Capítulo 4

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Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o privilégio de ser livres.”

(Charles Evans Hughes)

 



NAQUELA TARDE CHUVOSA DE SEGUNDA-FEIRA DEPOIS DO Colégio, Timothy — o motorista — deixara-me em frente à minha casa vitoriana localizada na “Ferncroft Avenue, Hampstead”.

Eu dissera a ele que Bertha — a moça que era empregada e minha babá — estava lá e que eu preferia ficar em minha casa ao ficar no internato, que na época era entediante.

No dia anterior, Bertha chamara minha atenção, dizendo que minha tia estava preocupada comigo, pois se eu não comia e não estudava, viveria de quê?

Um soco teria doído menos.

                             🌸❄️

Depois de me trancar no quarto com um copo de água nas mãos, deixei as lágrimas rolarem por minha face e coloquei o copo em cima da cômoda.

Deixei-me cair no chão de madeira envernizada e comecei a soluçar.

Novamente eu voltava para casa com uma nota baixa.

Tia Samantha dissera que se eu voltasse para a casa com outra nota baixa, ela me devolveria ao orfanato.

Descalcei as sapatilhas azul-escuras que combinavam com o uniforme caríssimo e as meias três-quartos que eu usava e as atirei longe, sentindo as lágrimas rolarem por minhas bochechas.

Eu estava cansada.

Exausta.

Aulas de manhã, aulas à tarde e eu nunca tinha tempo para mim.

Como se todas essas aulas particulares adiantassem algo.

Minha tia estava jogando o dinheiro dela no lixo.

Eu piorava cada vez mais.

Eu não era uma boa aluna, não era uma boa colega – pelo fato de ser tão odiada – e muito menos uma boa sobrinha adotiva.

Se meus pais biológicos haviam me abandonado como muitos haviam me dito a vida inteira, com certeza era porque eu não havia sido uma boa filha.

Eu não havia sido boa o suficiente para eles, nem para Ethel – a primeira a me adotar –, nem para Gregory e Christine, nem para minha tia e nem para ninguém.

Muito menos para mim mesma.

Eu estava farta de só dar trabalho e farta de ter horário para tudo, menos para descansar.

Meu corpo e minha mente imploravam por descanso!

E minha alma também!

Enxuguei bruscamente os olhos com o dorso das mãos.

Quanta revolta sentia meu coração!

Minha vontade era de gritar até perder a voz e depois quebrar o quarto inteirinho.

Eu estava fora de controle!

Fora de mim… 

Peguei o copo d'água em cima da cômoda e entrei no banheiro, colocando o copo de vidro no mármore da pia.

Abri o armarinho, peguei uma caixinha redonda de calmantes que havia pego na enfermaria do Internato no dia anterior e o destampei. 

Eu não me importava se os comprimidos iam me fazer mal ou não. Eu só queria morrer!

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⏰ Last updated: Aug 22, 2023 ⏰

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