capítulo 14

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→Alerta de gatilho, caso seja sensível, não leia.


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A primeira impressão, sensação, primeiro olhar, o primeiro toque, dizem que eles sempre ficam. Se é verdade não sei, sei apenas que podem ser substituídas no decorrer do tempo.

Ainda lembro a primeira vez que assisti a um filme de terror, a primeira impressão foi inesquecível. Ia completar oito anos, minha mãe não estava, fiquei sozinho. Meus olhos tremiam, nervoso. Fixava a tela no ambiente escuro. Não tinha mais ninguém além de mim, mas estava aterrorizado e sentia que algo se aproximava. Sentia que algo grande e sombrio se escondia ali.

Em um ato rebelde, quis provar para mim mesmo que era forte, que tinha coragem. Aquela primeira impressão agora foi substituída.

Fui pego por aquele homem. Seu agarrão deixou em mim fragmentos da sua pele copiosamente, silenciosamente grudados em mim. Jamais esqueceria isso.

A sensação era indescritível. Aproximou-se, então joguei minhas sacolas nele. Distraído por um instante, chutei-o com força em seu estômago e ele caiu no chão. Não dei a chance dele levantar-se. Com força, impeli outro chute no mesmo lugar, o homem caiu ao lado do poste perto dele.

Se fosse apenas um, minhas chances talvez fossem maiores e não teria sido pego por seu parceiro. Ele me forçou a deitar, fiquei incapaz de me mover.

— Vá embora...! ! — gritei enquanto lutava com todas as minhas forças, tentei afastar a pessoa que me segurou.

Meus pulsos queimavam de dor. Eles tinham máscaras, eram mais velhos que eu, com idade para serem meus tios. Estava claro que eram pessoas intolerantes.

— Garoto estúpido! Fica parado! — O homem me prendeu contra o chão, porra, que dor! Me pressionou no soalho, minhas mãos presas ao meu lado para que não pudesse fugir. — Esse pirralho impertinente! — disse à pessoa parda ao lado dele.

A chuva pesada caía, estava completamente encharcado. Sentia que cada parte do meu corpo fedia por ficar deitado na água suja e barrenta. Na sequência, o homem levantou-se e aproveitou da situação para me dar um tapa.

Demorou muito para que pudesse voltar a si depois do tapa. Virei a cabeça para o lado, respirando pesadamente com a boca. Meu abdômen, cintura e pernas estavam em extrema dor. Era tão doloroso que tremia o tempo todo e não conseguia ouvir quase nada.

— Merda! Não era só pegar ele? Por que é tão difícil?! — O homem em quem dei um chute cuspiu no chão, ele segurava seu abdômen. Sentia-se insatisfeito.

— Está chovendo muito, por isso a dificuldade! — um outro justificou. — Ele achou que podia andar livremente como uma mulherzinha grávida. — Sua risada continha o mais puro escárnio, zombava de mim. Me diminuía como pessoa e como homem. — Com uma coisa dessas, por que não veste logo um vestido? Você já deixou de ser homem. — Olhou meu abdômen.

Pouco a pouco comecei a recuperar minha audição, lutava para me afastar. Usei minha força para morder o homem que estava em cima de mim. Eram pessoas preconceituosas, insatisfeitas com o governo atual que defendia a igualdade de gênero. Não aceitavam conviver na mesma sociedade onde existiam pessoas como eu.

Desconheciam ou negavam a igualdade de direitos e a liberdade humana.

— Me LARG-!

O homem que estava em cima de mim deu outro tapa após a dolorosa mordida, antes de agarrar meu pulso e apertá-lo ainda mais. Uma onda de dor veio. Sabia claramente que meus braços ficariam doloridos por pelo menos alguns dias.

A Década Depois Da PrimaveraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora