"Minha vida é um cemitério perfeito de esperanças enterradas."
(Anne de Green Gables)
NAQUELA TARDE DO DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2014, fechei a porta atrás de mim após entrar em meu quarto do Internato Hastward.
Suspirei e joguei minha bolsa rosa da Kipling na cama.
Em seguida, tirei o pesado casaco e a echarpe e os joguei na cama, ao lado da bolsa.
Eu não precisava usar casacos pesados, echarpes, cachecóis e nem gorros, mesmo assim, eu os usava por obrigação para não causar estranheza nas pessoas.
Eu não sentia frio, mas as outras pessoas sentiam e eu precisava me parecer com os outros, mesmo que isso me ferisse por dentro.
Passei os dedos entre meus cabelos compridos, lisos e loiros, na tentativa de tirar os resquícios de neve dos fios.
Havia sido difícil concentrar-me na aula de espanhol hoje.
Outra vez a hipnoterapia não havia dado certo.
Outra vez saí do consultório terapêutico sem respostas.
Como eu iria saber quem eram meus pais biológicos e principalmente sobre meu passado?
Sentei-me na cama e segurei meu colar de ouro, sentindo o toque gelado da joia entrar em contato com a pele de meus dedos.
O pingente era feito de letras elegantes que formavam meu nome.
Meu colar era a única lembrança que eu tinha dos meus pais e eu esperava que ele fosse uma pista que me levasse até eles.
Dirigi o olhar à janela e pude ver o Big Ben — a torre do relógio — no palácio de Westminster há vários quilômetros de distância do Internato.
Eu podia ouvir daqui o badalar do sino soando baixinho aos meus ouvidos devido à grande distância.
Olhei para a tela do meu celular e vi que eram apenas cinco horas da tarde.
Estava cedo.
Normalmente eu só chegava em casa às seis ou seis e meia.Ouvi a porta ser aberta, me virei na direção dela, vendo minha colega de quarto e melhor amiga: Gracie.
— Lily, sua tia está te chamando na sala dela. — Disse Gracie colocando uma mecha de seu cabelo cacheado atrás da orelha.
— Já vou. Obrigada, Gracie! — Me levantei da cama e parei ao lado da porta onde Gracie estava.
Gracie era modelo, e não era de se admirar, afinal, ela era linda. Sua pele negra não possuía espinhas — assim como a minha, só que minha pele era branca, ou seja, eu não conseguia pegar marquinha de sol quando ia nadar — e seus cabelos de cachos pequenos iam quase até a cintura.
❄️🌸
Bati levemente à porta da sala de tia Samantha, observando a placa com os dizeres “Diretoria”.
— Pode entrar. — Ao ouvir sua permissão, girei a maçaneta e abri a porta, entrando devagar. Em seguida, fechei a porta atrás de mim.
— Você me chamou, tia Samantha? — Questionei fechando a porta.
— Sim. Chamei você aqui para dizer que recebi uma proposta de emprego em Clear Beach. Uma cidade localizada no Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Minha cidade natal.
Assenti, tentando entender o que minha tia queria dizer.
Como se lesse meus pensamentos, ela concluiu:
ESTÁ A LER
Sussurros de Magia
FantasyLily foi encontrada inconsciente na floresta do Internato Hastward em Londres quando tinha apenas 4 anos pela diretora de lá. Samantha Wurtzel (a diretora) a levou para um orfanato. Após dois anos lá, Lily passou por dois lares adotivos até Samantha...