Bárbara

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Depois de uma missão consideravelmente cansativa, me sento em frente ao balcão. Ivete sorri para mim, estendendo um guardanapo para limpar os vestígios da luta de meia hora atrás. Acho que é até relaxante poder descontar todos esses sentimentos em monstros - ainda é difícil me acostumar com a ideia de que tudo isso é real e não um pesadelo doentio. De alguma forma, ainda espero acordar no meu quarto, na ilha; Ainda espero fazer o café da manhã e sentir o cheiro dele tomar toda a pequena cozinha, colher algumas flores e correr até a praia e encontrar Miguel sujo de areia me esperando, quero vê-lo sorrir como naqueles dias, aqueles dias de sol antes da tempestade que nos banhou quando saímos da igreja; Quero voltar para casa e encontrar minha mãe, mesmo que seja bêbada e agressiva.

- Obrigada - Levanto o guardanapo, agora sujo - Por favor, algo forte.

- Tem certeza que não quer ir pra casa tomar um banho e descansar? Você claramente precisa - Ela me encarava preocupada, o tipo de olhar que uma mãe dá ao filho, o tipo de olhar que eu não percebia nos olhos da minha mãe, mas que estava lá.

- Acredite, é difícil descansar sem uma boa bebida - Sorrio. Ivete hesita antes de me servir um whisky.

Antes que eu possa levar a bebida aos meus lábios, o copo é arrancado da minha mão. Me viro indignada para a pessoa ousada que acabara de tirar meu calmante não-saudável. Um homem de cabelos cacheados sorri para mim enquanto devolve o álcool a mulher atrás do balcão.

- Não devia beber tanto, pode acabar se tornando um vício - Ele não precisa completar a frase, consigo ler nas entrelinhas as insinuações não ditas sobre minha mãe. Ambos brigavam com uma certa frequência, em maioria em situações em que Miguel me defendia.

- E o que você sabe de vício? - Me sinto um pouco irritada quando digo isso.

- Mais do que você pensa - Seu sorriso some, mas ele consegue se reerguer no segundo seguinte.

- Você tem algo a me dizer, Miguel? - Arqueio as sobrancelhas, levantando do banco em que estava.

- Tenho - suas mãos tocaram minha cintura enquanto ele me encarava - Você está imunda, vamos pra sua casa.

- Como assim a MINHA casa? Você tem um apartamento também

- Não consigo entrar lá agora, viver no mesmo recinto que o Milo tem sido mais difícil que dividir o corpo com ele... Só espero que ele e o Olivier se resolvam logo.

- O outro problema tá no sofá lá de casa, tá? Oli nem toma banho, parece. A depressão dele infelizmente tem trazido problemas para o ar. Sem mentira nenhuma, uma planta MORREU e eu tenho quase certeza que foi o cheiro exótico dele.

- O Milo é um colega de quarto horrível, seja lá o que aconteceu afeta o sono dele e ele deve achar que se não dorme, os outros também não podem - Observo imediatamente a expressão de cansaço em Miguel

- ok, você pode dormir lá em casa - revirei os olhos, rindo quando ele me deu uma série de selinhos

- mas você vai se limpar né? - fez careta fazendo com que eu desse um tapa leve em seu ombro.

[...]

   Giro a maçaneta, entrando no apartamento, seguida de castello 1. Ouço a geladeira fechar, e vejo a cabeça de Olivier aparecer na porta da cozinha, ele parece ainda pior que ontem. Sinto meu peito apertar com o sentimento familiar que me lembra que sei como ele se sente, o amor dói e doeu quando senti que Miguel havia me deixado, quando de repente não era ele que me encarava de volta, ainda que fosse o mesmo rosto.

- Meu deus, você tá péssimo mesmo - o homem atrás de mim caminhou até Florence 2, um lapso de preocupação tomando seus olhos

- Obrigado - Respondeu, forçando um sorriso.

E se... - O Segredo na ilha RPGWhere stories live. Discover now