SEGUIR EM FRENTE

391 90 8
                                    

Naquela noite foi impossível dormir.

De algum jeito, agora que o dia da mudança havia chegado, cada vez mais eu tinha a impressão de que ir embora era a decisão errada. Não tinha volta. Minhas coisas estavam encaixotadas e eu tentava encaixotar mentalmente meus sentimentos junto com os objetos. Tinha que lembrar o tempo todo que, em última análise, Jungkook não estava lutando para me fazer ficar. Uma parte dele também queria esse cenário, porque a vida dele seria mais fácil se eu não estivesse por perto.

O forno que ele tinha me dado estava desligado em cima da bancada. Decidi ir ao apartamento ao lado devolvê-lo.

Com o cabelo despenteado e os olhos vermelhos, Jungkook parecia ter tido uma noite igualmente difícil. Seus músculos pareciam querer saltar da camiseta azul e justa.

— O que está fazendo? — ele perguntou.

— Devolvendo isto aqui.

— Está brincando?

— Não, é seu.

— Fica com ele, Taehyung.

— E se você precisar assar alguma coisa? O forno não vai estar mais no apartamento ao lado.

— Eu vou sobreviver.

— Prefiro que pegue de volta.

— Estamos mesmo discutindo por causa de um forno? Fica com ele. Leva de lembrança.

Acomodei melhor o forno nas mãos e cedi.

— Está bem. Falando desse jeito...

— Leva o forno de volta, depois vem tomar café com a gente.

Comemos em silêncio, sem tocar no assunto sobre o que aconteceria hoje. Jungkook levaria os cachorros para a casa da Jenna após o café, depois passaria o dia me ajudando com a mudança. Tínhamos combinado que eu não me despediria dos animais, que os trataria como se fosse um dia qualquer. Teoricamente, essa era a solução ideal, mas, quando me levantei para sair, eles me seguiram até a porta e eu poderia jurar que sabiam. A rotina era não me deixarem sair sem uma festa de lambidas, mas dessa vez durou mais. Eles também me deixaram abraçá-los, o que não costumava acontecer. Os Dois Ds sentiam alguma coisa, sem dúvida.

Limpando as lágrimas dos olhos, me recusei a olhar para Jungkook quando voltei ao meu apartamento para esperar meus pais. Também me neguei a olhar pela janela para ver Jungkook e os cachorros atravessando o pátio porque isso me faria chorar de novo. Eu precisava me controlar antes que meus pais chegassem.

                                          * * *

Era um dia nublado, e isso parecia adequado. O fato de estar mais frio também justificava a blusa de gola alta para esconder a marca no pescoço.

Meus pais tinham acabado de chegar. Como Jungkook havia ido buscar o caminhão alugado, eles ainda não o tinham conhecido.

Minha mãe embrulhou um vaso em plástico bolha.

— Você sabe que adoramos ver você, mas por que tudo isso hoje? Este apartamento é lindo. Por que se mudar?

Não contaria a história toda para eles, de jeito nenhum, por isso menti.

— Eu precisava mudar de ares, só isso.

Meu pai riu.

— Quanto esforço só para mudar de ares.

— Eu sei. Obrigado por terem vindo me ajudar.

Minha mãe me encarou.

— Está tudo bem? Não parece.

Querido VizinhoWhere stories live. Discover now