um Deus doente

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Yibo o visitou todas as vezes que podia. Ia pela hora do almoço e eles comiam juntos, conversavam um pouco e depois o garoto ia para a faculdade, e aos sábados voltava para o trabalho. Foi assim por duas semanas. Às vezes Xiao Zhan tinha algumas crises de gripe, mas com ajuda médica melhorava, o humano ficava realmente preocupado com aquilo.

Dessa vez os dois estavam na cafeteria do hospital.

— Você não pode morrer, pode? — Yibo questionou, enquanto mais brincava com o chá gelado, mexendo o canudo, do que bebia-o.

— É claro que posso. — olhou-o em silêncio. O Wang parecia chateado. — Deveria fazer novos amigos.

— Por quê? — também o olhou. — Tudo o que começa termina e tudo o que é bom desaparece. Então... Por que eu deveria amar pessoas se vai doer quando forem?

— Para não se sentir sozinho.

— Mas... Eu vou me sentir sozinho depois que forem.

— Não vai. — sorriu gentilmente. — Essas pessoas sempre estarão aqui. — tocou o próprio coração, naquele mesmo instante sentiu uma dor aguda no local e até se inclinou um pouco para frente.

— O que foi? Tá tudo bem? — Wang deixou o copo do chá sobre a mesa e levantou-se para chegar mais perto do outro. Seu coração acelerou mais uma vez por causa de Xiao Zhan e dessa vez era por medo, preocupação, de perdê-lo. — Doutor! — quando Zhan não respondeu, o jovem chamou por um médico que passava tranquilamente, logo o Deus foi atendido.

Passaram-se por volta de duas horas até que Xiao Zhan estivesse no quarto novamente, depois de alguns exames. Yibo esperava pacientemente no banco do corredor até que um médico veio até ele.

— É familiar dele? — indagou, fazendo Wang levantar a cabeça para olhar, logo ergueu-se sobre os pés.

— Não exatamente... — murmurou. — Mas sou a única pessoa que ele tem aqui...

— Tudo bem. — o doutor olhou para uma pasta que segurava e uma folha que estava por cima. — Ele tem endocardite bacteriana. Não sabemos de onde veio, já que faz um bom tempo que está no hospital, acho que foi erro nosso... — culpou-se. — Mas é curável. O tratamento dura quatro semanas e apenas vai precisar de antibióticos intravenosa.

— O que é exatamente essa doença...?

— Bactérias se alojaram nas válvulas do coração, foram por meio da corrente sanguínea. Não sei como chegou à esse ponto tão rápido...

— Ele vai ficar bem?

— Tudo indica que sim. Precisamos do resultado de alguns exames antes de dizer se ele vai precisar de uma cirurgia ou não.

— Cirurgia?!

— Se estiver em um estado mais avançado, vamos precisar fazer uma troca valvar. Mas não se preocupe, o risco de morte é muito baixo.

— Tudo bem, obrigado doutor. Eu posso ver ele?

— Claro. Acho que vai estar um pouco sonolento por causa do remédio. — fez uma reverência e saiu de lá.

O jovem suspirou antes de entrar no quarto. Viu Zhan de olhos fechados, com o tal remédio já na veia do braço esquerdo. Tudo aquilo era culpa dele, era o que pensava.

— Não é sua culpa. — ele sussurrou e ergueu a mão direita para Yibo, sem abrir os olhos. O garoto se aproximou e segurou sua mão.

— Acho que tenho um pouco de culpa, sim. — veio um silêncio em seguida. Zhan virou a cabeça lentamente para poder ver o mais novo. — Você sabe o futuro?

— Deus finge que não sabe de nada. — foi a resposta dele.

A esse ponto o menor já estava com os olhos marejados de lágrimas. Ele estava mais sensível, odiava aquilo, mas sentia que podia chorar se sem querer acabasse pisando em uma formiga. Foi quase impossível conter uma lágrima teimosa, que escorreu por sua bochecha.

— Não se preocupe, xiao, se algo acontecer, vou apenas voltar para onde eu saí.

— Só meu pai usa esse apelido comigo ainda. — riu entristecido. — Eu não sou tão pequeno mais.

— Claro que é.

Você precisa mesmo morrer?

— Não morro, sou imortal, esqueceu?

— Mas... Você vai embora.

— Por que está preocupado com isso agora? Ainda estou aqui, deixe esses pensamentos para depois.

— ... — assentiu minimamente. — Eu acho que me apeguei a você, mesmo com pouco tempo.

— Isso é normal. — soltou a mão dele e olhou para o lado oposto, onde estava a janela. Nevava. — É a última neve do mês.

— Se a primeira neve significa passar a eternidade com a pessoa, o que significa a última? — limpou a lágrima teimosa e engoliu o choro. — Que nunca mais vou ver essa pessoa?

— Você anda pessimista, Yibo. — não conseguiu conter a risadinha. — Isso vai depender de você e somente você.

— Ah... — suspirou.

— Não precisa ir estudar?

— É... — olhou a hora no celular e depois o guardou no bolso da blusa. — Eu queria ficar aqui.

— Eu vou dormir, enquanto isso, estude.

— Certo. — fez uma curta reverência e virou-se para sair.

— Yibo? — chamou quando ele estava na porta. — Tudo é ciclo. Sabe o significado de ciclo, certo?

— É algo que sempre se repete.

— Sim. — sorriu. — Uma linha reta tem fim, um ciclo, não.

Ele franziu o cenho um pouco confuso com aquela frase, mas assentiu e acenou com a mão antes de ir.

GOD || YiZhanWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu