Milo

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Olivier parecia outra pessoa agora. Seus fios longos grudados na testa suada quase cobrindo os olhos, o rosto vermelho e o peito subindo e descendo, ainda ofegante. Fitei seus punhos, eles estavam machucados e com sangue demais para ser seu.

- O que é isso? - Ele seguiu meu olhar e em seguida me encarou com indiferença o suficiente para eu sentir como se levasse uma série de socos no estômago.

Caminhei até ele, puxando suas mãos. Florence tentou arrancá-las de mim, mas eu segurei com força e ele pareceu desistir de lutar contra, pareceu cansado demais para isso.

- Você é um filho da puta - Ele disse em um fio de voz.

O encarei. Os olhos verdes brilhando pelas lágrimas que ele evidentemente reprimia, parecendo o mar durante uma tempestade e eu me sentia o barco prestes a afundar, desejando que ele me olhasse como mais cedo e me odiando por estarmos prestes a nos perder antes da maré baixar.

- Você sempre faz isso, em um minuto estamos perfeitamente bem e eu poderia jurar que podemos finalmente ficar juntos - Soltei suas mãos e ele riu sem vontade, confirmando com a cabeça - Viu? E aí você faz exatamente isso, sendo casualmente cruel e eu fico me sentindo absolutamente miserável quando você vai embora sem me dizer o "porquê".

- Você não entende, Olivier. - Eu queria conseguir dizer que me sinto tão miserável quanto, que às vezes prefiro não existir que ter que viver mais um dia nessas malditas circunstância, que queria poder amá-lo sem sentir meu peito pesar, sem sentir medo.

- O que eu não entendo, Milo? Por favor, me conta. Me conta porque eu não aguento mais viver nas malditas entrelinhas, não aguento esperar eternamente por você até perceber que talvez você nunca venha - Ele estava implorando.

Eu queria abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem, mas seria mentira. Eu não sinto que vai ficar tudo bem porque não consigo calar essa maldita voz que me diz que pessoas como eu não merecem estar vivas e eu me odeio a cada vez que respiro, então como poderia esperar que Olivier me amasse? Parece errado.

- Eu não tenho culpa de ser assim, de me sentir assim - É mentira, eu me sinto completamente culpado e responsável, parte de mim apenas sabe que mesmo em outro universo onde eu pudesse tomar decisões diferentes, eu ainda escolheria amar Olivier Florence.

- E você acha que eu tenho, porra? Que eu acordei um dia com a cura hétero em mãos e coloquei na sua comida?! Que eu escolhi estar nessa maldita situação?! - Ele gritou, parecia dolorido e cansado.

- Eu não disse que era sua culpa - Choraminguei, eu queria que isso parasse e que voltássemos ao momento em que nos beijamos, que vivêssemos eternamente lá e que os minutos depois dele, os minutos em que me odiei nunca existissem.

- Não? Não disse? E o que exatamente você queria dizer com "você é um problema" e "você faz eu me sentir doente" - soltou uma risada amarga, mordendo o lábio como se as palavras tivessem gosto e fosse ruim como veneno - "VOCÊ aconteceu" e veja bem, Milo, eu repassei todas elas várias vezes na minha cabeça desde que você as disse, hoje à tarde. E eu juro que não consigo encontrar outra interpretação além do fato de que você está me culpando.

- Olivier, olha... - Tentei formular ainda que eu soubesse que não havia muito a ser dito, eu não considerava ele realmente responsável por nenhuma daquelas coisas - Eu tava com raiva...

- Você sempre ta com raiva, Milo. E eu não quero ser seu saco de pancadas em todas as vezes que você precisa de um - Se aproximou - Eu não quero que o amor que eu sinto por você se transforme no medo constante de esperar pela próxima vez que você vai me machucar, de sentir que a qualquer momento você vai me odiar.

E se... - O Segredo na ilha RPGWhere stories live. Discover now