17. Pequenos desentendimentos

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⚘|17. Pequenos Desentendimentos

ENQUANTO EU ESTOU SENTADA NA RESIDÊNCIA BLYTHE, eu penso o quanto odeio funerais. As pessoas à minha volta conversam sobre o falecido, expondo suas opiniões aos quatros ventos. Como se conhecessem tudo sobre a vida dele.

Vejo Ruby chorando encolhida num sofá, abraçada a Diana Barry. O Sr. Blythe era mesmo uma pessoa muito querida em Avonlea.

Porém, Marilla parece estar realmente sofrendo, eu sinto a dor dela. Meu pai parece estar sofrendo também, eles eram amigos. Entretanto, algumas pessoas parecem falsas.

E ainda sim, aqui estou eu, olhando para a decoração da casa, com a maior expressão desinteressante. E estou pensando nele. A dor dele, eu só quero ajudá-lo. Mas ele não está aqui, talvez Gilbert só queira ficar sozinho.

Um vinco se forma em minha testa enquanto me perco em devaneios. "Minha vida é um perfeito cemitério de esperanças enterradas". Essa frase de Anne nunca fez tanto sentido para mim quanto agora.

━ Querida você quer alguma coisa? ━ Uma mulher aparece no meu campo de visão me fazendo erguer a cabeça para encarar os aperitivos em uma bandeja.

Eu nego com a cabeça, vejo ela se dirigindo para Marilla. A minha amiga ruiva olha para a mais velha, com um olhar de empatia questionador sentada ao seu lado. Acho que ela deve estar se perguntando porque a Cuthbert parece tão triste.

Ao meu lado, minha tia Jessie segurando Julius, meu primo, em seu colo conversa com minha mãe sobre John Blythe. E meu pai em outro canto da sala parece estar tendo uma conversa muito interessante com Matthew Cuthbert.

As vozes do amontoado de pessoas com vestes pretas conversando na sala se enrolam na minha cabeça

Meu irmão que está ao meu lado no sofá, olha para tudo curioso, até parar seu olhar em Minnie May, a pequena irmã de Diana que está ao seu lado do outro lado da sala.

A pequena criança de quatro anos veste um vestido preto para o funeral, e deixa seus cabelos loiros caírem em cascatas emoldurando seu pequeno rosto. Ela come um dos aperitivos parecendo satisfeita e não entende mais que Alec da situação que está acontecendo na sala.

Depois de alguns segundos em silêncio a encarando timidamente, Alec se aventura a ir até ela, balançado seus cabelos negros me deixando para trás e nem sequer avisando a sua partida.

Eu olho curiosa a interação da menina e do menino, Minnie May olha para Alec interessada e confusa enquanto o menino já gesticula alegremente para a loira.

━ Como você está? ━ Desvio meu olhar dos dois ao escutar a voz da minha amiga.

Não percebi que Anne havia tomado o lugar ao meu lado no sofá marrom-claro.

━ Bom eu... realmente odeio funerárias ━ respondo sem saber exatamente como respondê-la, como eu deveria estar me sentindo?

Seus olhos cinzas me encaram preocupados e compreensíveis. Quem seria melhor para entender do que Anne?

━ Eu entendo, perder alguém deve ser uma dor tão grande... se eu tivesse conhecido meus pais e perdido eles. Mesmo assim não posso evitar de pensar que Gilbert tem sorte de pelo menos ter conhecido seu pai ━ a ruiva completa com certa melancolia na voz.

Instantaneamente fico triste por Anne, céus, eu tenho dois pais vivos que me amam muito. E agora eu me sinto egoísta por não dar o valor devido a eles. Quem me garante que eles vão estar para sempre aqui? E pensar nessa possibilidade dói, dói muito.

SERENDIPITY ⇝ Gilbert BlytheDonde viven las historias. Descúbrelo ahora