um Deus que ama

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— Tudo bem. — ajeitou a postura e virou-se totalmente para ele. — O que foi aquele beijo? — indagou.

O Deus piscou algumas vezes.

— E então? — sua expressão demonstrava uma curiosidade e uma inocência exagerada, mas era genuína.

— Porque eu... Quis? — dessa vez o Deus surpreendeu o humano, talvez até a si mesmo, afinal, que raios de resposta era aquela?!

— E por quê eu lembrei de tudo depois disso? — tentou concentrar-se no importante.

— Eu tenho um palpite. — ele olhou para a televisão, que ainda estava ligada, mas apenas porque se sentia envergonhado.

— Qual?

— O destino quer assim. — sua destra segurou sua própria canhota e a massageou como um ato vicioso quando estava nervoso. Yibo olhou naquela direção também. — Talvez... Seja importante... Encontrar... Sua alma gêmea. — e mais uma vez Xiao Zhan agiu como um humano, mais especificamente, falou igualzinho Yibo quando se conheceram.

— Eu? — ele riu incrédulo e se levantou, suas sobrancelhas arquearam também. — Alma gêmea, Xiao Zhan?! — parecia que aquilo, de alguma forma, machucava o humano, toda vez que o Deus tocava naquele assunto, o menor sentia-se pessoalmente atacado, e dizer tais palavras de maneira tão descuidada, fazia-o ficar na defensiva. — Você disse que não podia ver sua própria marca e nunca viu a minha, por que de repente está dizendo isso?!

— Yibo... — ele também levantou, franziu levemente o cenho, afinal não entendeu de primeira a mudança de humor.

— Eu tô falando sério. — disse antes que o maior completasse. — Não brinca comigo desse jeito se for sumir ou morrer de repente. Não diga essas coisas sem ter certeza.

— Mas eu tenho.

— Como?!

Silêncio. Um silêncio ensurdecedor veio após a questão do menor. Parecia que a pergunta dita em um tom mais alto e mais indignado estava ecoando pela sala como um eco, até que o Deus processasse ela.

Zhan não sabia se havia feito o certo em dizer aquilo ao outro. Ele também tinha medo. Também estava inseguro, porque seu pai, o destino, resolvera, do nada, brincar com eles dois.

— Quando você desmaiou e eu te trouxe para cá, eu tive certeza. — por fim respondeu. Voltou a se sentar, sabendo que estava sendo observado atentamente pelo menor. — Eu tive muita certeza. Foi só um sentimento e você já sabe que eu sempre sei. De qualquer forma, foi o que eu disse antes, não precisamos de provas empíricas para saber se estamos ou não com nossa alma gêmea. É algo que se sente.

A feição do outro não parecia nada boa. Ele estava confuso, irritado, chocado e de repente essa expressão toda caiu em lágrimas. Uma solitária primeiro passou por sua bochecha, depois vieram mais, em um choro silencioso. Yibo virou as costas para o mais velho e colocou as duas mãos sobre o rosto, cobrindo os olhos principalmente.

No mesmo instante, Xiao levantou e calmamente abraçou-o por trás, não dizendo em palavras que estava ali com ele e por ele. Mesmo que fosse um ser celestial, não tinha ideia dessa dor do Wang, era algo que o garoto não podia evitar, era uma cicatriz da alma, o tipo que não curava facilmente.

E era exatamente por isso que o humano acabava com carma acumulado, por esse motivo ele não parava de reencarnar, porque todas as vezes que ele teve a oportunidade de se livrar dessa dor e deixar essa cicatriz se curar, ele negava e voltava à estaca inicial.

Fazia mais sentido agora para o maior. Mas era difícil culpá-lo por aquilo, porque o próprio teve uma certa dificuldade de deixar sua alma gêmea para trás, mesmo que não soubesse quem era, para poder se tornar um Deus. Não havia feito por mal, ele só queria seguir as regras e evoluir. Só não imaginava que fazer isso fosse deixar sua alma gêmea tão machucada, a ponto de que o destino tivesse que fazer algo a respeito.

A alma de Yibo não queria largar o mundo e a humanidade, porque aquilo era tudo o que tinha de lembranças com sua alma gêmea, e não sabia que poderia encontrá-lo depois que virasse um ser celestial ou outra coisa, suas inseguranças e incertezas o fizeram ficar para trás, porque tudo isso estava impregnado em sua alma, em seu espírito.

— Eu não sabia que era mais difícil para você. — Xiao sussurrou e fez o menor se virar para si, tocando seus ombros com cuidado. Segurou as mãos dele e as tirou de seu rosto, para poder segurá-lo.

Wang sentia-se envergonhado e chateado consigo mesmo, porque se deixou chorar na frente de alguém de uma forma tão humilhante, por um motivo que ele não sabia direito. Não conscientemente.

— Mas passou. — secou o rosto dele com os dedos. O toque era tão gentil e suave que Yibo sentia sua dor sumir aos poucos, como se uma ferida se cicatrizasse. Mesmo com olhos baixos, sabia que o outro lhe encarava com compaixão, talvez dor também.

— Desculpa. — sussurrou.

— Não é sua culpa.

— Eu não gosto de chorar... — ainda sussurrava. Estava realmente envergonhado, como se tivesse feito algo horrível e todos no mundo estivessem lhe encarando e julgando agora.

— Eu sei. — sorriu minimamente e segurou seu rosto novamente entre as mãos. Beijou a testa, depois a ponta do nariz, o que o fez sorrir também, até soltar uma risada tímida e tristonha. — Eu te amo.

— ... — apenas o olhou nos olhos, surpreso, sem dizer nada. Seu coração ficou feliz por ouvir aquilo. E em sua mente respondeu a confissão do mais velho, não conseguia dizer em voz alta. — Isso é muito... Sério.

— Eu sei. — Yibo o deu um soquinho no peitoral, porque Xiao estava apenas dizendo aquilo naquele dia. — Ouch.

— Eu também te... — não terminou de dizer. — Você sabe.

— Mas eu quero ouvir.

— Não. — negou.

— Tudo bem. — riu e deixou um breve selar nos lábios dele. — Uma hora você vai dizer.

— Hm.

GOD || YiZhanWhere stories live. Discover now