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Manuella°

O relógio já estava quase marcando quatro da tarde quando sair do apartamento do Filipe junto com o Théo em direção a casa dos meus sogros, confesso que nunca vou me acostumar a dirigir um carro que vale mais do que o meu rim, se eu bater isso aqui, nem me dividindo em três encarnações serei capaz de quitar o prejuízo.

— Tia Manu, você vai viajar com o papai? — Olho pelo retrovisor assim que o escuto falar. — É que a mamãe também vai trabalhar e eu queria ficar com você.

Sorrio fraco voltando a focar na estrada quando os carros voltam a andar me fazendo acelerar.

— Sim, meu amor. O papai vai fazer show e a Tia Manu vai com ele, mas eu prometo que vamos tirar um tempinho só nós dois, pode ser? — Pergunto ouvindo ele confirmar.

— Ae a gente vai na praia? O tio Matheus e o tio Dalinhas falou que vão surfar e eu queria ir junto. — Enrugo a testa tentando imaginar a cena dos dois patetas tentando ficar em pé em cima de uma prancha.

— E o seu pai? — Dou risada dando a volta entrando na rua da casa da dona Vanda enquanto ele segue falando.

—Ah tia... O papai não vai, ele nem sabe jogar bola. — Gargalho em alto e bom som, parando o carro em frente a casa.

— Ae Théozinho... — Tiro o cinto me virando para trás encontrando seu sorrisinho tímido no canto da boca. - Se o seu pai escuta você falando isso, ele morre do coração.

Saio do carro dando a volta e indo até o lado onde ele está, abro a porta tiro seu cinto e o ajudo a descer enquanto pego suas coisas.

Não demora para a dona Vanda surgir a nossa frente enxugando as mãos em um pano de prato que logo vai parar em seu ombro.

— Vovó, o victinho já chegou? — Pergunta eufórico correndo até ela.

— Acabou de chegar e tá assistindo jogo com o seu avô lá na sala... — Sem nem esperar e nem parar pra falar com a avó ele sai correndo adentrando a casa.

Travo o carro acionando o alarme e me aproximo dela que abre os braços me abraçando.

— Cadê o Filipe? — Me olha pegando as coisas do Théo da minha mão. —Vem vamos entrar.

Passo por ela que fecha o portão as nossas costas.

— Ficou resolvendo as coisas da viagem, ensaio e as bilhões de coisas que eu nem tento me meter, ele fica um estresse só com essa rotina louca.

Ela dá risada e me puxa até a cozinha, passamos pela sala onde aceno para o Ricardo que tá vidrado na televisão junto com os netos.

— Você já resolveu se vai viajar com o pessoal? — Se refere a tour que o Filipe vai fazer com os shows pela Europa.

Suspiro me encostando na mesa de jantar enquanto a observo mexer alguma coisa que está no fogo.

— Ele já veio choramingar para a senhora? —Arqueio a sobrancelha a observando sorrir. — Já que a senhora é a mãe, me explique por favor como fazer seu filho entender que nem tudo na vida é do jeito que a gente quer, ou melhor, do jeito que ele quer.

— Você sabe como ele é quando o assunto é você. — Reviro os olhos bufando.

— Tenho algumas campanhas que vai coincidir com os dias da viagem, e são trabalhos que já foram adiados. Não posso deixar isso de lado, e ele vai ter que entender de um jeito ou de outro... — Inspiro fundo soltando o ar com força pela boca.

Confirmando com a cabeça ela me olha voltando a tampar a panela.

— Com conversa tudo se resolve, e falando em conversa... — Se aproximando ela puxa uma cadeira e se senta a minha frente me impulsionando a fazer o mesmo. — A Anna quer falar com você.

Estreito os olhos sem entender.

— Comigo? — Pisco algumas vezes sem saber ao certo o que pensar.

— Ela estava no impasse de deixar ou não o Théo ir por causa da escola, entre tantas outras coisas, mas o principal é o fato de saber que o Filipe não vai conseguir focar tanto nele nos dias de show, e acho que depois de tudo que passou ela começou a aceitar o fato do Théozinho ser apaixonado em você, e ser bem cuidado na sua presença.

Mordo a ponta da língua.

Antes que eu consiga responder qualquer coisa o telefone dela toca o que a fez levantar em um pulo indo em busca do aparelho.

Resolvo mandar mensagem para a Steff perguntando se podemos nos encontrar ainda hoje, acabamos por fim, marcando para daqui algumas horas no apartamento dela.

Escuto vozes adentrando o local quando me levantando prestes a voltar para a sala vejo a mulher de cabelos longos pretos e pele branca, vestida com roupa de academia abraçada com o filho no meio da sala.

Meu celular começa a vibrar na minha mão atraindo minha atenção, é o Theus.

Silencio a chamada quando levanto a cabeça e meu olhar encontra com o dela que parece ter sido surpreendida pela minha presença.

Depois de falar algumas coisas com o Théo que só confirma com a cabeça e volta para onde estava, a observo ficar em pé e dar passos em minha direção.

Permaneço onde estou sem mover qualquer músculo do meu corpo.

— Posso falar com você? - Seu tom de voz sai mais baixo que o normal, totalmente diferente das outras vezes que nos esbarramos.

É eu poderia fingir indiferença e agir com ar de superioridade, mas essa não seria a Manuella que eu sei que sou.

Então confirmo com a cabeça e volto a me sentar.



Spoiler do que teremos no próximo capítulo para matar a saudades.

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