CAPÍTULO 14

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   — Bom... Acho que já vou indo então. — Aperto o guidão da minha bicicleta e encaro Rhaví, em pé na minha varanda. A mochila nas minhas costas parece pesar uma tonelada, e pra falar a verdade não estou com a mínima vontade de ir pra escola quando tenho Rhaví aqui comigo.

    O clima ainda está fresco, mas acredito que sequer passaram dos 19° graus (estou com um estranho hábito de ficar chegando a temperatura de vez em quando, porque Joe havia dito que eles se transformam com uma temperatura próxima de 10° gruas, podendo variar um pouquinho pra cima ou pra baixo).

    Rhaví desce a série de degraus da varanda e vem até mim em passos silenciosos e elegantes, movendo aqueles suas pernas torneadas como um modelo. Ele se inclina levemente sobre mim, agarrando a minha cintura com as duas mãos antes de selar nossos lábios em um beijo terno e delicado, que me faz suspirar baixinho, querendo soltar a bicicleta para toca-lo de alguma forma com as minhas mãos.

    — V-você vai estar aqui quando eu voltar, certo? — Sei que ele já disse que sim, mas não consigo evitar e pergunto de novo.

    — Vou dar uma volta na floresta, mas estarei por perto quando você voltar. — Ele explica, enfiando as mãos nos bolsos da calça do pijama e fazendo ela deslizar um pouquinho mais para baixo, deixando ainda mais à mostra aquela trilha fina e deliciosa de pêlos negros que começam no seu umbigo, contra a sua pele de um marrom tão escuro que é do exato tom de chocolate.

     — Okay. — Confirmo com um aceno curto.

    Rhaví me dá outro beijo rápido, então subo na bicicleta à contragosto e começo a pedalar pela estrada de areia, encarando-o pelo retrovisor e sentindo ele encarar as minhas costas. Eu não consigo evitar o sorriso bobo que cruza o meu rosto, porque estou tão feliz que sequer consigo lembrar a última vez que estivesse assim. Não que eu seja uma pessoa triste, porque definitivamente não sou, mas quando estou com ele, eu... Não consigo explicar direito. É como se não precisasse de muito para que o sentimento de felicidade triplique, basta um beijo, um olhar... Qualquer coisa vindo dele.

      Começo a pedalar com um pouco mais de rapidez, aproveitando as descidas que há pelo caminho para ganhar mais velocidade. O vento faz o meu cabelo balançar sem parar, e a sensação de liberdade é simplesmente maravilhosa. Minha mãe provavelmente faria eu usar capacete e cotoveleiras (porquê sou desastrado o suficiente para cair pelo menos uma vez por semana), mas confesso que odeio usar aqueles negócios, fora que não vai ser uma quedinha na areia fofa dessa estrada que vai me machucar.

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   Confesso que não prestei muita atenção na aula, mas como hoje não tinha nenhuma atividade importante, me permiti ficar flutuando nas nuvens da minha imaginação durante cada um dos horários, voltando ao planeta Terra apenas quando Cristian estava falando comigo e na hora do intervalo.

     — Tchau, bocó! — Ele se despede de mim me dando um tapinha na nuca assim que a aula acaba e nós caminhamos com tranquilidade para fora da escola.

    — Até amanhã, Cris. — Respondo, dando um soquinho no seu ombro e observando ele pular em cima do skate e começar a se afastar de mim com uma habilidade e equilíbrio sobrenaturalmente impressionante, fazendo algumas manobras radicais e lançando-me uma piscadela sacana à medida que se afasta, me fazendo revirar os olhos enquanto destranco o cadeado que prende a minha bicicleta no poste onde ela está acorrentada.

    Apesar de querer chegar em casa o quanto antes, vou empurrando sem muita pressa a mim bicicleta pela rua asfaltada do centro da cidade, dando boa tarde para algumas pessoas simpáticas que andam pela calçada e observando as lojas de ambos os lados da rua. A maioria delas é de roupa e calçados, mas não tenho muita vontade de comprar nada, já que gosto de todas as minhas roupas, e apesar delas e dos meus tênis já estarem um pouquinho velhos, eles ainda vão servir por um bom tempo.
   
     Paro de empurrar a bicicleta assim que avisto uma pequena farmácia no fim da rua, que é a última loja antes da área residencial. Engulo em seco ao pensar no que Rhaví e eu fizemos ontem a noite e hoje de manhã. Será que eu deveria comprar... Camisinhas?

     Um tremor incerto cruza o meu corpo enquanto debato sobre isso, fazendo o meu rosto arder de vergonha. Será que ele quer fazer isso comigo? E apesar de não conhecer muito sobre isso, eu definitivamente iria gostar de fazer com ele. Só de imaginar nós dois fazendo isso... O meu coração dá um salto desenfreado.

    Talvez seja um pouco cedo pra isso, mas não custa me previnir antes, né? Além disso, existem caras por aí que marcam pra transar por aplicativo sem sequer terem vistos o rosto do parceiro antes! (Não que seja o nosso caso).

     Eu deixo a minha bicicleta encostada em um poste e entro na farmácia, que apesar de ser pequena, é bastante aconchegante. Estou com um pouquinho de vergonha, então finjo analisar algumas caixas de remédios, vitaminas e suplementos, como se não tivesse o que quero comprar em mente ainda.

    Olho de relance para a moça do caixa, que aparenta ter uns vinte cinco anos. Ela é loira e tem olhos de um azul frio, apesar de ser bonito, assim como seu rosto anguloso.

    Eu engulo em seco e caminho até a prateleira onde as camisinhas estão dispostas. Estou com tanta vergonha que sequer leio o que tá escrito nas embalagens para saber qual é o sabor ou qualquer que sejam as outras diferenças que há de uma pra outra. Pego duas embalagens e caminho até o caixa meio sem jeito, sentindo o olhar da moça sobre mim.

    Ela passa as camisinhas no caixa, demorando bem mais do que o necessário, alternando o olhar entre elas e eu, me fazendo desviar o olhar e encarar qualquer coisa no interior da farmácia que não seja o seu rosto.

     — 5 dólares e 36 centavos. — Ela diz, então enfio as mãos nos bolsos para procurar o dinheiro, me embaralhando todo no processo. Eu retiro uma nota de 10 e entrego para ela, que devolve o troco segundos depois.

     — O-obrigado. — Agradeço, pegando as camisinhas e enfiando-as em um dos bolsos da minha mochila.

     — Eu que agradeço, Xuxu. Aproveite bastante sua compra. — Diz ela, antes de soltar uma risadinha amarga e piscar para mim. Eu engulo em seco e praticamente corro para fora da farmácia, pegando a minha bicicleta e subindo nela rapidamente, querendo abrir o máximo de distância possível dali, como se isso fosse diminuir a minha vergonha.

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QUANDO O INVERNO ACABAR Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin