Conforme deslizava pela noite em trajes escuros, de forma silenciosa e ágil, Lynn não queria pensar no tipo de relação que tinha com a Princesa Amélia.
Não.
Seus pensamentos estavam envoltos em puro ódio. E, por baixo de toda aquela raiva gélida e treinada, Lynn já calculava os movimentos da matança. Ah, sim. Ela quebraria todos os ossos daqueles homens que raptaram sua Princesa, um a um, devagar. Lentamente. Para que pudesse desfrutar dos sons. Crac, crac.
E, depois de resgatá-la, Lynn também cogitava a possibilidade de assassiná-la.
Por ser tão insuportavelmente teimosa.
O reino era um rompante de quietude, e a brisa que vinha do mar era fria. Lynn se aproveitava das sombras e era rápida, não deixava rastros. Ela passava pelos cartazes que estampavam o próprio rosto coberto por um capuz, oferecendo quantias exorbitantes de moedas de ouro para quem quer que conseguisse levá-la ao rei, para que fosse jogada nas masmorras e, depois de devidamente punida, executada em praça pública, na frente de todos, como uma bruxa.
Pior. Como uma rebelde.
Não apenas para dispersar o medo. Não. Para mostrar quem estava no comando.
Afinal de contas, Catrina Lynn era a única ameaça existente ao rei. A única pessoa mais cruel do que ele. A única pessoa que já matou quase tanta gente quanto ele - mas sem a covardia de fazê-lo por trás de exércitos e em nome da honra. Lynn tinha plena consciência de que a guerra era apenas um passe livre para assassinato sem punição. Talvez por isso seu rei insistia em continuar dispersando ódio e violência.
Não a conheciam. Não sabiam sua história, de onde veio, ou como chegara ali. Mas era fato que cada aldeão, seja idoso, adulto ou jovem, sabia exatamente quem ela era:
Catrina Lynn, a maior Assassina dos Reinos do Norte.
E ela amava isso.
Lynn saltou por prédios, escalou muros e atravessou o cortiço. Ela conhecia aquelas ruas e vielas como as linhas da palma da mão. Desviou de bêbados, procurou não chamar atenção, e finalmente chegou ao armazém abandonado no qual ela sabia que mantinham a única Grande Herdeira do Norte, filha tão querida do rei.
Chegava até a ser irônico: o rei dormia tranquilamente em sua cama de dossel, sem fazer nenhuma ideia de que sua preciosa primogênita fora raptada na calada da noite. Roncando, Lynn tinha certeza, ignorante de que o futuro do reino, objeto de esperança de muitos, se encontrava acorrentada em um depósito imundo cheio de ratazanas, com homens prestes a conhecer o sussurro da morte.
Lynn não se passava de um vulto contra a escuridão conforme escalava a parede de tijolos externos com desenvoltura e habilidade impressionantes. Ela chegou ao topo da construção e correu com passadas firmes antes de sacar a espada das costas e, com um giro rápido, acertar o cabo em uma janela de vidro que se quebrou com facilidade.
Não havia tempo para pensar. A assassina caiu junto com os estilhaços, impulsionando o corpo para dar uma volta mortal no ar, momento no qual embainhou a espada novamente antes de atingir o chão com os dois pés espaçados, dobrando os joelhos de forma que pudesse apoiar a mão espalmada entre as pernas.
Silêncio.
Ela pôde sentir o choque das presenças encapuzadas no recinto. Lynn respirou fundo antes de estampar um sorriso arrogante e erguer o queixo, fazendo com que o próprio capuz deslizasse para trás e revelasse o belo rosto, mostrando aqueles conhecidos e tão falados olhos distintos.
Nenhum deles sairia dali com vida para contar a quem tivesse ouvidos o quão estonteantemente bonita a assassina era.
Bastaram alguns poucos segundos para que Lynn conseguisse estudar o ambiente e calcular como poderia usar os objetos e caixotes vazios dispostos a seu favor. Quantos homens precisaria derrubar. Qual deles era o líder. Como derramar a maior quantidade de sangue possível.
YOU ARE READING
Darling I'm Ready (to burst into flames for you)
Romance''Eu sabia que Milly pensava como eu. Eu falaria que ela tem um beijo escondido no canto da boca, e ela provavelmente me ofereceria um dedal.''