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Acordo sentindo algo no meu rosto, abro os olhos devagar encontrando o Théo deitado na minha frente com o dedo na boca, e a outra mão tentando tirar os fios soltos de cabelo que cai sobre meu rosto.

Sorrio devagar vendo ele sorrir tímido.

— Acordou. — Ele fala ainda com o dedo na boca me fazendo sorrir sem mostrar os dentes.

Levo a mão até sua testa verificando sua temperatura, que graças a Deus está normal.

Sem sinal de febre.

— Tá se sentindo melhor, meu amor? — Pergunto piscando os olhos tentando afastar o resto do sono que tenta me dominar.

Ele confirmar com a cabeça me fazendo rir, passo os olhos pelo quarto onde não obtenho sinais do Filipe.

Acabou que só conseguimos de fato dormir quando o dia já estava clareando, tanto pela vontade de ficarmos juntos, quanto pela preocupação com o Théo.

Inspiro fundo me sentando na cama sem ao menos saber que horas são.

— Cadê seu pai, Théozinho? — Afasto o edredom de cima de mim me lembrando que estou vestindo apenas uma camisa simples do Filipe.

— Tá na cozinha. — Olho pra ele que já esta descendo da cama prendendo minha atenção.

Antes que eu pense em perguntar onde ele vai, vejo sumir pelo closet e logo depois voltar com um quadro em mãos, me deixando curiosa.

— Olha tia, o papai guardou aqui ... — Estreito os olhos enquanto ele se aproxima me entregando.

Assim que viro dou de cara com uma foto nossa, os três juntos em Angra, onde tudo começou.

O coração no peito dispara e uma pulga atrás da orelha, surge. Ele guardou isso aqui o tempo, todo?

Sinto o Théo subindo na cama ficando de joelhos do meu lado abraçando meu pescoço enquanto aponta pra foto.

— Você gostou? — Ergo os olhos pra ele que analisa, esperando minha reação.

Suspiro abrindo um sorriso.

Como pode uma criança me fazer nutrir tanto amor, ao ponto de doer no peito de saudades?

— Se eu gostei? Eu amei, Théozinho. — Seguro seu rosto beijando sua bochecha várias vezes ouvindo sua risada gostosa. — Agora me fala ... — Digo quando me afasto prendendo sua atenção enquanto falo. — Onde você achou isso?

— No closet do papai, ele não deixa ninguém pegar, sabia? — Joga a cabeça para o lado sorrindo envergonhado. — Só eu.

No exato momento a porta se abre e o Filipe adentra o quarto sem camisa, vestindo apenas uma bermuda, segurando o celular em mãos.

Vejo quando seus olhos nos alcança, mudando o foco rapidamente para o que estou segurando.

O Théo olha do pai de volta pra mim observando tudo quieto, como se por certo esperasse pela reação dele tanto quanto eu.

— A bela adormecida, acordou? — Seu timbre de voz surge durante o percurso que ele faz até parar na minha frente me roubando um selinho demorado.

— Eca! — O Théo resmunga me fazendo dar uma boa risada quando o Filipe afasta o rosto só pra olhar o pequeno do nosso lado.

— Eca o que, cara?— Rebate com um ar de riso no rosto. — Tem que beijar a gata. — Dou um beliscão na barriga dele que tenta se afastar me olhando feio.

— Para de tá ensinando essas coisas a criança ... — Falo entre dentes vendo o mesmo dar de ombros. — E essa foto? — Questiono, acompanhando seus olhos que descem do meu rosto até o quadro em minhas mãos.

O barulho do joguinho do Théo surge e a essa altura do campeonato já sabemos que nossa conversa não se tornou nem um pouco interessante para ele, por isso foi fazer o que gosta.

Os olhos que estão com uma tonalidade mais clara que o normal, voltam a analisar meu rosto como se pudesse ler meus pensamentos, o que de certa forma me deixa envergonhada ao mesmo tempo que sinto um calor se forma entre minhas pernas.

O olhar, sempre foi uma das suas cartadas fatal quando o assunto é estarmos a sós, tão perto ... Como estamos agora.

— Não fazia sentido estar aqui e não ter nada que me fizessem lembrar o real motivo por trás de tudo isso ... — Passa a língua no lábio inferior me fazendo desviar de seus olhos e acompanhar os movimentos. — Isso aqui não é só meu e do Théo, é seu também. O motivo sempre foi esse ae ... — Indica a foto com o queixo. — Nós três, enfrentando qualquer parada.

Engulo seco sorrindo fraco quando ele pisca um dos olhos esbanjando aquele sorrisinho de lado.

— Sentir saudades disso ... — Sussurro tocando seu rosto. — De nós três, juntos!

Ele confirma com a cabeça fechando os olhos.

— Tia manu ... — O Théo fala quebrando nossa bolha quando viro o rosto pra ele que agora tá deitado de barriga pra baixo apoiando a cabeça na mão. — Você faz ovinho, pra mim? É que o papai não sabe muito.

A carranca na cara do Filipe me faz dar uma gargalhada alta me jogando na cama enquanto o mais novo se junta a mim na crise de risos.

O celular dele toca quando ele pensa em responder. Olho o visor e é o nome do Matheus. De repente a campainha começa a tocar incansavelmente e eu nem preciso perguntar pra saber que  o insistente por trás da porta é o meu irmão.

— Você não vai me dizer que inventou de marcar coisa com o Matheus aqui, né? — Coçando o cavanhaque ele se afasta voltando a ficar em pé.

Só pela cara dele sei que é exatamente o que eu tô pensando.

— Filipe, você sabe que se o Matheus souber agora ... — Ele me interrompe.

— Porra ... — Respirando fundo passando a mão no rosto depois de olhar o celular. — Tinha esquecido que marquei uns resenha com os moleques, hoje.

Meus olhos estão prestes a pular e eu não sou capaz de reagir enquanto o idiota tá rindo, literalmente dando risada.

Eu só consigo pensar que quem tá esperando pra entrar provavelmente é todos os meninos da Nada Mal, e sem esquecer do Cabelinho, que é o cabeça do grupo dos fofoqueiro.

— Eu não acredito ... — Choramingo levantando sentindo os braços dele envolver minha cintura quando viro de costa. — Eu não vou sair desse quarto, não tem conversa, eu me recuso.

Segurando o cabelo da minha nuca e me fazendo virar a cabeça pra olhar em seu rosto por cima do ombro ele segura meu queixo me olhando de cima.

— Toma teu banho em paz, que eu resolvo o resto. — Estreito os olhos pra ele que não consegue tirar do rosto aquele ar de quem tá achando graça da situação.

— Filipe ... — Retruco até que sua boca invade a minha chupando meu lábio inferior devagar antes de se afastar.

— Sobe pra comer com o Théo. — Fala se virando e saindo do quarto.

Como assim sobe com todo aquele bando de pré-adolescente pela casa?

Mas nem fudendo!

É pedir pra ouvir gracinha até o resto dos meus dias na terra.







-OBS: Um pequeno pra matar a saudades!

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