IV. A princesa & A assassina

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Conforme deslizava pela noite em trajes escuros, de forma silenciosa e ágil, Lynn não queria pensar no tipo de relação que tinha com a Princesa Amélia.

Não.

Seus pensamentos estavam envoltos em puro ódio. E, por baixo de toda aquela raiva gélida e treinada, Lynn já calculava os movimentos da matança. Ah, sim. Ela quebraria todos os ossos daqueles homens que raptaram sua Princesa, um a um, devagar. Lentamente. Para que pudesse desfrutar dos sons. Crac, crac.

E, depois de resgatá-la, Lynn também cogitava a possibilidade de assassiná-la.

Por ser tão insuportavelmente teimosa.

O reino era um rompante de quietude, e a brisa que vinha do mar era fria. Lynn se aproveitava das sombras e era rápida, não deixava rastros. Ela passava pelos cartazes que estampavam o próprio rosto coberto por um capuz, oferecendo quantias exorbitantes de moedas de ouro para quem quer que conseguisse levá-la ao rei, para que fosse jogada nas masmorras e, depois de devidamente punida, executada em praça pública, na frente de todos, como uma bruxa.

Pior. Como uma rebelde.

Não apenas para dispersar o medo. Não. Para mostrar quem estava no comando.

Afinal de contas, Catrina Lynn era a única ameaça existente ao rei. A única pessoa mais cruel do que ele. A única pessoa que já matou quase tanta gente quanto ele - mas sem a covardia de fazê-lo por trás de exércitos e em nome da honra. Lynn tinha plena consciência de que a guerra era apenas um passe livre para assassinato sem punição. Talvez por isso seu rei insistia em continuar dispersando ódio e violência.

Não a conheciam. Não sabiam sua história, de onde veio, ou como chegara ali. Mas era fato que cada aldeão, seja idoso, adulto ou jovem, sabia exatamente quem ela era:

Catrina Lynn, a maior Assassina dos Reinos do Norte.

E ela amava isso.

Lynn saltou por prédios, escalou muros e atravessou o cortiço. Ela conhecia aquelas ruas e vielas como as linhas da palma da mão. Desviou de bêbados, procurou não chamar atenção, e finalmente chegou ao armazém abandonado no qual ela sabia que mantinham a única Grande Herdeira do Norte, filha tão querida do rei.

Chegava até a ser irônico: o rei dormia tranquilamente em sua cama de dossel, sem fazer nenhuma ideia de que sua preciosa primogênita fora raptada na calada da noite. Roncando, Lynn tinha certeza, ignorante de que o futuro do reino, objeto de esperança de muitos, se encontrava acorrentada em um depósito imundo cheio de ratazanas, com homens prestes a conhecer o sussurro da morte.

Lynn não se passava de um vulto contra a escuridão conforme escalava a parede de tijolos externos com desenvoltura e habilidade impressionantes. Ela chegou ao topo da construção e correu com passadas firmes antes de sacar a espada das costas e, com um giro rápido, acertar o cabo em uma janela de vidro que se quebrou com facilidade.

Não havia tempo para pensar. A assassina caiu junto com os estilhaços, impulsionando o corpo para dar uma volta mortal no ar, momento no qual embainhou a espada novamente antes de atingir o chão com os dois pés espaçados, dobrando os joelhos de forma que pudesse apoiar a mão espalmada entre as pernas.

Silêncio.

Ela pôde sentir o choque das presenças encapuzadas no recinto. Lynn respirou fundo antes de estampar um sorriso arrogante e erguer o queixo, fazendo com que o próprio capuz deslizasse para trás e revelasse o belo rosto, mostrando aqueles conhecidos e tão falados olhos distintos.

Nenhum deles sairia dali com vida para contar a quem tivesse ouvidos o quão estonteantemente bonita a assassina era.

Bastaram alguns poucos segundos para que Lynn conseguisse estudar o ambiente e calcular como poderia usar os objetos e caixotes vazios dispostos a seu favor. Quantos homens precisaria derrubar. Qual deles era o líder. Como derramar a maior quantidade de sangue possível.

Darling I'm Ready (to burst into flames for you)Where stories live. Discover now