Capítulo 21: Quem é Edna?

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Gonzalez

Escutar um relatório, um tanto tendencioso, sobre a vitima e a sua família me fez enxergar tudo com outros olhos. A cidade odiava a família Falcon por eles serem ricos, ridicularmente ricos, enquanto Elina era vista como uma pessoa mimada, grossa e agressiva.

Além de tudo, Elina Falcon apreciava praticar bullying com todos os seus colegas com quem estudou até parar, repentinamente, no segundo ano do ensino médio.

Obviamente ninguém soube informar ou criar teoria sobre o motivo dela ter se tornado uma nova pessoa. A partir do primeiro dia do segundo ano, Elina manteve uma expressão fria, isolando-se de todos. Foi admitida na universidade com antecedência, ficou famosa e passou a ser vista como uma gênia musical.

A clássica transformação de uma bullying em uma estudante modelo. Em nome do amor ou medo?

Olhei para Alisson, a policial intrometida, tentando ver algo em sua expressão. Só que ela permaneceu indiferente.

— Foi uma das vitimas dela.

Afirmei. Sua expressão desconfortável tornou-se a confirmação. Seria Alisson a assassina? Tudo para se vingar? Fazia sentido.

Nos filmes sempre fazia.

— Sim. Como todos nessa cidade.

Alisson não escondeu. Pareceu até feliz por confessar.

— Se for investiga-la mais a fundo vai descobrir que 80% das pessoas aqui, odeia ela e Edna. Por motivos diferentes. Elina sempre foi uma filha da puta que adorava destruir as pessoas emocionalmente. Talvez sentisse prazer ou fosse pela sensação de poder. — Ela deu de ombros ao continuar sua explicação. — Mas Edna, ela era diferente. Edna parecia uma psicopata. Nunca demonstrou emoção para nada que não fosse a sua irmã. Parecia uma relação doentia.

Pisquei tentando demonstrar surpresa. Edna tinha coragem o bastante para filmar a sua irmã, então qualquer outra coisa não seria tão surpreendente.

— Nunca esperei algo tão louco de Edna Falcon, quero dizer, ela pareceu tão bem comportada e quieta. Tem certeza sobre ela?

— Pode perguntar a quem quiser. — Alisson deu de ombros, desviando o olhar. — Ninguém dos Falcon é uma boa pessoa.

— Seria uma pena se for verdade.

Fingi tristeza, mantendo minha cabeça baixa. Queria ver o que Alisson escondia, afinal ninguém faria tanta questão de "destruir" a imagem de outra pessoa a troco de nada. E sempre que o nome Edna saiu de sua boca, seu corpo enrijecia. Edna parecia ser um pouco mais doentia do que esperado.

Usar o psicólogo criminal para definir o estado mental dela poderia ser interessante.

— O que Edna fez com você? — Resolvi perguntar após segundos de liberação. Poderia só investigar, mas qual seria a graça? Queria descobrir o que Alisson tanto escondia de forma desajeitada. — Pode me contar e fazer com que eu confie em você ou pode negar. Mas vou descobrir sozinho.

Coloquei um sorriso caloroso no rosto tentando parecer inofensivo, mas o efeito foi contrário. Me dei conta ao vê-la semicerrando os olhos e cerrando os punhos com raiva, talvez.

Mantive meus olhos grudados em seu rosto, tentando fazer as aulas de psicologia e micro expressões. Alisson mordeu seus lábios com força, desviando o olhar de mim, encarando o chão. Uma de sua mãos segurava o braço em uma tentativa de proteção. Ela estava desconfortável, insegura, fechando-se inconscientemente para mim.

— Não é obrigada a falar. E não sou um monstro. Nem sequer estou apontando uma arma para você, obrigando-a a falar algo. — Olhei para a minha arma em cima da mesa, deliberadamente demorando alguns segundos mais do que deveria. Queria deixa-la o mais desconfortável possível. Alisson tinha consciência sobre tudo isso ser um teste?

Diante do seu silencio, já tinha desistido quando escutei a sua voz bem baixa.

— Edna é um demônio. Ela... não gostava de ninguém se aproximando de Elina. Uma vez, Eu e a Elina formamos dupla em uma aula. Algo aleatório que destruiu minha vida. — A voz dela se tornou cada vez mais baixa. Observei com atenção, ficando deslumbrado ao vê-la estremecer, ficando arrepiada somente em contar tudo sem muitos detalhes. Seria Edna capaz de matar Elina?

Continue em silencio, aguardando as próximas cenas, bem, a narração de Alisson.

— Elina sempre foi simpática com algumas pessoas, não com todas, sabe? Quando começamos a fazer o trabalho, nos conhecemos melhor. Percebemos que tínhamos assuntos e gostos em comum. Coisa de adolescente, você sabe, não é? Mas isso serviu para Edna como um estopim. Não sei como a sua cabeça funciona e nunca quis me aprofundar nisso, só sei que um dia, ela apareceu na porta da minha casa. Tudo pareceu normal até eu sair e comer que ela me ofereceu quando voltei.

Alisson sorriu tristemente.

— Acordei tempo depois, com as mãos e pés amarrados. Eu estava nua. — Arregalei os olhos ficando surpreso pelo rumo das coisas. — Edna estava sorrindo ao tirar fotos minhas. Suas palavras foram muito diretas quando perguntei o motivo: deveria me afastar de Elina ou todos receberiam essas fotos e ela ainda postaria na dark web.

— Espere. Edna é tão capaz assim? Não é qualquer pessoa que teria coragem para postar algo lá assim.

— Deveria pesquisar mais sobre ela. Nenhum Falcon presta, mas Edna... Ela é um demônio. Um demônio perverso e louco.

Pisquei sem conseguir evitar o meu sorriso. Não me importei com a expressão de Alisson ao me encarar, pois o meu sangue começou a ferver.

Algumas vezes, uma vontade incontrolável de subjugar alguém surgia. Gostava de estar no controle das situações quando algo me fazia desconfortável. Talvez fosse um problema psicológico devido ao trabalho, pode ter sido a minha infância ou até mesmo algo genético. A verdade é que não sabia e nem queria me aprofundar em algo assim. Afinal, os monstros mais perigosos ficavam na escuridão mais profunda.

Só que o olhar amedrontado de Alisson despertou algo em mim.

Interesse por ela ou pelo seu trágico passado?

Desviei o olhar, tamborilando os dedos na mesa. Se ela tentasse me seduzir tornaria as coisas mais fáceis para descobrir, mas ela não tinha esse perfil. Alisson era uma vitima. Vitimas se tornavam fortes, escondiam tudo em seu interior e fingiam serem suficientemente fortes para nada as atingir.

Pessoas assim não cediam.

Apenas pessoas como a jornalista, Melissa fariam coisas que as colocassem em perigo somente pelo prazer de um beneficio material. Não que eu a culpasse, longe de mim. Honestamente, apreciava o modo liberal, despreocupado e quase suicida de Melissa.

— Ela apenas a ameaçou com as fotos ou houve algo mais?

— Isso parece pouco para você?

Queria dizer que sim, mas sabia o resultado de tal resposta. Permaneci em silencio tentando parecer desconfortável.

— Para provar que não estava mentindo, ela postou a minha foto em um tipo de fórum com o número de visualizações controlado por ela. E antes que pergunte, não acho que ela saiba realmente fazer aquilo. Edna tinha ajuda.

— E o que aconteceu depois que ela colocou a sua foto lá?

— O que acha? — Sua pergunta seguida de sua expressão indiferente me fez ter um mau pressentimento. — Um deles veio atrás de mim. O resto você pode imaginar e tenho uma cicatriz para nunca esquecer. 

CONTINUA...

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora