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Sento na ponta da cama olhando pra tela do celular na minha mão até decidir atender.

— Fala irmão. — Tiro o tênis e logo em seguida a camisa ouvindo a voz dele surgir do outro lado.

— O que tá pegando, meu irmão? Acabei de ver o que rolou no show, e sei que tem coisa errada nessa história, nunca te vi perdendo a cabeça por nada. — Suspiro sabendo que hoje minha alma virou réu da porra do tribunal da internet.

— Tô neurótico, alucinado, perdidão porra ... Com a mente fudida e os caralhos. — Respiro fundo soltando o ar pela boca sentindo o peso no peito. — Perdi a razão, a noção do tempo e agora, só agora, me dei conta que talvez tenha feito merda e deixado quem tava fechada comigo ir embora.

O gosto amargo vem junto com a saliva me fazendo procurar um baseado pelas coisas jogada em cima da mala.

— Fala o papo reto, Filipe. Tô aqui tentando entender e desenrolar a parada, sou teu irmão, cara. — Vejo a brasa queimar diante dos meus olhos, abaixo a cabeça apoiando os cotovelos nas pernas.

Inspiro, respiro, passo a mão na cabeça, engulo seco puxando a fumaça.

Fecho os olhos lembrando do que li agora a noite, a sensação de perda, o bolo na garganta.

— A gente tava brigando pra caralho, mal se via e quando se via era o mesmo enredo. Não tava conseguindo achar espaço pra conseguir desenrolar uma conversa direito, falei um monte de merda, atrai um monte de merda pra vida dela, joguei a carga ruim pra dentro do que a gente tinha, irmão... — Suspiro sentindo os olhos arder. — Não fui homem pra conseguir separar as picas do dia a dia, fui egoísta mermo, nego essa porra não. Machuquei, fui escroto, perdi minha mulher, irmão... — Nego olhando pra cima. — Perdi a Manuella, e o culpado sou eu.

A lágrima desceu pelo canto do olho me fazendo morder o lábio inferior.

A quanto tempo eu não chorava por me sentir um merda?

Do que vale essa porra toda se no fundo, quando tu deita a cabeça no travesseiro a paz é a última coisa que te alcança?

Ilusão é achar que todo dinheiro do mundo tem o poder de comprar a sensação que uma única pessoa te causa.

— Porra irmão, não sabia que vocês tinham se separado. — Responde ficando em silêncio logo durante um tempo. — Eu conheço bem esse sentimento de imponência que tá te cercando, e a última coisa que tu tem que fazer é deixar essa brisa te alcançar. Levanta a cabeça, mano. Se tu acha que o que rolou pode ser resolvido ainda, dá teu jeito, bate no peito e mete a cara no bagulho, vai atrás da tua mulher, porra. Reconhecer teus erros é o que te faz ser humano, irmão.

— Não quero errar de novo, Gustavo. — Passo a mão no nariz. — Não com ela.

— Dá o teu melhor, o papo é esse. Enquanto rolar sentimento no meio, é questão de tempo e reconstruir a confiança, Tu tá sofrendo e engolindo tudo sozinho, porquê? Se afundar em show, trabalho, droga, festa e essas merdas só vai te adoecer, tu tá ligado nisso.

Engulo seco confirmando pra mim mermo.

— Tu meteu o Théo nesse meio? Tua família? — Sorrio fraco passando a mão no rosto enxugando os olhos. — Porque se foi o que eu tô pensando, essa mulher te laçou de verdade e desculpa ae a falta de sentimento, mas se tu não correr atrás dela tu vai tá é fudido.

— Lembra que ela tava comigo no dia lá da delegacia? — Ele confirma ouvindo. — Rolou uma merda do caralho, nego abriu a boca contando onde ela morava, quebraram a porra toda lá, a mãe dela meteu a última forma que não ia aceitar ela comigo e mandou escolher o que ela queria, resultado que a gente tava morando juntos a uns meses já o que me fez comprar um espaço maior, com planos pra nós dois com o Théo. Porque porra, minha história com a Ana foi e sempre vai ser uma parte da minha vida que eu vou ter muito respeito e todo mundo sabe disso, mas com a Manuella, minha visão abriu pra muita coisa. A mina ganhou meu filho de cara, nunca rendeu pros luxos que essa vida de artista proporciona a nós, sempre teve garra pra fazer o dela, sempre fechou comigo em tudo... — Nego inconformado só de imaginar ela com outro agora. — Ela sempre teve por mim, nunca mediu esforços mesmo sendo marrenta e os caralhos, nem foto tem de nós dois juntos em canto nenhum, porque ela sempre foi medrosa e não queria que as pessoas achassem que rolava interesse.

— É irmão ... — Dar uma risada rouca me tirando do transe. — Essas coisas quando entra no coração, tu só tem dois caminho, ou aceita ou vai ficar batendo cabeça por algo que tu não controla.

Acabo decidindo não entrar no assunto do Orochi, vou pagar de maluco mermo e fingir que não sei de nada, pra ver até onde esse teatrinho vai.

Passo mais uma cota trocando ideia com ele até desligar e ir direto tomar um banho na intenção de esfriar a cabeça.

Mexo no controle do ar deixando o quarto gelado aproveitando pra ver a penca de mensagem no whatsapp, incluindo da arquiteta que mandou os projetos da casa nova, um estralo na minha mente me leva abrir os contatos indo direto na letra M, e como eu esperava o contato sem foto me dar a certeza de ter sido bloqueado.

ContramãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora