Capítulo 11 - O caminho da verdade - Parte I

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"Estamos todos presos em algum tipo de armadura. "

Robert Fisher – O cavaleiro preso na armadura.


"O mel mais delicioso é repugnante por sua própria delícia, perturbando com seu sabor até o paladar mais ávido. Por isso, ame de maneira comedida". Certamente, ao escrever a cena VI do segundo ato de Romeu e Julieta, Shakespeare acreditava veementemente que o amor e a paixão poderiam ser facilmente controlados. Como se realmente fosse possível dominar um coração ardente de amor, colocando-o em uma régua de medidas, onde cada passo pudesse ser milimetricamente calculado.

Contudo, amar moderadamente não seria uma tarefa nada fácil, especialmente quando a realidade entra em cena e assume o papel principal, fazendo, assim, com que toda a teoria falhasse miseravelmente. A verdade é que não há nada mais indomável e impetuoso do que a fúria de dois corações dominados pela paixão. E nesse mar tempestuoso e revolto, até a esperança se torna um lobo feroz, com fome de corações apaixonados.

Talvez Lena tivesse receio de entregar seu coração por toda essa intensidade e vulnerabilidade que os amantes experimentam ao se permitirem amar. Entretanto, ninguém além de Kara Danvers foi capaz de vê-la de forma tão plena, transparente, desarmada e frágil. Constatar todos esses fatos era algo assustador demais, até mesmo para uma Luthor. Lena sentia-se indefesa e com medo. Medo, inclusive, de ser magoada mais uma vez por quem tanto amava.

Que Kara Danvers era o amor de sua vida já era um fato irrevogavelmente consumado. Se restava alguma dúvida, todas elas foram sanadas na noite anterior, quando o famigerado beijo entre elas fora trocado. De todas as circunstâncias e momentos que Lena imaginou para esse primeiro beijo, nunca, desde que aceitou que estava perdidamente apaixonada pela melhor amiga, chegou a cogitar a possibilidade de que a loira seria a primeira a tomar iniciativa. Ainda mais levando em consideração o padrão de comportamento da repórter, que sempre se mostrou tímida e atrapalhada.

Mas havia algo diferente naquela noite. O ar estava carregado e havia uma tensão descomunal dominando o ambiente. Isso só significava uma coisa: ciúme, muito ciúme. Era a primeira vez que Lena via o fogo ardente do ciúme queimando, como duas labaredas, nos olhos de sua amada. Foi incrível e deliciosamente perigoso.

A figura imponente trajando de forma gloriosa o uniforme de Supergirl era uma visão dos infernos, mas no bom sentido. Kara estava irresistível, sexy, poderosa e letal. Foi impossível não ficar hipnotizada pela beleza e austeridade da mulher que lhe encarava com olhos tão viscerais. O ciúme deixou de ser algo abstrato e passou a ser concreto. Ele tinha forma, textura, cheiro e sabor. Tudo exalava Kara Danvers, Supergirl ou quem quer que ela realmente fosse. Àquela altura do campeonato, nada mais importava a não ser compreender as intenções mais obscuras e profundas da heroína. Afinal, o que era tudo aquilo?

Seria outra pessoa a que estava em sua casa? Lena se sentiu confusa, pois a mulher que lhe despira com o olhar nem de longe lembrava sua doce, amável e compreensiva Kara Danvers. Ela era diferente. Havia toda uma atmosfera sexual envolvida, um sentimento de posse. Era puro desejo. Era carnal, íntimo e muito profundo. Sentiu-se tentada a despir-se de toda a armadura que havia construído para lidar com decepções. Seu desejo mais intrínseco fora se entregar de vez ao momento, se deixar levar de maneira deliciosa pela linda mulher à sua frente.

No entanto, quando se é um Luthor, uma dasprimeiras lições aprendidas é construir barreiras para não demonstrarfragilidade. Não obstante, no mais íntimo de seu coração, Lena sabia que todosos muros erguidos eram somente para proteger-se de quem de fato acreditava ser.A realidade era que a jovem Luthor tinha medo de ainda ser aquela garotinhaindefesa e frágil que mendigava atenção, amor e carinho. 

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