Saiu da cozinha sem pegar os biscoitos, e com os olhos cheios de lágrimas, sua mente girava em torno das — malditas, severas e deprimentes — instruções:

1- Não grite
2- Não brigue
3- Não seja motivo de fofoca
4- Não blá-blá-blá
5- Não faça sabe sei lá oque
6- Não um monte de abobrinha

Não se sabe quantos nãos se passou na cabeça de Naruto naquele instante. Só sabia que não podia fazer isso e nem aquilo, nem aqui é nem acolá.

Ele podia esquecer o próprio nome, mas nunca as instruções. O modo como foi ensinado sua vida inteira não lhe permitia outro comportamento, não lhe permitia pensar em nada além daquilo que o ensinaram. Só podia chorar e se sentir intimidado. Não foi lhe ensinado a se defender, nem a revirar alguma ofensa

26- Não refute e blá-blá-blá

— Naruto!

Seu corpo se encontrou com o de seu marido em um trombo. Quando Naruto sentiu a presença do alfa inundada em preocupação, já não conseguia mais segurar as lágrimas e os soluços.

— O que aconteceu? Está machucado? O que houve? — via urgência alí.

— Não sou bem vindo aqui! — Falou entre soluços.

Sasuke segurou as laterais de seu rosto e beijou suas pálpebras.

— Quem lhe contou tamanha mentira? — perguntou, enquanto puxava-lhe até que a cabeça do loirinho estivesse deitada sobre seu peito.

— As vezes, ações valem mais que mil palavras — mais lágrimas romperam pelos olhos

O alfa sentiu o seu eu interior protestar devido às lágrimas grossas do ômega em seus braços. Respirou fundo e soltou o loiro de seu abraço. Entrelaçou sua mão à do loiro e seguiu pela casa.

Sasuke, mesmo furioso, puxou o ômega pela mão com cuidado e desceu com ele até o andar de baixo. Quando chegou na cozinha, teve outra onda de raiva, ao ver as empregadas gargalhando alto e fofocando sobre o seu ômega.

— Sério?! O senhor Sasuke não tinha coisa melhor pra arrumar? Aquele ômega é tão idiota. — uma delas falou

As outras gargalhavam e a senhora que falava francês apenas continuava com seu serviço, rindo vez ou outra.

Sasuke permaneceu parado, somente ouvindo, até que sua já diminuta paciência se esvaiu.

— Ele poderia ter arranjado coisa melhor, com certeza!

Um rosnado fez com que todos os empregados se virassem assustados e encolhidos pela presença nadinha amigável do alfa.

— E você seria melhor que ele? —

As empregadas endireitaram a postura e pararam uma do lado da outra, fazendo uma mesura exageradamente sincronizada para o chefe da casa. Naruto se escondia atrás de seu marido e apertava sua camisa nas mãos.

— Me responda mulher...  Você seria melhor
que ele?!

— N-não foi o que eu quis dizer s-senhor. — gaguejou sentindo cada canto do seu corpo tremer de puro medo

Sabiam que seu chefe não pensaria duas vezes antes de atirar em suas cabeças.

— Não? Pois saiba, isso não condiz com o que ouvi

Sasuke se controlava para não intimidar ou machucar seu ômega. Estava ali para defendê-lo e honrá-lo, a última coisa que desejava era fazer o contrário disso.

— Prestem atenção no que eu vou dizer, se eu escolhi Naruto Uzumaki como meu ômega, é porque melhor que ele, não existe. Comecem a respeitá-lo, porque ele também é o chefe de vocês e se ele quiser pode demitir qualquer um que nessa casa trabalha.

Concordaram com a cabeça, já sentindo a vergonha e chateação pela bronca. Todos ali trabalhavam para Sasuke a anos, e nunca tinham visto o alfa tão irritadiço como agora.

— Se esse tipo de problema se repetir, esperem pela perda de seus empregos e suas cabeças — disse e todas concordaram rapidamente.

— O senhor deseja alguma coisa, Senhor Uchiha? — a cozinheira de cabelos grisalhos perguntou de cabeça baixa.

— Quero sim. — Eu quero que a senhora respeite meu ômega, caso contrário, je vais devoir te renvoyer à Paris, et je ne pense pas que tu veuilles ça.⁴ — a mais velha se encolheu perante a ameaça.

Naruto já estava acuado com a presença do alfa. Se encontrava encolhido e afastado no canto de cozinha — para onde correu após a segunda pergunta de Sasuke — enquanto o alfa mostrava a seus funcionários quem é que mandava ali.

Assim que Sasuke viu onde estava o ômega, estendeu a mão em um chamado mudo para que Naruto fosse até ele e que não precisava temer. Mesmo com seus olhos imitando um aquário, com suas pernas bambas, se deixou guiar pelo alfa.

Estavam quase saindo da cozinha, quando Sasuke ouviu o estômago de Naruto protestar.

No final de tudo, conseguiu ver uma discussão e ser o foco dela, mas não conseguiu algo para comer.

— Não comeu ainda?

— N-não... — disse e Sasuke o abraçou.

— Venha, vamos comer.

O alfa permaneceu abraçado ao ômega enquanto andavam por entre os empregados até chegarem à geladeira, onde Sasuke pegou algumas frutas, biscoitos e chocolate.

Sem olhar os seus funcionários, guiou Naruto para fora da mansão, saindo pela porta dos fundos que dava acesso ao jardim grande e bonito, ideal para um momento a dois.

O ômega permaneceu calado enquanto Sasuke arrumava a comida em uma mesa e servia os dois . Naruto não pôde deixar de admirar o alfa à sua frente, é forte, temido e perigoso quando quer, mas também é um homem gentil e carinhoso.

Loucura por pensar isso de Sasuke Uchiha? Talvez. Mas, ele era melhor que seus pais, isso por si só, já é um grande ato de gentileza.

Suspirou ao ver o alfa sorrindo enquanto lhe dava uvas direto na boca. Para Naruto que fora tão negligenciado, ter aquele mimo era motivo de extrema felicidade. O coração do pequeno ômega estava batendo forte por aquele alfa.

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¹Folguedos: Brincadeira; ação de brincar, de se entreter, de se divertir.

²C'est ta maison, mon garçon. Mangez ce que vous voulez: Esta é a sua casa, garoto. Coma o que quiser.

³Oméga stupide!: Ômega estúpido!

⁴ je vais devoir te renvoyer à Paris, et je ne pense pas que tu veuilles ça: Vou ter que mandar você de volta para Paris, e não acho que queira isso.



Fanfic original da autora bille-b

A autora me deu a história e me autorizou a reescrever e repostar.

Reescrita e repostada por mim e a minha querida Lyana138, Muito obrigada pela ajuda e pela capa maravilhosa.

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