People watching

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CAPÍTULO 2

Amélia


But I wanna feel all that love and emotion

Be that attached to the person I'm holding

Someday, I'll be falling without caution

But for now, I'm only people watching

- Conan Gray


A cafeteria Sweet Blue era um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade de São Paulo, mas é claro que eu só descobri isso uma semana depois que me mudei. O motivo da fama? A proposta era diferente. Você poderia sim ir até lá para comer um brownie com pedacinhos de castanha e tomar um delicioso chocolate quente. Mas você também tinha a opção de pedir um whisky com soda e suco de uva verde, um dos drinks mais requisitados em noites movimentadas de sexta-feira em que jovens universitários se encontravam para brindar mais um zero na prova de cálculo.

Era um lugar grande com chão amadeirado, paredes escuras e iluminação âmbar, de forma que a decoração ambiente era valorizada e parecia chique, ao mesmo tempo em passava certo conforto. Uma cafeteria-bar, podemos dizer assim.

Embora muito conhecida e falada, era pouco movimentada por conta da localização mais afastada do centro. Para a minha sorte, Skye me contratou como barista assim que eu expressei meu desespero por estar desempregada. Foi tipo... Dois dias depois de nos conhecermos, em uma noite caótica em que tudo o que me aconteceu nos últimos meses veio na minha direção como um carro descontrolado e sem freios. Então, sim. Eu consegui uma casa e um trabalho logo na minha primeira semana na cidade, o que é ótimo e me leva a pensar que, talvez, o universo esteja ao meu favor.

Meu turno na cafeteria começa só depois das duas da tarde, e termina às nove da noite, de forma que eu posso comparecer em todas as aulas do meu mais novo curso: física. Além disso, posso almoçar sem pressa antes de ir trabalhar na Sweet Blue. Depois das dez, quando já estou em casa, trabalho no meu livro. Eu tenho cerca de 5 horas de sono por noite, às vezes menos, mas está tudo sob controle. O que são algumas olheiras comparado à satisfação de terminar um capítulo às duas da madrugada?

Durante toda a minha vida fui uma pessoa dependente da escrita. Eu preciso dela pois eu sei que ela precisa de mim. Muitas horas de sono foram substituídas de muito bom grado por longas madrugadas digitando sem parar. Eu amava a sensação, o tec tec das teclas, as páginas sendo preenchidas com muitos erros de gramática e personagens não totalmente desvendados, o desespero para contar algo de interessante, a satisfação de saber que estou fazendo isso de uma forma que, mais pra frente, se eu tiver sorte, outras pessoas se identificarão o suficiente para saber meu nome.

Era para isso que eu tinha nascido. Escrever. E é nisso que eu estava pensando enquanto estava com os cotovelos apoiados no balcão, observando a clientela e quase morrendo de tédio. Era uma tarde de sexta-feira ensolarada e eu tinha quase certeza de que esfriaria mais de noitinha. Por ser um dia supostamente mais movimentado, Skye provavelmente vai me pedir para ficar até meia-noite. E, claro, eu vou falar que tudo bem, pois eu não tenho nada melhor para fazer em casa a não ser procrastinar, e preciso de um dinheiro extra, nem que seja bem pouco.

Havia um casal sentado em uma mesa perto da janela, bem onde a luz do sol invadia a cafeteria e se espalhava por entre as mesas e cadeiras. O cara era alto e asiático e a mulher era baixinha e tinha a pele escura. Ela sorria, parecia feliz. Eles pediram duas rosquinhas com cobertura de doce de leite, um café expresso e um frapuccino de morango descafeinado, mas nem sequer prestavam atenção na comida. O cara disse alguma coisa que provavelmente não era engraçada, e a mulher riu tanto que quase chorou.

Darling I'm Ready (to burst into flames for you)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora