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TATIANA

O som do funk alto poderia ser ouvido por toda favela, a quadra estava o fervo, o pessoal da pista até costumava subir pra curtir o baile. Entramos na quadra e fomos passando pela multidão, encontramos a Karen encostada em um dos bares bebendo uma caipirinha.

- Que demora em. - Ela falou assim que chegamos.

- Estava esperando a Rapunzel dá a fulga dela. - Marcelly respondeu.

- Maior sufoco, esse baile tem que vale muito a pena mesmo.

- E vai valer, olha ali em cima. - Marcelly apontou pro camarote, onde só entrava os bandidos fortes daqui do morro. - a mina de ouro é ali.

- E hoje nós vamos subir, falei com o carinha que eu to ficando, ele vai conseguir levar a gente lá pra cima. - Karen comentou. - Mas ai, vão querer beber o que?

- Uma caipirinha. - Falei e ela pediu no bar, logo me deu um copao geladinho de caipirinha. - vou me satisfazer de limaozinho hoje.

- Que limaozinho, a gente vai é beber coisa cara naquele camarote, tô doida pra arrumar um bofe forte pra me bancar, cansada dessa vida de ter que ralar. - Marcelly falou enquanto encarava o camarote.

O lugar era cheio, lá só entrava os selecionados de verdade. Vi um grupo de mulheres subindo, com certeza devem pegar a metade dos caras de lá de cima, só assim pra ter essa moral toda. Eu e as meninas ficamos na pista dançando horrores, quando nos juntavamos não tinha pra ninguém. Conferi a hora no meu celular e pra minha sorte ainda era 2:00h da manhã.

- Tomara que o Fp não cante muito tarde, quero ver ele antes de ir embora. - Guardei o celular nos seios.

- Falaram que ele vai tocar 3:00 da manhã, dá tempo. - Marcelly respondeu enquanto bebia sua corona. - Karen foi dar um role e não voltou mais, que isso.

Quando ela terminou de falar, vimos a Karen vindo no meio da multidão, toda sorridente e com 3 pulseiras nas mãos.

- Falei que a mamãe aqui iria conseguir, 3 pulseiras pro camarote bebê. - Ficamos animadas e logo colocamos as pulseiras.

Fomos passando pela multidão até chegar na escada que dava pro camarote, tinha três garotos de guarda e eles nos barraram de primeira, mas Karen mostrou as pulseiras e eles nos deixaram entrar, mas eu senti os olhares maldosos e maliciosos pra cima de nós três.

- Que cheiro de maconha. - Comentei.

- Você tá no camarote dos homens, queria o que? - Marcelly respondeu.

- A pulseira dá bebida liberada no bar, podemos beber a noite toda e sem gastar nada. - Karen apontou pro bar. - Eu vou no banheiro rapidinho, não sumam em.

Se afastou deixando eu e marcelly alí, fiquei olhando tudo a volta, eu me sentia um peixinho fora d'água, tinha um monte de mulheres belíssimas no camarote, e eu era uma mera menininha pra qualquer um que estava ali.

- O foco é aquela mesa ali. - Apontou pra mesa onde estava os fortes. - Vem!

Me puxou pra nos aproximarmos da mesa, tinha algumas meninas ali junto na mesa, a maioria parecia ser bem mais novas, os homens que estavam ali bebia e fumavam, por isso o cheiro forte de maconha.

- Difícil achar vocês em. - Karen voltou. - Vem, vamos lá na mesa, conheço um bofe que tá lá.

- É por isso que eu te amo Karen. - Marcelly disse animada.

Chegamos na mesa e karen foi falar com um dos homens que estava encostado na grade, pareciam ser bem íntimos, ele falou alguma coisa no ouvido dela fazendo ela rir. Ela pegou bebida pra nós 3 e ficamos ali dançando esperando o Fp do trem bala, olhei pra mesa e tinha um homem de camisa branca e oque parecia ser um charuto na boca, ele estava de conta com um fuzil atravessado nas costas.

- Que homem gostoso. - Comentei com a Karen.

- Aquele alí é o Russo, ele é gerente da boca principal, primo do dono da favela, uma delicinha né? - Concordei rindo.

Enquanto eu dançava eu tentava disfarçar pra poder olhar pra onde o tal Russo estava, era a primeira vez que eu ficava boba com algum bandido daqui, apesar de ter uns aceitáveis, também tinha muito meia boca, não sei como as mulheres daqui conseguem, mas bem que dizem por aí que as vezes certos sacrifícios são necessários, afinal elas andam montadissimas, só cordão de ouro, moto e silicone nas alturas, um sonho.

Olhei no relógio já marcava 2:55 da manhã, quando o Fp chegou e se aprontou pra subir no palco, disparos foram feitos, um corre corre começou e o meu desespero também.

- Bora porra! - Marcelly puxou minha mão e descemos correndo do camarote.

Os bandidos correndo pra lá e pra cá, as pessoas caindo enquanto correm pra fora da quadra, era apavorante. Saimos da quadra e nos encostamos no muro de uma casa, na confusão meu salto acabou arrebentando.

- Sempre tem que ter uma merda pra estragar a noite. - Marcelly falou irritada.

- Meu salto novinho, caraca. - Balancei o salto e elas riram.

Marcelly me deixou em casa e eu só pensava em como iria entrar em casa, por sorte a janela da cozinha estava com o trinco quebrado então ficava aberta, por eu ser magrinha passava fácil. Entrei em casa tentando não fazer barulho, subi pro quarto e peguei a chave do quarto que estava no meu sutiã, abrindo a porta e podendo finalmente me jogar na minha cama.

- Que noite. - Soltei um ar de cansaço e já fui me ajeitando pra dormir.

(•••)

- Que cara de morta. - Marcelly falou assim que eu cheguei na pracinha.

- Dormi nada cara, minha mãe ainda me fez acordar cedo pra ir na feira. - Sentei no banquinho e coloquei refrigerante no copo.

- Tia rutinha é casca. - Ela ri, sentando no banco na minha frente. - Karen não deu nem sinal de vida ainda, deve ter dado horrores essa noite, pelo menos alguém teve que aproveitar já que fizeram o favor de estragar o baile.

- Nunca venho em baile, quando eu vou dá uma merda, sorte que a minha mãe não descobriu ou eu estaria morta. - O ronco de uma moto chamou nossa atenção, olhei em direção e era o tal Russo, de dia eu conseguia reparar nele melhor, a carinha fechada, cheio de anéis e cordões de ouro era o que mais chamavam atenção, mas não podia negar o quanto ele era gostoso.

- E essa olhadinha em. - Marcelly implicou chamando minha atenção. - Russo é uma delicinha né, mas não rende pra ninguém, muito difícil ver ele desfilando com mulher, mas vai que você dá sorte.

- Ta louca Marcelly? minha mãe me mata.

- E ela precisa saber? sai desse mundinho tatiana, ou você nunca vai conseguir nada! tem agir, nada cai do céu. A noite tem pagofunk, o russo com certeza vai, bora?

- Não sei, ontem consegui me salvar e hoje? tô sentindo que vai dar merda. - Em um ato ansioso comecei a roer minhas unhas.

- Deixa disso, fala que vai dormir na minha casa, que vamos fazer alguma coisa, inventa uma história, eu passo pra te buscar mais tarde e eu não quero ouvir um "Não", Tá? - Revirei os olhos e concordei.

Ficamos conversando sobre a vida do pessoal da rua, era nosso entretenimento favorito. Até que deu a horade descer pra casa e tentar convencer dona rute a me deixar "dormir" na casa da Marcelly.

tatianaWhere stories live. Discover now