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Amélia ainda se lembrava da última vez em que sua loba havia surgido, a forma como seu corpo havia se retorcido de dentro para fora e a dor de sentir toda a sua pele rasgar que mesmo distante ainda a deixar sem ar.
Tinha sido uma noite difícil e fria e os gritos de Theo a fazia se encolher contra a parede, ele exigia que ela o obedecesse que ela se transformasse.

Ele gritava sobre como ele era seu alfa, como ele a tinha criado, como ela o pertencia, como devia a ele sua existência. Theo exigia de Amélia algo que ela se quer conhecia, algo que ela não entendia, ela nunca conseguiu o entender. Mas naquela noite quando as mãos de Theo a acertaram os dentes afiados dela revidaram o pegando de surpresa.
Amélia nunca deveria ter revidado, nenhum lobo revidava um alfa. Mas naquela noite ela não se curvou para ninguém, ela quebrou as correntes que a mantinha prisioneira e mutilou o rosto de Theo para sempre. Ela conseguiu fugir de todos os lobos que a seguiram correndo o mais rápido que pode, ela sabia que teve sorte. Todos aqueles homens estavam doentes e a maioria dos recém transformados ou estavam mortos ou tão insanos que se quer conseguiam seguir ordens.

Theo foi o único que chegou perto de conseguir agarrá-la mesmo com um olho completamente destruído, foram as árvores que a ajudaram a escapar. Na escura floresta correr em zigue zague foi sua única estratégia para o enganar, ele podia não ver bem para onde ia e essa era sua maior vantagem. Sua loba não parou de correr mesmo depois que Theo havia a perdido de vista, ela não parou de correr até seu corpo desabar sobre as águas de um pequeno riacho do qual ela não conseguia se lembrar como o encontrou.

Talvez Amélia tivesse vivido em estado catatônico todos aqueles dias em que esteve presa, porque na margem daquele pequeno rio o entendimento de toda a violência e dor que lhe foi causada finalmente a preencheu. Presa em um corpo que não lhe pertencia, na pele de um monstro tudo que ela conseguia sentir era terror e pavor. Foram semanas até que ela conseguisse voltar ao normal, semanas até ela conseguir encontrar uma cidade e pedir ajuda, semanas até que ela conseguisse processar tudo o que passou e entender que ela precisava voltar a correr.

Amélia enterrou aquela fera fundo dentro de si, enjaulada distante o suficiente para que nunca mais pudesse assumir o controle de seu corpo, mas também longe o suficiente para que Amélia nunca conseguisse a encontrar.
E apesar de todo o medo que ela sentiu, do pavor da ideia de nunca mais poder ter controle de seu corpo de volta ela tinha que admitir a si mesma que quando aquela loba assumiu sua pele naquele porão nojento foi a primeira vez em toda a sua vida em que Amélia teve coragem para lutar.
E coragem era tudo o que ela precisava agora, o soluço de Jason se tornou mais alto a medida que Theo permanecia tentando a atrair, Amélia sabia que ele podia derrubar a porta facilmente, mas ele preferia provocá-la.

- Eu não estou sozinha.- a voz de Amélia soou trêmula e os arranhões cessaram. - Jason está aqui.

Os pequenos braços do menino apertaram com mais força suas pernas.

- Jason está aqui comigo! Ele está aqui!- Amélia gritou esperando algum tipo de reconhecimento de Theo.

Mas se ele chegou a reconhecer o nome de seu próprio filho ela nunca soube porque algo havia quebrando uma das janelas da sala a fazendo notar que para ele pouco importava quem estava ao seu lado.

- Venha para fora docinho e eu deixo o menino ir.- Theo a instigou.

Amélia respirou fundo antes de tomar qualquer decisão, não era seguro de forma alguma confiar em um mentiroso, trapaceiro como Theo mas ela não podia prolongar ainda mais aquela situação. Não quando a pessoa mais importante no mundo para Hunter estava chorando abraçado em suas pernas. Amélia teve que chegar a conclusão de que se ela não podia confiar em Theo talvez ela pudesse o distrair tempo o suficiente para que Jason pudesse fugir.

Perigo Ardente - Série Lobos De Lakeville Livro 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora