Capítulo 07 - parte 02

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— Quem é você? — A expressão de Otávio tornou-se solene.

— Meu nome é Oscar — disse com tom seco.

— Qual é a sua relação com a vítima? 

— Não tenho relação com a vítima. Eu estava passando e o descobri acidentalmente — respondi.

— Este é um canto tão escondido. Como você chegou aqui acidentalmente? — As perguntas do policial começaram a se intensificar.

— É minha primeira vez nesse bairro, não sou daqui. Vim apenas em um encontro com minha amiga na confeitaria aqui perto. Eu estava voltando para casa, mas me perdi tentando encontrar o ponto de ônibus — expliquei.

— Há alguém que possa provar isso?

— Sim, minha amiga. As câmeras da confeitaria, os clientes e os funcionários do lugar. — Olhei para o policial, que olhou para mim como se estivesse olhando para um criminoso. Eu não pude deixar de perguntar: — Policial, você está pensando que sou o criminoso que o machucou? Tente acordá-lo e pergunte para ele se ele sabe de algo, nunca o vi antes.

— Qualquer um pode ser suspeito. Buscamos sua cooperação — o policial Otávio respondeu com convicção e agressividade. Ele me fez rir com o desagrado da situação. 

— Por favor, pense em duas questões antes de suspeitar de mim. Em primeiro lugar, as roupas do bêbado estavam abarrotadas como se o criminoso o tivesse segurado e havia muitos pequenos ferimentos em seu corpo. Olhe ali e ali, veja, tem câmeras públicas que gravaram o momento em que cheguei aqui e tropecei nele, quando ele já estava desmaiado na grama. Em segundo lugar, olhe para sua estatura física e olhe para mim, um homem magro e fraco. Como eu poderia ter força para atacá-lo? Veja a espessura desse homem, sua altura, sua largura e o compare a mim. Veja o tamanho do meu abdômen, isso também iria interferir na hora de subjugá-lo e meus planos iriam por água abaixo. 

Otávio ficou mudo com as minhas palavras. Ele viu que eu não era uma pessoa comum. Meus pensamentos eram muito meticulosos e já havia notado muitos pequenos detalhes. Também fui capaz de apontar os problemas que muitos outros teriam ignorado. Ele fitou meu abdômen estudando-o, ainda sem dizer nada.

Não queria mais lidar com a polícia. Olhando para o relógio, percebi que já eram dez e meia. Dom talvez já teria terminado o trabalho e trazido para casa os meus pastéis, estou com fome e sem paciência. 

— Como a pessoa que denunciou este caso, você terá que vir à delegacia para responder a mais perguntas — o policial Otávio disse, me fazendo revirar os olhos. Um pouco distante de nós, o bêbado despertou e interrompeu nosso diálogo.

— Não foi ele que me atacou, policial. Foi a fadinha! — O bêbado ensanguentado olhou entre mim e o policial, meio aéreo, enquanto ele era socorrido por outros policiais. E então o homem voltou a perder sua consciência. 

No momento em que ambas as partes estavam em um impasse, Dom se aproximou de longe.  Ele olhou de relance para mim enquanto se colocava entre mim e Otávio.

— Sinto muito. Ele é um pouco imprudente, ele não sabe o peso de suas palavras. Por favor, não se ofenda, policial. — Sua voz era gentil.

— O quê você faz aqui? — Fiquei inquieto enquanto olhava para Dom. — Não esperava te encontrar novamente por aqui.

— Estava passando no momento quando te vi conversando com o policial, então decidi parar. Já estava indo para casa — explicou de costas para mim, olhando o policial.

— Você deveria ficar doente mais vezes — comentei, observando os seus ombros largos e sentindo sua vigente fragrância cítrica. O homem ficou em silêncio por alguns segundos e logo disse: "não confunda as coisas", me fazendo dar de ombros indiferente. E então eu o cutuquei e disse: "Obrigado marido, também te amo", ironizando sua resposta e provocando-o enquanto sorria inocentemente para ele.

A Década Depois Da PrimaveraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora