E se... - O Segredo na ilha RPG

Bárbara

Liberdade. É tudo o que sinto quando o peso da garrafa evidencia que agora ela está vazia, que agora não sou refém do álcool que havia lá, que agora não sou refém de mais nada, que agora, pela primeira vez em toda minha vida, me sinto completamente livre - Antes eu precisava me contentar com os pequenos pedaços de tempo que roubava ao correr para a praia escondida da minha mãe, beijando Miguel e desejando que momentos como aquele fossem eternos.

Não comecei a me culpar por Lívia quando ela morreu, me culpei por Lívia por toda a minha vida - Me questionei o que havia feito para que ela me odiasse. Claro, ela não me odiava, mas parecia.

Constantemente atormentada pela dúvida do que faltava em mim, do que fazia com que ela me olhasse como se faltasse algo - Mesmo com pouca informação, já havia ouvido histórias sobre mães que não amavam seus filhos e considerei que aquele era provavelmente o caso, talvez ela simplesmente não pudesse me amar.

E eu a odiei e me culpei por isso também - a odiei todas as vezes que entrou bêbada em casa, balbuciando palavras horríveis e desmaiando em seguida. E então eu a cobria com um pequeno cobertor, ainda chorando. Eu a amei mais do que a odiei porque essa é provavelmente uma coisa que filhos estão condicionados a fazer pelos seus pais: Amá-los.

Lívia teve todas as chances que pude dar, mas elas não foram o suficiente porque minha mãe não havia dado a si nenhuma chance.

Fiquei de pé, batendo a terra que estava presa no joelho da calça e encarei o túmulo por mais alguns segundos. É isso, acabou - Eu posso amar minha mãe e ainda assim conseguir viver sem ela, me permitir viver sem a culpa, acorrentando meus pés a maldita ilha porque mesmo que não estivesse lá, ainda me sentia presa.

- Eu te amo, mãe... Mas eu preciso me amar ainda mais - Suspirei.

Meus olhos rolaram por todo o cemitério até pararem nas figuras quase idênticas ajoelhadas diante de uma pedra de mármore. Milo e Miguel estavam com os ombros levemente caídos, o vento batendo contra seus cabelos e suas mãos tocando a grama, provavelmente precisando de qualquer sensação de toque que os mantivesse com a consciência de que estavam realmente aqui.

Pensei em abraçá-los, compreendendo o quanto qualquer um de nós precisava de quantos abraços fossem possíveis, mas me contive porque aquele era o momento do "adeus" - Mesmo que uma parte do Bartô fosse estar sempre com eles, assim como uma parte de Lívia sempre estará comigo, eles precisam marcar o ponto em que começam a correr com os próprios pés, aprender a viver em um mundo sem as correntes da culpa e da dor.

Quando cheguei ao portão, encontrei os outros encostados no muro conversando. Todos me olharam atentos, silenciosamente me questionando se está tudo bem e eu apenas sorri porque apesar de tudo, apesar da incerteza, está.

- E o que vai fazer com a garrafa? - Otavio apontou para o objeto em minhas mãos, acompanhei seu olhar e considerei.

- Quem sabe um vaso improvisado? Parece apropriado.

Aquela não era uma garrafa qualquer, era o marco da minha liberdade, não existia nenhuma parte de mim que ainda era refém.

- Estou orgulhosa de você - Amelie me abraçou forte, senti meu nariz ser invadido com o seu cheiro de perfume caro - Todos estamos.

Encarei aqueles sorrisos sinceros e percebi o quão sortuda era, mesmo naquelas circunstâncias - Não precisava de um escape porque não havia nenhum outro lugar para onde eu pudesse desejar fugir, nenhum outro lugar para se estar, existir, ser, viver e sentir.

Minha mãe estava morta e isso doeria para sempre, mas eu não precisava acabar morta também.

@LimBarb Mãe, eu vou te amar todos os dias da minha vida e te amar por todos os dias em que você não conseguiu SE amar.

Curtido por @ArthurCerv, @Wandebasss e outros
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N/a: Não deu nem oitocentas palavras porque eu precisava que não se passasse muito tempo já que o próximo capítulo se passa na mesma noite e eu sei que tá péssimo.