— Que audácia a sua, seu corno.

Os olhos esmeralda de Yuli aparecem no meio de nós dois.

— Fiquem quietos por pelo menos um segundo! — Seu olhar está mais sério do que o normal. Yuli começou a trabalhar. — Seu número?

— Bacee — falou o chifrudo. — Números são para idiotas. — É por pessoas como ele que a sociedade intelectual não avança.

— Preciso saber o seu número, por favor.

Ele fica desnorteado e levanta a camisa, mostrando o número 380.

— Pronto, 380, vem comigo até ali na frente, vamos lhe ensinar a utilizar técnicas de MAO.

— Meu nome é... — Ele suspira antes de xingar a quinta geração de Yuli — Beleza, estou indo.

— Obrigada. — Ele vai até lá na frente, eu e Yuli trocamos olhares e damos risadas.

— Como ele te obedeceu?

— Sou a pastora desses gados, falo e eles obedecem.

— Vantagens de ser uma adolescente no padrão de beleza. — Quando falo isso, ela me dá um soquinho no ombro.

— Ok, agora só falta uma pessoa.

— Oi! — 450 surge das cinzas, como se estivesse ficado invisível ali. Yuli salta devido ao susto. — Prazer, 450. Pode me chamar de Emanuela.

Emanuela estende a mão e abre um sorriso, diferente da expressão que fez para mim.

— Prazer, Yuli. — Vejo que minha prima abre um sorriso de satisfação enquanto aperta a mão de Emanuela. Ela prefere claramente os mais "educados".

— Já tinha conhecido o Alex antes, só não queria revelar meu nome. — Ela se inclina para mim — Desculpa.

Ela abre um sorriso bobo, que claramente demonstra vergonha.

— Tudo bem, eu acho.

— Ótimo, para compensar, vou me esforçar ao máximo nesses estudos. Achava que vocês estavam tendo uma crise esquizofrênica quando falaram de criar uma rebelião aqui.

Não a julgo, é normal enlouquecer aqui dentro.

— Beleza, está na hora da aula de vocês. — Yuli abre um sorriso genuíno. — Vamos, você gostará.

Emanuela nos acompanha até onde Alan está.

Os três estão alinhados horizontalmente, como uma fila de escola. Seus olhares estão concentrados e ansiosos. Lá atrás, pessoas com dor de cabeça e algumas se retorcendo no chão.

— Vocês três, Um, Quatrocentos e Cinquenta, e Trezentos e Oitenta. Com nomes informais de Maya, Emanuela e... — Ele cutuca Yuli, que cochicha o nome no seu ouvido. — Bacee! Foram os únicos que resistiram a uma dose de Host, adaptando-se facilmente à mudança brusca de velocidade. Logo, preciso fazer uma pergunta. O que vocês sentiram ao ingerir a substância?

— Estou sentindo calor interno, como se sua temperatura corporal estivesse aumentando. — Maya levanta a mão, enquanto seus olhos tremem. — Um leve formigamento nos músculos também. Ah, e o pior... dor de barriga. Estou preocupada, aqui não tem banheiro...

— Não se preocupe, não é... cocô. — Yuli se segura para não rir.

— Já eu senti uma dor de cabeça muito forte. — Bacee corta a fala de Yuli rapidamente. — Um arrepio na pele também. Além disso, as coisas mudaram de gosto e o ar está meio... pesado? Não sei explicar.

Emanuela espera Bacee falar e dá um passo a frente, com os braços cruzados.

— Sensações de formigamento e uma leve pressão, especialmente quando toco em algo. Nada de mais.

Durante a fala de Emanuela, Yuli estrala os dedos e flexiona os braços. As veias estão aparentes, músculos tensionados. Uma aura sobe, verde vibrante como folhas. Seus olhos brilham, cabelo mais vívido. Seu rosto adquire tonalidade rosada, e o ar ao seu redor fica pesado.

Todos ficam perplexos, observando a presença assustadora de Yuli. Seus fios flutuam como puxados por uma fonte de estática. Pés cravam no chão, corpo vibrante.

Em um só vulto, todo o ar denso se dissipa, e a aura do Taiwo se desintegra. Ela parece um pouco cansada, mas não quer mostrar. Logo, volta a falar.

— O que viram é o Taiwo, uma forma básica e rápida de melhorar o desempenho de vocês. Podem criar suas técnicas somente dessa base, mas antes, quero que conheçam as outras duas formas de utilizar o MAO. Maya despertou este tipo, devido às suas sensações internas.

Maya abre um sorriso, ainda confusa.

Noah dá um passo à frente com seu sorriso sincero, junta as palmas e flexiona os músculos. Aura prateada se origina acima de seus dedos. Uma brisa se dissipa em ventania, gelando rapidamente o ambiente. Em cinco segundos, pequenos flocos de neve se formam. O lugar está mais gelado.

— O Kaiwo...

Noah olha para Alan na esperança de continuar, mas recebe um olhar de "Continue!".

— Bom, é basicamente quando podemos alterar o estado exterior da matéria, aumentá-la, diminuí-la, controlar a temperatura, estado, movimentá-la, adicionar propriedades... essas coisas. Kaiwo não cria nada, e sim, transforma. Como transmutação, entendem?

Sua energia gira ao seu redor com uma aura frígida, agora, se dissipando de uma vez só.

— Mas, para ativá-la, uma série de gatilhos são necessários dependendo de sua complexidade. Não os revelem, para seu próprio bem. Minha técnica é simples, mas multiúso, então meu gatilho tem uma relação direta com essa propriedade. O Bacee despertou ela, devido às sensações externas.

Não sei o seu gatilho diretamente, e muito menos o de Alan. Tenho noção de que, sempre que Noah utiliza sua técnica, junta as palmas das mãos e tem sua pele esbranquiçada. Já Alan, é como se fosse automático, natural. Há certos momentos que realiza movimentos em específico, mas não é nada cotidiano.

— Perfeito. — Alan diz. Noah abre um sorriso largo, sabendo que sua explicação foi boa — E por último temos o Baiwo, a mais interessante que podem aprender.

Toli dá um passo à frente e estende a prótese, sem a luva reguladora. As sombras consomem a prótese incessantemente. Têm toque granulado, como pequenos grãos de areia sucumbindo à escuridão.

— KA, TA, NA, WO!

As sombras se esticam em linha até Bacee. Seu corpo é enroscado, imobilizado, tapando sua boca.

— Baiwo é uma ramificação que abrange todas as técnicas imagináveis. Basicamente, você tem um objeto especial, fala algumas sílabas, consegue fazer o que quiser. Parece prático, mas não é. Os gatilhos são mais metódicos, e sua mente deve estar totalmente conectada ao objeto. Se o perder, será difícil se adaptar a outro. Baiwo é canalizar emoções internas, muitos não conseguem fazer isso. Emanuela despertou, já que a pele ficou sensível aos objetos ao redor.

— Pronto, agora pode soltar ele. — Alan ri de desespero, sabendo que Toli não tem medo de machucar Bacee. Eu queria que quebrasse aquele chifre dele.

— Mas já? Poxa, ele fala tanto. — Assim que se faz! No final, Toli tira as sombras dele. Uma pena, diria.

— É isso. Agora que expliquei tudo, qual será a técnica de vocês?

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now