cap. 1

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-Harry Potter
Duas semanas antes do acampamento.

Uma ação pode desencadear mil reações, que dependendo da sua sorte, podem ou não ser absurdas. Eu não tenho sorte, não tenho pais e com certeza sou vítima de uma dessas ações, que me levaram a estar aqui, fumando um cigarro no ponto mais alto da cidade, depois de extravasar todas as minhas energias andando de skate. Mas ei, eu com certeza não sou um viciado, apesar de fumar todas as vezes em que fico sufocado e com pensamentos intrusivos demais.

Com tantas coisas para discutir, como o que vou fazer da minha vida e se vou ou não ser aceito na universidade, a única coisa que consigo pensar é em porque perco todas as pessoas por quem crio sentimentos profundos. Odeio minha mente por não conseguir pensar nos nomes das pessoas que não perdi, que estão comigo, que me amam o suficiente para sempre se preocupar com tudo o que faço.
Acho que estou fadado a autodestruição.

Me levanto, arremesso a bituca morro abaixo e me permito observar Seattle por alguns segundos, é uma visão privilegiada daqui. Entretanto, tenho compromissos, então viro as costas e refaço o caminho até poder chegar em casa, moro em Eastside, uma região do subúrbio, em uma casa que pertencia aos meus pais. Sempre morei com meus padrinhos, com que vou jantar hoje, mas quando completei idade suficiente para ter uma casa em meu nome, passei a morar sozinho. Não fiz isso porque sentia que devia a James e Lily, nem porque Remus e Sirius estavam guardando o lugar à espera da minha decisão, mas porque eu quis. Porque queria construir memórias tão boas quanto as que foram deixadas lá.

-Escolha carbonara. Está me ouvindo? Carbonara. - Ouço a voz de Sirius pelo telefone, já em casa, enquanto jogo algumas roubas na máquina de lavar e me esforço para equilibrar o amaciante e o celular na outra mão.

-Estou te vendo pela janela da lavanderia, Sirius. Andando de um lado para o outro e... ops, está olhando para mim também. - Digo, largando o amaciante e o celular no viva a voz para acenar compulsivamente. - Sabe que não pode me ligar todas as quartas-feiras só para garantir que o jantar vai ser o que você gosta, né? As vezes eu também quero escolher.

"Todas as quartas-feiras", isso porque nesses dias mantemos uma tradição de quando meus pais ainda eram vivos, tipo uma noite de jogos ou coisa do tipo. Remus e minha mãe criaram ela, para que sempre pudéssemos nos unir, e nenhum de nós seria capaz de desfazer isso.

-Qual é? Você se formou semana passada, fomos no burguer king com o Neville e a Hermione, porque você quis. - Diz, e eu tenho que concordar, aquela noite foi muito incrível, ainda tenho a foto que tirei de Sirius com duas batatas na boca fingindo ser garras. - Acho que o Remus 'tá vindo, tenho que desligar pudimzinho, vem logo 'pra cá e 'vê se escolhe carbonara.

Faço uma careta e espero que ele consiga ver, pudimzinho é o apelido que nossa vizinha idosa carinhosamente me deu após ajudá-la a carregar as compras até sua casa. Para minha sorte e alegria, Sirius estava junto e ouviu essas lindas palavras serem ditas.
Depois dessa conversa, decido tomar uma ducha e acabar com todo cheiro de cigarro que possa estar em mim, escovo os dentes cinco vezes e em seguida, atravesso os longos sete metros de distância entre nossas casas.

-Que bom que chegou, Harry. - Lupin diz, logo depois de me abraçar e pedir para que eu entre, já que decidi bater na porta hoje, uma gentileza que costumo ignorar. - Já estou de saída, vou comprar as coisas para o jantar, vamos fazer espaguete, carbonara ou ao molho branco?

Quando estou prestes a responder, vejo a silhueta de Sirius aparecendo da porta da cozinha, com um olhar sugestivo que dizia: "Carbonara! CARBONARA!". Tento não demonstrar nenhuma reação sobre o que vi e dirijo novamente meu olhar ao Remus.

-Carbonara! Nossa, eu amo carbonara, sabia?. - Digo, e a julgar pela expressão do cara a minha frente, não fui tão convincente quanto achei. - Só... vamos fazer carbonara! Por favor.

Continuo fazendo a cara mais próxima de cachorro abandonado que consigo até que Lupin saia, e quando a porta se fecha, ouço sua risada nenhum pouco discreta.

-Pelo menos ele vai fazer seu carbonara, né? - Digo para Sirius, meio constrangido, enquanto ele me observa, prestes a rir da minha cara.

...

Sirius me contava que meus pais costumavam discutir sobre o espaguete dever ou não ser quebrado, de uma forma animada, e que fazia a todos rir. A única coisa que ele não me contou é quem achava o quê, portanto criei uma opinião só minha. Não se quebra o espaguete, mas o come com a faca, então você vai quebrá-lo de alguma maneira.

Faço isso enquanto estamos sentados à mesa jantando, corto meu espaguete e sei que posso estar arrancando um pouco do coração de Sirius a cada facada, já que carbonara é algo sagrado em sua alimentação.

-Harry, precisamos conversar. - Quando levanto os olhos do prato e olho para Remus, acho que engulo o que estava comendo e derrubo os talheres. Será que ele sabe que ando fumando? Merda, não posso decepciona-los. - Não, calma, por favor, não é nada sério demais.

Respiro fundo. Olho para Sirius, recupero meus sentidos e me limito a comer mais uma garfada do macarrão. Deve ser sobre a faculdade, isso eu posso aguentar.

-Não vamos te enxotar daqui e jogá-lo na faculdade, respira aí. - Sirius me tranquiliza com uma piscadela, bebe um pouco do seu vinho e encontra meu olhar novamente. - Na verdade, é sobre seu último verão.

-Último verão? Estão planejando me matar? - Digo, balançando o copo de suco como se estivesse desesperado. Até que sei fingir bem.

-Não, para de ser idiota, você é mesmo uma cópia do James. - Remus diz, soltando um riso nasalado. - Último verão quer dizer o último antes da faculdade, da triste vida adulta que te espera depois daqui. O último verão depois de terminar o ensino médio, Harry.

-Seus pais e nós passamos nosso verão em um programa de acampamento, aqui em Seattle mesmo, e gostaríamos de passar essa "tradição" a você. - Sirius sorri para mim, como se estivesse me encorajando a tomar essa decisão. - Eu costumava chamar de "verão sem regras", claro que tem aqueles caras que se dizem instrutores e o caralho, mas é para você curtir, curtir mesmo. - Vejo Remus fazer uma careta para os palavrões, mas quando Sirius termina, sorri em concordância.

-E bem, acho que é um dos últimos desejos de seus pais para você. Lembro do quanto Lilian e James desejaram que aquilo fosse algo que seu filho pudesse viver também. - Quando Remus disse isso, não tratei como uma chantagem emocional, mas por alguns segundos tentei imaginar meus pais e meus padrinhos tendo uma conversa profunda sobre o que seus filhos poderiam ou não viver.

Quando olho novamente para eles, tenho dois homens me encarando em expectativa, como se eu estivesse prestes a decidir se ia puni-los com a forca ou deixá-los viver.

-Eu posso... eu até vou. Mas com uma condição. - Eles esperam, pacientemente, eu dar continuidade a minha resposta. - Hermione e Neville vão junto.

The Last Summer - HinnyWhere stories live. Discover now