Capítulo 2: Fofocas com o verde neon

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Detetive Gonzalez

O delegado a minha frente era ligeiramente diferente do que havia imaginado. Seu rosto arredondado lhe dava uma aparência inofensiva independente do quão irritado poderia estar. Em cima de sua mesa conseguia ver alguns porta retratos de sua família. Uma esposa com sorriso gentil e dois filhos. Uma menina parecida com ele e um menino com semblante sério.

― Bela família. – Falei ao apontar para a fotografia. Pessoas com filhos amavam que eles fossem elogiados e como imaginei, ele sorriu largamente, parecendo esquecer o fato de estar me encarando nos últimos minutos como se eu fosse seu inimigo mortal. Ergui as mãos, indefeso ao explicar o motivo do meu envolvimento no caso. – Realmente não quero roubar seu protagonismo delegado Nogueira. Fui obrigado a vir pelo Governador Falcon. – O vi empalidecer e cerrar os punhos em cima da mesa. Interessante. – Acabei de visitar a cena do crime. A jornalista já esta presa?

O olhar dele demonstrou sua surpresa diante da minha pergunta.

― Por que a prenderia? – Indagou extremamente confuso ao piscar.

― Ela obstruiu uma investigação em andamento. – Ri sem vontade. – A jornalista tirou fotos e as disponibilizou para jornais de todo o país. Se isso não é querer ferrar com a investigação, alertar o assassino e buscar ganhos pessoais em cima do sofrimento alheio simplesmente desconheço outro termo para me referir aos seus crimes. Se ela não esta presa, envie alguém para isso. – Foi minha primeira ordem como encarregado do caso. Precisava descobrir o motivo do assassino ter procurado Melissa Castro especificamente, já que a jornalista era desconhecida e sem qualquer premio ou trabalho que chamasse a atenção. Tudo o que conseguia pensar era em uma ligação entre eles. – Talvez ela até saiba quem seja o assassino e está o encobrindo.

― Mas não acho que seja necessário prende-la. – O delegado falou parecendo ansioso. Eles se conheciam? – Quero dizer, a garota cresceu conosco. Todos a conhecemos.

― E, por isso, devo ignorar seu crime? Isso é impossível. – Afirmei com uma rara seriedade. – Quero vê-la sendo interrogada em menos de uma hora. – Suspirei ao pensar na quantidade de trabalho que acabaria tendo. Investigações como aquela costumavam me deixar cansado tanto físico quanto mentalmente. Odiava precisar discutir cada detalhe enquanto o outro lado imaginava que eu queria roubar seus créditos.

O delegado pareceu estar emaranhado durante alguns segundos até suspirar, se levantar da cadeira e dar ordens parra um dos policiais assim que abriu a porta de sua sala. Sua linguagem corporal demonstrava o quão desconfortável e infeliz estava ao cumprir tal ordem. O problema em trabalhar em cidades pequenas era o fato de todos se conhecerem. Quanto mais as pessoas acreditam conhecer as outras, maior a probabilidade de se acobertar seus crimes. Ele se virou com uma expressão infeliz como se eu tivesse o obrigado a assassinar alguém. A jornalista apenas seria presa, não era como se ela fosse ser condenada por homicídio.

Bufei ao pensar seriamente sobre o caso. Não havia muitas pistas, o que me forçaria a trabalhar mais. Odiava casos chamativos.

— Quem foi a ultima pessoa que viu Elina viva?

O delegado pareceu pensar um pouco antes de mencionar.

— Flavio Aguilar, um amigo. Eles se encontraram dois dias antes dela desaparecer. — O encarei e perguntei os detalhes. Fiquei impressionada em como parecia profissional. — Eles se encontraram para ensaiar. Ficaram juntos até as dez horas da noite.

— Preciso do endereço dele e o numero de telefone. — Falei ao me espreguiçar. — Já foi feita uma verificação na casa da vitima? — O delegado negou. Parecia que eles eram realmente lentos. — Apenas me passe o endereço. E quando voltar quero ver a jornalista. E quero uma investigação sobre ela. Não acredito que o assassino tenha informado algo tão importante para alguém irrelevante.

— Acha que ela está envolvida com o assassino?

— Tudo é possível.

E apenas isso foi o suficiente para lembrar de Sofia Castilho, uma vitima que se tornou uma cumplice ao ser continuamente torturada pelo assassino. Com o passar dos anos descobri que as pessoas fazem coisas insanas quando são torturadas continuamente, colocadas a beira do abismo sem qualquer chance de escapatória. Às vezes, a melhor fuga é a da alma, esquecer que está ocupando aquele corpo e simplesmente esquecer o passado e a dor.

Não entrei em detalhes com o delegado e sai antes que ele continuasse perguntando sobre minhas opiniões, as quais eram bem simples naquele momento: queria ir embora!

Odiava estar em uma situação tão descontrolada, onde cada ação minha era filmada e repassada para o mundo. Um erro bastaria para destruir tudo pelo que tinha lutado, o que realmente soava irônico, afinal meu papel como policial era assegurar justiça as pessoas, mas quem faria isso por mim?

Talvez Dimitri.

Suspirei ao seguir para a saída. Meu próximo passo seria ir ate o legista e em seguida vasculhar o apartamento dela antes de me encontrar com Flávio, o ultimo a vê-la com vida. Voltei para o meu amado GPS, buscando o necrotério da cidade, chegando lá a pé, vinte minutos depois. O lugar era tão sombrio quanto nos outros lugares. A minha impressão era que os médicos legistas curtiam uma parada meio dark e emo. Era a única explicação para não mudarem as cores sem vida e o silencio angustiante.

A morte não precisava ser sinônimo de tristeza sem fim.

— Ei, o legista está? — Perguntei ao parar em frente ao recepcionista, um jovem de cabelos verdes e olhar emotivo. Ele parecia jovem demais para estar em um lugar tão mórbido.

— Quem é você? — Sua voz denunciava estar na adolescência.

— FBI, Agente especial Gonzalez. — Me apresentei com orgulho ao vê-lo arregalar os olhos. Precisava admitir que gostava de ver as pessoas impressionadas por algo tão bobo. — Estou encarregado de um novo caso na cidade. Qual seu nome?

— Gabriel. — Respondeu um pouco nervoso. — O meu irmão, digo, o legista vai chegar em cinco minutos. Ele foi almoçar.

— Então ele é seu irmão. — Assenti começando a compreender o motivo dele estar ali. — Costuma trabalhar sempre aqui? — Ele negou rapidamente e começou a explicar como a recepcionista havia recebido um telefone de sua casa e precisou ir ajudar sua família. Seu irmão, o legista, não teve outro jeito, além de pedir ajuda a ele. — Você é um bom irmão. — O melhor modo de fazer alguém abaixar a guarda é começar a deixa-lo confortável e, em seguida, confortá-lo com palavras gentis. Pelo menos, sempre funcionava nos interrogatórios.

— Ele é meu único irmão. — Ele sorriu como se estivesse envergonhado.

— Sim. É importante ser gentil com os irmãos. Ah! Não sou da cidade, sabe? Estava pensando... em que lugar posso ir pra conhecer pessoas. Costumo ser um pouco carente, gosto de estar rodeado por pessoas.

— Tem o Blue, um bar frequentado pelos moradores. É bem movimentado.

— Sério? Estou curioso para ir. — Sorri como se realmente estivesse ansioso. — E você chegou a conhecer a Elina Falcon?

— Sim, vi algumas vezes. Ela vinha toda final de semana praticamente.

— Deveria ser bem próxima da família. Isso é bom.

— Na verdade não. — Negou sem nem perceber o que falava. Os melhores para fofocar eram os adolescentes. — A Elina nunca pareceu muito próxima da família, talvez mais da irmã. Raramente ela aparecia com os pais.

— Entendi. — Murmurei, gravando a situação. Elina não era próxima da família, apenas da irmã. Sua família poderia não saber nada sobre ela, mas sua irmã seria diferente. Precisava procurar pela irmã da vitima. — Não quero atrapalhar, então vou sentar ali. — Apontei para uma cadeira e me afastei.

A investigação iria começar oficialmente. 

CONTINUA...

Dinastia - Livro 2 de ImpérioWhere stories live. Discover now