, vamos fazer as pazes?
Chucky: Como, am? Você tá me prendendo dentro da porra da sua casa a mais de horas!
-Eu não quero brigar cara, eu tava brincando quando te chamei de criança.
Chucky: Eu ainda quero sair daqui, me solta.

Chucky olhou para o lado por alguns segundos e então voltou a me encarar nos olhos, mudei meu ponto de visão para onde ele havia olhado durante alguns segundos e vi a gaveta de garfos, colheres e facas estava aberta, eu havia esquecido de fechar quando estava fazendo o miojo, pensei por alguns segundos e logo lembrei de algo que poderia me ajudar a prender Chucky por um tempinho, o cadeirão do Johnny, ele tem um cinto para a criança que estiver no cadeirão não sair no meio da refeição ou se machucar, aquilo talvez prendesse ele até suas forças voltarem ao normal.

-Olha, eu não quero ter que te prender.
Chucky: Você já fez isso, seu desgraçado.
-Você age como se eu tivesse te espancado, eu só te trouxe para casa, preferia ficar no meio da chuva uma hora dessas?
Chucky: Qualquer coisa é melhor do que ter que ficar aqui com você.

Ele aproximou seu rosto do meu com um olhar ameaçador.

-Quer me beijar amigo? Vamos fazer um Enemies to Love?
Chucky: Você é idiota...

Chucky tenta me dar um chute na barriga mas eu desvio, ainda o segurando sentado no balcão, eu tenho que achar um jeito de prender ele e tentar conversar melhor, mas esse filhote de boneco não deixa, eu o encaro nos olhos tentando trazer a atenção inteira dele para meu rosto, ele me encara profundamente de volta e eu vejo suas pupilas se tornando menores junto ao brilho de seus olhos, ele realmente me odeia, que incrível!
Coloco minhas mãos por baixo dos seus braços o mais rápido que posso e o levando, suas tentativas de me chutar falham várias vezes até eu receber um chute no peito, aquele baixinho tinha mais força do que parecia...Coloco ele no cadeirão e fecho o cinto no mesmo segundo, apenas escutando um grito de raiva vindo do boneco, me fazendo se afastar dele.

Chucky: ME TIRA DAQUI!

Ele batia na mesa, com os olhos fechados com força e as sobrancelhas marcadas.

-Calma, relaxa...

Tentei falar com ele, mas logo percebi que tinha deixado ele no limite fazendo essas brincadeirinhas com ele.

Chucky: ME TIRA DAQUI AGORA! ME TIRA DESSA PORRA!

Ele continuou a gritar e bater seus braços e pernas tentando sair de lá, me aproximei um pouco dele e tentei acalmá-lo.

-Calma, respira.

Peguei os pulsos dele para que parasse de bater-los na mesa antes que se machucasse ou quebrasse algo, Chucky levantou seu rosto e me encarou com suas pupilas minúsculas.

Chucky: ME. SOLTA.
-Calma, eu to tentando ajudar.
Chucky: VAI ME AJUDAR MUITO ME SOLTANDO!
-Agora não, você tá pocando de raiva.
Chucky: ESCUTA AQUI...

Comecei a massagear as mãos de Chucky enquanto ele tentava tirar suas mãos de dentro das minhas.

Chucky: Solte as minhas mãos...
-Já tá falando mais baixo.
Chucky: SOLTA!
-Ai minha nossa...

Segurei as mãos de Chucky em cima da mesa com uma de minhas mãos e a outra eu comecei a massagear seu cabelo.

Chucky: PARA COM ISSO! TIRA A MÃO DO MEU CABELO!
-Mais cedo quando eu fiz cafuné em você, você parecia ter gostado muito.
Chucky: Que?! Quando foi isso?!
-Pouco tempo antes de você acordar.

Comecei a descer minhas mãos pelos seus cabelos até chegar em sua nuca.

Chucky:...Hm...
-Tá gostando?
Chucky: Cala a boca...

Aos poucos, senti as mãos de Chucky ficando mais leve e suas pernas se tornaram mais calmas, eu fiz o milagre de deixar aquele estressadinho calmo, sua cabeça aos poucos ficou um pouco bamba e ele parou de me encarar.

-Eu vou te dar comida, não precisa se estressar.

Eu soltei suas mãos e continuei a fazer cafuné em seu cabelo.

Chucky: Não tô estressado por causa de comida, seu estúpido.
-Eu não quero ficar sozinho, eu queria companhia, se fizermos as pazes você fica aqui em casa comigo?

Chucky levantou sua cabeça e me encarou um pouco, suas pupilas já estavam maiores e suas sobrancelhas não estavam mais marcadas, poucos segundos depois de me encarar ele começou a olhar envolta.

Chucky: Só até, seja lá quem mora com você, voltar.
-Valeu bebê.
Chucky: Não me chame assim.

Tirei a mão de sua nuca.

-Você tá com fome né?

Ele me olhou de novo e logo depois olhou para o outro lado, com uma cara um pouco emburrada.

-Isso é um sim ou um não?

Sem respostas.

-Ok...Vou fazer um mingau para você ,ok?

Silêncio novamente, me curvo um pouco tentando olhar o rosto de Chucky mas ele persiste em manter seu rosto longe de meus olhos.

-Ok.

Me levanto e faço novamente um cafuné em sua cabeça, logo após indo para a cozinha.

2245 palavras

Nota final:

:D

vou tentar publicar mais dois capítulos hoje pq to devendo para vocês já que ontem n deu tempo.

Foto do dia:

Não pergunte, eu não sei

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Não pergunte, eu não sei.

Te Adoto Como Meu BonecoWhere stories live. Discover now