Capítulo 08 - parte 02

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Dez minutos após o início do filme, tia Lu estava absorta assistindo ao filme com os olhos bem abertos e a cabeça sobre o meu ombro.

— Filho, como você consegue tolerar isso? É muito horrendo. — Tia Lu continuou olhando para o filme, assustada.

— É apenas um pouco de sangue, tia. Não se preocupe. — Olhei para ela e voltei a assistir ao filme.

O filme começou a entrar na parte mais assustadora, embora eu estivesse indiferente quanto a isso, tia Lu não sentia-se assim. A mulher continuava se encolhendo conforme o suspense ia aumentando. Ela parecia extremamente aturdida.

Ao invés de assistir ao filme, a observei atentamente. Assistindo suas reações, suas expressões e ouvindo seus gritos. O brilho da tela iluminava seus olhos e neles se refletia a cena do filme, reluzindo.

Quando o filme terminou, tia Lu ainda estava na mesma postura que ela mantinha enquanto assistia ao filme. Ela deu um grito quando o vilão surgiu na tela com um machado manchado de sangue dando início aos créditos finais. Não suportei mais, não consegui abafar minhas risadas enquanto a observava, ela estava engraçada. 

— Não ria de mim, não estou acostumada a esse tipo de gênero. 

— Desculpe, mas você estava muito divertida — Minha risada preencheu o lugar, enquanto tia Lu olhava-me chateada. — Certo, já parei. Viu? Agora vou para o quarto descansar um pouco — Beijei sua bochecha e sua testa, ela me deu o seu amoroso abraço de mamãe ursa e observou enquanto eu ia para o quarto.

Ultimamente eu dormia cada vez mais, tia Lu suspeitava de que havia algo errado. Mas já expliquei para ela que é natural dormir demais.

No começo, ela viu meus frascos de remédios e tive que mentir sobre eles, dei uma mentira aleatória para apaziguar temporariamente as suspeitas dela. Não queria que soubesse sobre minha saúde. Ela era muito curiosa, não podia negar.

Deitado na cama, olhei pela janela fenestrada, vendo que o crepúsculo já tinha praticamente caído por inteiro sobre a cidade, as estrelas brilhando de pouco a pouco sobre o céu, como pequenos diamantes reluzentes. Incitando-me a inspirar fundo distraidamente e observar os pássaros passarem voando por ali, de volta para seus ninhos. O clima morno deixado pela ida do sol e a chegada da lua, me cobriram como uma manta quentinha.

As cortinas azuis cristalinas dançando delicadamente com a pequena brisa do vento, saudando meu quarto e a mim. Acolhedor, foi o que pensei ao dar mais outra olhada ao redor... Jamais tive um quarto assim.

Como que uma deixa, senti o bebê se mexendo. Lembrando-me que não estou sozinho, esse pirralho não me deixava esquecê-lo. Antes disso, os seus movimentos mais pareciam umas tremidinhas, às vezes como borboletas voando pelo meu estômago. 

Com a palma da minha mão, fui acariciando lentamente o meu abdômen sentindo-me preenchido pelo amor paternal. E, mais uma vez, a criança se mexeu devagarinho dentro de mim, estávamos unidos não só pelo cordão umbilical, mas também por nosso amor puro, caloroso e leal. 

O amor que me mantia de pé, a criança por quem me transformei em escudo, e o laço de lealdade por quem inspiro e expiro, meu filho. Senti-me curioso sobre como será sua aparência, ainda não tinha parado para pensar nisso. Talvez ele fosse ser um mini Oscarzinho, ou vá herdar os traços de Dom… ou talvez não tenha traços de nenhum. 

— Honestamente, herde apenas os traços, não a personalidade. Porque a personalidade do seu pai é uma desilusão — pensei em voz alta, para que o bebê pudesse ouvir.

Dizem que após algumas semanas de gestação, o bebê já é capaz de ouvir o som da voz e até mesmo reconhecer a voz, isso parece loucura, mas Luciana falou ser verdade. 

— Bebê, seus olhos serão verdes claros como sua família paterna, ou não? Seus cabelos serão sedosos como os de seu pai, ou serão cacheados e rebeldes? E suas bochechas gorduchas e coradas? Suas mãozinhas gordas e sobrancelhas grossas? Talvez seja um gordinho mal humorado. — Estava ansioso imaginando isso, rindo carinhosamente.. 

Curiosidade mórbida me consumindo até que senti a criança dentro de mim chutando-me, como se estivesse protestando. E isso apenas me fez rir ainda mais!

Um sorriso materno desenhou-se em meus lábios. A porta se abriu e uma bela mulher surgiu nela. 

— Oscar, está acordado? Deseja algo? —  Luciana parou no batente da porta, neguei. 

Tia Lu fez a gentileza de apagar as luzes e recolher a bandeja com comida, deixando apenas a luz fraca da noite para iluminar meu quarto através da janela. Minha cabeça relaxou sobre o travesseiro e comecei a sentir-me sonolento. Minha mente foi gradativamente ficando grogue e meu diálogo mental foi ficando de lado.

Eu não percebi quando cai no sono, mas antes disso desejei que Dom não aparecesse agora. Não desejava vê-lo, não agora.

No escuro da minha mente, achei ter ouvido ruídos do lado de fora do quarto. Quis levantar para dar uma olhada, mas fui vencido pelo sono e perdi completamente a consciência.

Pela primeira vez em anos, dormirei como um bebê, anseio que seja assim.






Betagem por: Arabella_McGrath

A Década Depois Da PrimaveraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora