Capítulo 19

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Meu rosto é levemente espancado por mãos grossas. As minhas pálpebras abrem lentamente, com a luz solar indo diretamente em meu rosto. Minha visão está ofuscada, e minha pele sensível demais.

Sinto um formigamento sobre meus braços, com um leve arrepio. Alan está em cima de mim, com seus cachos caindo um pouco sobre meu rosto. Seus olhos negros fitam junto aos meus, que já não têm a mesma tonalidade rubra de antes.

Meu sangue nunca correu tão devagar na vida. Tento soltar uma palavra, mas apenas sai um gemido.

— Está vivo! — Suspiros de alívio preenchem o silêncio. — Alex, está me escutando?

Tento me apoiar no chão para me levantar. Alan sai de perto de mim, parando de "aprisionar" meu corpo.

Estamos fora do dormitório, parecem ser umas cinco da manhã. O ambiente é semelhante a um depósito. Não tem nenhum guarda por perto, mas com certeza há ratos. Consigo ouvir o som torturante das chicotadas, crianças chorando e martelos espancando barras de ferro. Os meus amigos parecem ansiosos, como se estivéssemos correndo contra o tempo.

— Estou, mas não muito. — Um pequeno zunido persiste em me atazanar.

— Precisamos ser rápidos. Descolei esse canto para a gente já que é hora de troca de postos — Ele para de falar por um segundo e suspira — Também é momento levar umas pessoas para a câmara de gás. Temos poucos guardas e pouco tempo aqui.

— O que aconteceu comigo? — Pergunto, quase não conseguindo abrir a boca.

— Você chegou no dormitório na madrugada. Estava sangrando mais do que uma galinha abatida.

Tenho pequenos flashes de lembrança do que aconteceu. Só me lembro que estava correndo desesperado de algo, fora eu ter matado o guarda.

Espera.

EU MATEI UM GUARDA?

— Lembro que eu estava correndo de alguém. Aconteceu uma coisa antes, que tive que me ausentar. — Me recuso a falar a ele que Maya quase foi estuprada e que enforquei uma pessoa. Na verdade, nem sei se posso considerar aquilo uma pessoa.

— Você ontem falou alguma coisa de assassino e citou a Host. O que fiz foi pegar uma pílula e te fazer engolir. Você estava ferido, com as veias pulsando, mas se estabilizou depois disso.

Lembrei de tudo. Aqueles olhos...

— Vi uma pessoa de olhos dourados, ela me seguiu. Eu senti que ela queria me matar.

Quanto mais os meus olhos abrem, eu percebo que o resto da equipe está ali. Alan gela, seus olhos arregalam imediatamente e sua boca fica semiaberta.

— Olhos dourados? Não pode ser. — Ele fica se fazendo perguntas por uns 5 segundos. — Você viu mais o que dele?

— Vi que uma espécie de poeira o acompanhava. Sei lá, parecia um vendaval de pedras e areia.

Alan gelou totalmente. Dou uma cutucada no seu braço para ele voltar à realidade, tenho que repetir três vezes para ele acordar.

— É o assassino dos Thorns.

As lembranças passam novamente em minha cabeça. Lembro que joguei o cadarço ensanguentado nele, e que agora meus shorts estão parecendo sacos de batata por isso. Eu não sei o porquê dele estar aqui.

— Então, cheguei aqui a tempo. — Quebro o silêncio. — Suspeitei por um segundo, mas era uma hipótese tão maluca que havia deixado de lado.

Olho para Yuli, ela está com as mãos na boca e em estado de choque. Vejo que seus olhos de jade estão transmitindo medo e pavor ao ouvir o nome do assassino. Foi uma experiência muito difícil para ela.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now