𝐈. 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝑢𝑚

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𝓣irar a tinta da pele e do cabelo não era uma atividade difícil, mas demandou algum tempo para que Chevrin não deixasse que nenhuma mancha ficasse esquecida

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𝓣irar a tinta da pele e do cabelo não era uma atividade difícil, mas demandou algum tempo para que Chevrin não deixasse que nenhuma mancha ficasse esquecida.

Ao estar limpo, só precisou se arrumar com roupas menos informais e descer as escadas de casa com alguma pressa. No primeiro andar, não passou sem dar explicações rápidas sobre não almoçar com a família – porque obviamente a sobrinha não havia saído em silêncio –, mas sua aparente pressa fez com que os parentes não o prendessem por muito mais tempo do que o necessário.

Do lado de fora, Benjamin aparatou para o destino mais próximo e seguro: o Square Barye, um parque municipal perto da Pont de Sully que atravessava o Rio Sena. De lá, andou por quase cinco minutos até parar na Quai de la Tournelle, exatamente em frente ao restaurante indicado na carta de Demetria. Primeiro ele olhou as horas no relógio – estava estranhamente atrasado –, depois procurou ao redor por qualquer pessoa que parecesse minimamente familiar, mas não achou.

"Onde ela está? Mais atrasada que eu, talvez?", o francês se perguntava em pensamento.

Esperar se tornou a única opção, então Chevrin o fez até que começou a parecer que Demetria havia encontrado outra companhia e esquecido de avisar ou então ido embora antes que chegasse. Era isso ou quando ela escreveu "estarei no La Tour d'Argent", queria dizer, literalmente dentro do La Tour d'Argent. Meio cético, Chevrin resolveu entrar no restaurante e, para sua surpresa, não foi muito difícil identificar uma loira se enrolando entre francês e inglês logo na recepção. Mesmo que involuntariamente, Benjamin começou a entender a situação antes mesmo de se aproximar.

Reservación? Ah, reserva! No, no reservación ━ Demetria falava com um sorriso, o forte sotaque americano impossibilitando a compreensão das palavras, não que estas tivessem sido corretamente pronunciadas.

Só disponibilizamos mesa mediante reserva... ━ A recepcionista ergueu uma sobrancelha e continuou na língua nativa, fazendo Howard piscar pelo menos duas vezes.

Desolé, fala anglés? ━ Demetria deu outro sorriso amarelo.

━ Sem reserva, sem mesa, senhora. ━ A mulher respondeu, dessa vez em inglês, para animação imediata de Demetria.

━ Obrigada! ━ E então, a loira voltou a si. ━ Não, espera! Só consigo mesa com reserva? Mas... Tem um monte de mesa vazia ali ━ Demetria apontou para algumas mesas no salão, possíveis de serem vistas de onde estavam ━, aposto que você consegue uma pra mim.

━ Sem reserva, sem mesa, senhora ━ repetiu a recepcionista, exatamente como da última vez, propositalmente.

━ Tudo bem, se é assim.... Eu posso reservar agora ━ a loira, já impaciente, retirou o celular da bolsa.

Antes que pudesse sequer desbloquear o aparelho, Demetria sentiu o peso do toque de alguém em seu ombro. Torceu que fosse o gerente pra resolver o problema, mas percebeu ao se virar que o rosto era muito conhecido pra ser mais um funcionário do restaurante. Apesar dos poucos pelos faciais, dos quais não estava lembrada, estarem lutando para nublar a lembrança que tinha de Benjamin Chevrin, Demetria não demorou para reconhecê-lo. Agora que prestava atenção, ele parecia a mesma pessoa que havia visto pela última vez há mais de três anos, não fosse a evidente redução na diferença de altura entre eles. Não só aquilo, mas a distância entre os dois também diminuíra, pois o francês se aproximara, mais do que era socialmente aceitável, pelo menos para americanos praticamente britânicos por naturalização.

Antes Que FosseWhere stories live. Discover now