Capítulo 7 - O Olho copiador giratório

165 26 155
                                    

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

Sócrates

O sol já estava caindo pela linha do horizonte, sinal de que mais um dia estava chegando ao fim. O céu de National City já adquiria os tons alaranjados de mais um entardecer. Enquanto isso, o brilho laranja e quente do pôr do sol acariciava a pele da garota de aço, que voava silenciosamente pelo firmamento.

O percurso até a casa de Matthew era curto e poderia ser feito em alguns segundos. No entanto, depois de um dia turbulento e um encontro tão tenso com Lena, poder desacelerar e voar tranquilamente era algo que lhe proporcionava um pouco de paz, ou pelo menos aliviava a tensão.

Junto com um lindo crepúsculo havia também a saudade. Saudade essa capaz de contrair cada músculo do seu corpo. Tão forte que lhe apertava o coração. De repente, todas as lembranças e momentos compartilhados com Lena vinham à tona mais uma vez. O sorriso nos lábios formando a curva mais linda do rosto de Lena Luthor. A intensidade dos belos olhos, tão intensos e cortantes quanto o fio de uma espada. O cheiro da pele, que só de lembrar lhe causava arrepios pelo corpo. A voz lindamente rouca e quente.

"Ah, aquele toque suave e delicado das mãos dela. Seria isso estar apaixonada? Nem mesmo no auge do relacionamento com Mon-El me senti tão viva e feliz...

... Feliz apenas em poder contemplá-la. Afinal, não há nada mais caloroso que o sorriso do bem-amado!", Kara pensava enquanto sobrevoava National City.

Recordar os momentos felizes, também lhe fazia lembrar de sua situação atual. Kara não tinha ideia de como concertar tudo, e no momento sua vida estava tão bagunçada que ela não sabia por onde começar. Não havia certezas, apenas dúvidas e muito medo. Medo inclusive de perdê-la.

Desde que chegou à Terra, há exatos treze anos, Kara teve que lidar com muitas coisas. Tudo nesse planeta era diferente de Krypton. A língua, a cultura, a religião, a forma de se relacionar com as pessoas. Todavia, a parte mais dolorosa foi não poder cumprir com a única missão que lhe foi dada: cuidar e proteger seu primo Kal-El.

Vinte e quatro anos de solidão. Vinte e quatro anos de sono profundo, era como se uma parte da sua vida tivesse sido roubada. Foi exatamente esse o tempo que Kara Zor-El passou presa na zona fantasma até finalmente conseguir sair.

Pousar na Terra e notar que perdeu o momento certo, o tempo da missão, foi devastador. Kal-El já era um homem, já era o salvador, o Superman. Então, mais uma vez a sensação de vazio inundava o seu coração. O seu mundo não existia mais, e ela não tinha propósito. Kara Zor-El era desnecessária.

 É fato, que o universo foi bondoso ao preparar a família Danvers para ser a sua nova casa, mas o começo foi bem difícil. Especialmente em se tratando da sua relação com Alex. No início, as brigas entre elas eram constantes. Eliza teve muito trabalho, mas no fim, uma bela relação de fraternidade havia sido construída. Mas, a sensação de vazio ainda persistia.

Ter um lar, assim como ela tinha em Krypton, parecia uma ideia muito distante. Um sonho utópico. O lar é o mais puro reflexo do coração. Consiste em uma atmosfera de amor, de desejo de estar perto e partilhar a vida. É onde amamos e o lugar para onde nossos corações sempre podem voltar. 

Se fosse possível personificar a ideia de lar, Kara prontamente diria que lar era o sinônimo perfeito de Lena Luthor. Sim, Lena Luthor era seu novo lar, e com ela Kara se sentia mais forte e intensamente viva. Com um novo propósito uma nova missão.

Depois de tanto divagar por lembranças, em poucos minutos Kara estava novamente a mansão de Matthew. Agora, observando melhor pela segunda vez, estava nítido o quão imponente era o lugar. Sua arquitetura clássica, e sofisticada exalava luxo e poder. Pensando nisso, foi inevitável não sorrir ao recordar-se de seu anfitrião. 

InterdimensionalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora