Capítulo 8 - Com a Palavra Félix

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Félix

Sexta-feira depois da última aula eu só queria ir para casa, mas a Isa me mandou mensagem dizendo que o luau na praça estava com tudo e acabou me convencendo a passar lá. Isa sendo Isa. Sorte a dela foi o professor de Metodologia ter cancelado o último tempo da aula, se não eu duvido que ela iria se animar de sair.

Chego na praça e vejo que Isa está com um copo na mão e conversando com um carinha, a minha amiga não perde tempo.

_ Isa. - digo baixo, não quero atrapalhar.

_ Até que enfim hein Félix! Achei que não ia vim. Esse aqui é o Rafa e...

_ Pedro, meu nome é Pedro. - o cara corta minha amiga e se vira e sai. Encaro a Isa que dá de ombros e me puxa pelo braço saindo andando como se nada tivesse acontecido. Ela sempre foi assim e eu adoro isso nela, o que me falta de confiança, ela tem de sobra.

_ Isa..

_ Aí nem começa com o papo de eu não deveria fazer isso. Os caras fazem isso com a gente o tempo todo. Então só faço o mesmo antes.

_ Não, não vou falar isso. Só queria dizer que não estou muito animado de ter vindo. Você sabe que só vai dar o tipo machão aqui. - digo porque sei que é verdade.

Isa revira os olhos, um costume dela que tem hora que me irrita. Mas tem horas que me faz sorrir. Minha amiga é assim.

_ Para com isso, você já está no terceiro período e eu também, a escola já acabou há séculos e tem gente boa aqui, ainda mais agora que finalmente abriram vários cursos na faculdade daqui. E o que sua mãe ia falar se você ainda fica-se só dentro de casa. Você lembra que tia Maria disse "quero que você seja feliz e seja você". Seus pais te amam e sempre te aceitaram. Não dá para viver escondido.

Eu sei que minha amiga está certa, mas seria tão mais simples ela conseguisse entender que tem momentos que eu só quero ficar quieto. Fora que a cidade anda bem movimentada neste início de ano.

_ Ah..

_ Sem a, sem menos a, vamos aproveitar. A música está boa, e tem cada gatinho. - seguro o riso, lógico que minha amiga já reparou nos gatinhos. Mas sei que não deve ter nenhum que me chame atenção ou que role algo, nunca vi uma cidade onde só tem hétero. Eu pensei em sair daqui, mas quando meus pais voltaram para a roça, optei em ficar, pois aqui ainda consigo encontrar com eles sempre que quero, uma vez que a roça é uma hora daqui.

Andamos pela praça e vamos vendo os grupos sentados. Isa diz que vai ali nas meninas da turma dela e eu continuo andando sozinho. É estranho, mas mesmo crescendo aqui na cidade eu nunca fui de ter muitos amigos, tirando a Isa sempre fui mais sozinho. E mesmo agora no segundo ano de curso não sou muito de me abrir. A Isa sempre me diz que vou precisar, uma vez que escolhi fazer licenciatura.

Paro perto do muro da escola e percebo uma cena que não esperava. Dois garotos estão sentados e um deles parece que chora, começo a me aproximar, pois pode ter algo rolando, mas escuto um pouco da conversa e fico quieto.

"_ Ei, cara. Você não é estranho, você é você. E está bem. Só seja feliz. - o garoto se levanta e dá a mão para que o outro se levante."

Os vejo levantar e eu fico quieto. Quem são aqueles? Mas mesmo sem saber fico feliz em ver um casal junto. Eles parecem ser mais jovens e eu torço para que eles consigam ser felizes.

Chego em casa e desmaio na cama, fim de semana eu só quero dormir, mas mesmo deitado eu não consigo tirar a imagem daqueles garotos da minha mente, quem me dera encontrar alguém que me trate tão bem assim um dia...

As Cartas nas Estrelas Where stories live. Discover now