Darling I'm Ready (to burst into flames for you)

Stay

Chloe levantou de um pulo e sorriu um sorriso fechado, contido, ao dizer ''Ora essa. Todas nós temos um lugar para ir.'' Ela me circundou, me olhando de cima a baixo. ''Troque de roupa, querida. Você não vai de pijama, vai?''

''Você está insinuando que vai me acompanhar ou que também vai à algum lugar?'' Perguntei, e olhei para Oli em busca de respostas, mas ela digitava furiosamente no celular, ocupada demais para me dar atenção. Parecia concentrada, e foi suficiente apenas meio pensamento para eu entender que alguma coisa estava acontecendo.

''Vou te acompanhar!'' Chloe disse, e apertei os olhos em sua direção.

''Mas é meio tarde...'' Comecei, apenas como um teste, a desconfiança crescendo em mim como algas. Só então notei que Oli e Chloe usavam roupas normais do dia a dia, o que era estranho. Bem estranho, considerando o horário e o dia da semana. Aos domingos, elas usavam vestimentas que não podiam nem ser consideradas roupas, e sim farrapos.

Pior: elas calçavam sapatos! Estavam claramente prontíssimas para sair. E assistiam TV comportadíssimas, como se estivessem apenas... Esperando.

''Tarde!? Acho que não.'' Oli levantou a cabeça rapidamente, ao mesmo tempo em que:

''Pff, Tarde? Tá é cedo.'' Chloe se afastou de mim, dando de ombros de uma maneira ocasional demais.

Ergui uma sobrancelha. ''O quê vocês estão aprontando?''

*

O céu brilhava sem estrelas e a Lua explodia Cheia em glória e completude. Eu, Oli e Chloe andávamos lado a lado pelas calçadas desertas de Pinheiros. A noite sempre carrega uma vibe meio mística, mas hoje em especial o ar parecia diferente. O mundo parecia mais quieto do que o normal e os postes de luz cresciam feito árvores de aço e concreto em direção ao nada, desenhando círculos alaranjados e irregulares no asfalto.

Antes de sair, tivemos uma pequena discussão onde ameacei quebrar ovos podres nas cabeças das minhas melhores amigas pela manhã se elas não me falassem porque queriam tanto me acompanhar para onde quer que eu fosse. Mas, elas me driblaram nos argumentos. E, agora, nada tinha mais importância, pois eu estava me sentindo grata pela presença das duas.

Era uma caminhada relativamente longa e, se eu a fizesse sozinha, seria muito solitário.

Conversamos o caminho inteiro e demos muitas risadas, mas era impossível não perceber que Oli volta e meia checava o celular e o desligava rapidamente, antes que eu pudesse dar uma espiadela. Já Chloe parecia ansiosa, como se estivesse se esforçando muito para não falar de algo específico.

''Vamos lá: teorias sobre o Karma e Déjà-vu'' Chloe puxou assunto. Ela fazia muito isso. Vamos lá, teorias sobre a lua. Vamos lá, teorias sobre rios, oceanos, e deuses. Vamos lá, teorias sobre ciência e magia. Eu amava isso, pois me forçava a fazer ligações entre assuntos que eu não pensava estarem interligados. Às vezes, conversávamos por horas sobre essas coisas. Eu sempre saía com a sensação de que deveríamos ter gravado tudo em um podcast. Era puro entretenimento baseado em hipóteses, histórias da nossa cabeça e um total de zero conhecimento profundo na área. Ou seja, as pessoas amariam.

''Certo'' Oli foi a primeira a se pronunciar ''Eu acho que toda a ideia de Déjà-vu meio que envolve aquela coisa de que podemos ver o futuro através dos nossos sonhos, o que eu não duvido nada que seja verdade, então super explicaria tudo: sonhamos com algo, nos esquecemos que sonhamos com isso, a coisa acontece, e nós ficamos com aquela sensação esquisita de porra já vivi isso aqui! Quando na verdade, você apenas sonhou com isso.''