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Assim que chegamos no estacionamento corri em direção ao portão vendo o Matheus com o celular no ouvido e com a maior cara de emburrado, o que me fez segurar o riso.

— Caralho, em Manuella. Se eu soubesse tinha nem vindo. — Bufa enquanto me ver abrindo o portão.

— Para de reclamar que eu sei que você acabou de chegar. — Viro pra trás vendo o Filipe se aproximar com o carro.

— Próxima vez marca o bagulho pra café de manhã, nessa porra. — Imito ele quando o carro para do nosso lado e o vidro do lado do motorista abaixa.

Olho pro meu irmão que arqueia a sobrancelha olhando do Filipe pra mim, todo sem graça. O que me faz dar maior risada enquanto vou dando a volta no carro indo para o lado do passageiro.

— Entra ae irmão, bora encostar rapidinho ali no aeroporto que eu já to atrasadão pra caralho. — Escuto o Filipe falar assim que abro a porta, vendo meu irmão perder toda marra de brabo entrando no banco de trás.

— Ih, qual foi? Do nada o ret me dando carona. — Fala fazendo o Filipe dar risada enquanto acelera saindo do prédio já pegando a estrada. — Vou me acostumar com essa parada, nunca. Papo reto, cria.

Olho de lado vendo o Filipe me olhar de canto de olho trazendo a mão pra minha cocha em seguida onde faz carinho enquanto dirige.

— Ae Matheus, tá trampando de quê? — Enquanto escuto a conversa dos dois, desbloqueio o celular vendo mais alguns seguidores alheios chegando no meu instagram, que por sinal, começou a crescer depois que a Steff postou algumas fotos minhas em angra. Eu sei que algumas pessoas já estão deduzindo uma certa aproximação minha com o Filipe, mesmo que nenhum de nós dois tenhamos deixado vazar nada, e é assim que eu pretendo manter. Até pra preservar nossa intimidade, depois dos últimos acontecimentos com minha mãe, a última coisa que eu preciso no momento é de terceiros invadindo um espaço qual não pertence a ninguém além de nós, não só como um casal, mas principalmente como pessoa.

Sei que os fãs ainda torcem compulsivamente por uma reconciliação dele com a Ana, o que resultaria em ataques totalmente voltado a mim, e ao certo, não sei se lidaria tão bem com tanta exposição e pessoas cutucando algo que lutei a muito custo pra conseguir ter, meu equilíbrio emocional.

— Tava cursando direito, mas bagulho chato da porra. — Escuto o Matheus falar, me viro olhando pra ele sem entender a parte do tava.

— Ué, trancou? — Estreito os olhos quando sua atenção vem pra mim.

— Tranquei, né. Tive que sair do trampo também, ia pagar como? Fora que não nasci pra viver engravetado. — Fico calada voltando minha atenção a frente.

— A mãe, sabe? — Me limito a perguntar. Se tem duas pessoas que sabem o que é sofrer pressão sobre ter que estudar e ser alguém a na vida, com toda certeza somos nós dois.

Não estou criticando, nem nada. Afinal, se hoje eu tenho a minha independência financeira, e me tornei a mulher que sou. Sem sombras de dúvidas foi graça aos meus estudos.

Entretanto, ninguém fala abertamente sobre o quão é difícil ter que carregar o peso de vencer na vida, sem ao menos ter o direito de reclamar pela pressão de enfrentar todos os dias metrô, pegar ônibus, ter que lidar com professor chato, tentar manter as matérias sempre em dia, sem esquecer da desigualdade social que por incrível que pareça é gritante dentro e fora do mercado de trabalho, e ainda sim, chegar em casa e agir como se tudo estivesse mil maravilhas, sendo que a verdade é que o seu emocional está no chão e todos os dias você questiona a si mesmo se vai de fato conseguir dar conta de enfrentar tudo sozinho.

— Ainda não. — Ele responde respirando fundo em seguida. — Tô tentando ao menos conseguir um trampo antes de chegar pra falar e ser crucificado. — rir baixo.

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